Dois hambúrgueres, alface, queijo e molho especial, cebola e picles num pão com gergelim. Certamente você conhece o Big Mac, sanduíche carro-chefe do McDonald’s. Mas você já ouviu falar do Índice Big Mac? Tem algum palpite de por que uma plataforma sobre economia está falando disso? Vem cá que a gente explica.
O índice foi criado em 1986 pela The Economist, publicação tradicional britânica, com o nome “Big Mac index“, em inglês. Em resumo, ele se baseia no preço que um Big Mac custa em determinadas regiões para comparar o poder de compra entre os locais.
Para sua elaboração, a The Economist levou em conta que o McDonald’s, maior rede de lanchonetes do mundo, é conhecida pela consistência de seu cardápio, presente em 119 países.
Ainda que a rede tenha itens especiais em alguns lugares (como o “McLagosta“, no Canadá e na França; ou até o Cheddar McMelt, no Brasil), itens como os “McNuggets”, as batatas fritas e o próprio BigMac estão no cardápio fixo de quase todos os MCs do mundo; e são feitos com os mesmos ingredientes e métodos. Ou seja, têm um custo de produção semelhante.
Por outro lado, despesas que variam muito entre as regiões, como aluguel e salário médio dos funcionários, também influenciam nos preços dos sanduíches — uma das imperfeições do índice.
Mas de onde surge a comparação?
A referência é o preço do sanduíche nos EUA — US$ 5,67, em janeiro deste ano. Depois, a lista é montada comparando os preços do Big Mac em dólares em diferentes países do mundo.
Digamos que o valor do lanche em um país, depois de convertido para dólares, é maior do que o preço nos Estados Unidos. Esse país teria, então, um maior poder de compra — caso apenas da Noruega e da Suíça. Já em todos os outros 53 países analisados, o poder de compra seria menor que o dos estadunidenses.
Essa comparação, que considera apenas o preço absoluto do sanduíche em dólares, é uma das duas formas utilizadas pela The Economist para organizar o índice. Nessa modalidade, o Brasil, onde o preço do lanche é R$ 19,90, ocupa o sétimo lugar do Índice Big Mac. Dá uma olhada nos 10 primeiros colocados em janeiro deste ano:
País | Moeda | Valorização / Desvalorização |
---|---|---|
Suíça | Franco Suíço | 18,4 |
Noruega | Coroa Norueguesa | 5,3 |
EUA | Dólar Americano | Moeda base |
Suécia | Coroa Sueca | – 4,0 |
Canadá | Dólar Canadense | – 8,6 |
Israel | Novo Shekel | – 13,3 |
Brasil | Real | – 15,3 |
Uruguai | Peso Uruguaio | – 15,7 |
Área do Euro | Euro | – 19,2 |
Dinamarca | Coroa Dinamarquesa | – 21,3 |
Ajustes com o PIB
Mas a publicação também apresenta uma outra versão do índice, que inclui na conta o Produto Interno Bruto (PIB) per capita.
Funciona assim: o PIB per capita nada mais é do que a riqueza de uma nação (PIB) dividida entre seus habitantes (per capita, “por cabeça” em latim).
E faz sentido concluir que, quanto maior é a “riqueza” de uma população — ou seja, quanto mais dinheiro as pessoas tiverem disponível para comprar coisas —, maior será o poder de compra dos habitantes.
Pensando nisso, vemos que a relação entre as moedas de duas nações não é o único fator que determina quem tem o maior poder de compra.
Não tem a ver apenas com o valor que uma moeda, a exemplo do real, custa em dólares; mas também com a quantidade de reais que um habitante tem em média.
Em 2019, o PIB per capita do Brasil foi 40% menor que o dos Estados Unidos. Em termos de Big Mac, isso significa que é ainda mais difícil para um brasileiro comprar o sanduíche, considerando o valor do sanduíche e a quantidade de dinheiro que um habitante costuma ganhar.
Esta organização do índice, chamada de “ajustada pelo PIB”, é considerada mais precisa do que a primeira. Mesmo assim apresenta falhas, já que o PIB per capita não considera a desigualdade de renda de uma nação. Com esse ajuste, o Brasil passa a ocupar a primeira colocação do índice. E bem distante do segundo lugar, a Tailândia, como mostra a tabela abaixo.
País | Moeda | Valorização / Desvalorização |
---|---|---|
Brasil | Real | 42,0 |
Tailândia | Bate | 14,4 |
Colômbia | Peso Colombiano | 10,2 |
Paquistão | Rúpia Paquistanesa | 9,4 |
Peru | Novo Sol | 8,4 |
Canadá | Dólar Canadense | 4,3 |
Israel | Novo Shekel | 2,9 |
Suíça | Franco Suíço | 2,8 |
Suécia | Coroa Sueca | 2,6 |
Estados Unidos | Dólar Americano | Moeda base |
É possível, ainda, comparar o tempo médio de trabalho necessário para se comprar um Big Mac em diferentes regiões. Esse formato não é realizado pela The Economist, e costuma listar cidades, e não países. Em 2018, era necessário trabalhar, em média, 52 minutos para comprar o sanduíche clássico em São Paulo. No Rio de Janeiro, 56 minutos.
Vamos falar em Economês agora, mas prometo que vai ser simples. O Índice Big Mac é baseado na Teoria da Paridade do Poder de Compra (PPC), usada, como vimos lá em cima, para comparar o poder de compra entre dois lugares.
É um jeito mais ilustrativo de comparar duas moedas, uma vez que você avalia o que aquela moeda pode comprar em certo lugar, e não apenas quanto ela custa em relação a outra.
Quando for escolher o destino de sua próxima viagem, já sabe: dá uma olhada na Paridade do Poder de Compra dos lugares a que pretende ir, e aproveite suas férias com menos aperto.