O pessimismo nos mercados internacionais acabou por contaminar os mercados brasileiros, que se agarravam à esperança de um discurso bombástico de Jair Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial em Davos que poderia isolar o Brasil das turbulências. Mas o discurso frustrou a maioria das expectativas, curto, genérico e sem maiores compromissos com as reformas, principalmente a da Previdência. Um resultado óbvio, já que mesmo dentro da equipe de Bolsonaro há divisões sobre como deve ser a reforma da previdência e como ela deve ser conduzida. Seria também um disparate anunciar em Davos o que vai acontecer com a aposentadoria de milhões de brasileiros sem antes apresentar a eles próprios seu destino. Mas algo mais poderia ter sido reafirmado pelo presidente, ao menos como carta de intenções.
Sem isso, o mercado brasileiro acompanhou os mercados acionários internacionais, que começaram as perdas na Ásia e se estenderam à Europa e aos EUA. Notícias de que o governo americano teria cancelado uma reunião nos EUA com o vice-primeiro ministro chinês e um alto assessor nesta semana para preparar as reuniões da semana que vem, alegando falta de empenho dos chineses em resolver as questões de transferência forçada de tecnologia, aumentaram o pessimismo dos mercados e levaram o Índice Standard & Poor’s 500 a cair mais de 2%. No fim do dia, representantes do governo americano negaram que a reunião desta semana estivesse marcada e, portanto, não houve nenhuma interrupção nas negociações. Com isso, os mercados se recuperaram ligeiramente, mas ainda fecharam com perdas. O Índice Dow Jones caiu 1,22%, o S&P 500, 1,42% e o Nasdaq, 1,91%.
A queda de hoje se deve, porém, a mais coisas que o boato do cancelamento da reunião. Na reunião em Davos, do Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou que o mundo vai crescer 3,5% este ano, menos que os 3,7% do ano passado, por conta da guerra comercial e dos problemas entre o presidente Donald Trump e o Congresso em aprovar o orçamento do país. Há também o impasse na saída negociada do Reino Unido da União Europeia, que podem comprometer o crescimento da Europa. E a China, que anunciou ontem o menor crescimento da economia em 2018 em 28 anos, de 6,6%.
Com isso, o Índice Bovespa não tinha muito como resistir e fechou em baixa, de 0,94%, aos 95.103 pontos, um resultado até razoável para o dia. O dólar comercial, por sua vez. ganhou força globalmente e, no Brasil fechou vendido a R$ 3,80, em alta de 1,20%, com a maior alta percentual em dois meses. Já os juros futuros caíram.
Com a queda de hoje, o Índice Bovespa ainda acumula alta de 8,21% no mês e no ano e de 16,44% em 12 meses. Apenas 12 dos 65 papéis avançaram, em um dia em que R$ 13,779 bilhões foram negociados na bolsa brasileira. Os estrangeiros continuam colocando dinheiro na bolsa brasileira. No dia 18 de janeiro, houve ingresso líquido de capital estrangeiro em R$ 747 milhões e o saldo de janeiro agora é positivo em R$ 1,1 bilhão, segundo dados do BB Investimentos.
As maiores altas do dia foram lideradas por Braskem PNA, com 3,05%, seguida de Via Varejo ON, 2,71%, Estácio Participações ON, 1,74%, e Ecorodovias ON, 0,76%. As maiores quedas foram dos frigoríficos, sob o impacto de que a Arábia Saudita divulgou uma lista cortando 33 dos 58 grupos que podem exportar frango para o país. Marfrig ON caiu 5,47% e BRF ON, 5,02%. Gol PN caiu 3,43% e Embraer ON, 3,28%.
No mercado de dólar, a alta de hoje fez a moeda americana reduzir a queda no mês para 1,81%, com uma alta de 18,61% em 12 meses. O real registrou o pior desempenho em uma cesta com 24 das principais moedas globais, diz o BB Investimentos. Já o risco do país no exterior, medido pelo CDS Brasil de 5 anos, subiu a 1,77 ponto percentual ante 1,72 ponto da última sessão.
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