Coluna da Ida Nuñez

Brasil e Japão: lições sobre longevidade em tempos de mudança

A combinação de uma infraestrutura inadequada, serviços de saúde sobrecarregados e uma rede de apoio social deficiente coloca em risco o bem-estar dos idosos brasileiros

Idosos, transporte púclico | Foto/Marcello Casal Jr - Agência Brasil
Idosos, transporte púclico | Foto/Marcello Casal Jr - Agência Brasil

O Brasil tem muito a aprender com o Japão sobre longevidade, mas não pode esperar para agir. Ambos os países enfrentam o desafio de uma população que envelhece rapidamente, mas os contextos sociais e econômicos são significativamente diferentes.

O Japão, que abriga a segunda população mais envelhecida do mundo — com quase 28% de seus cidadãos acima dos 65 anos — encontrou maneiras inovadoras de lidar com essas mudanças, enquanto o Brasil ainda busca um caminho viável.

Um exemplo notável da abordagem japonesa é a integração da robótica nos cuidados a idosos.

Robôs que imitam cães ou focas são utilizados para oferecer companhia e conforto, enquanto dispositivos mais avançados ajudam na prevenção de quedas e na realização de tarefas domésticas.

Essa iniciativa surge em um cenário onde o número de jovens diminui e aqueles que se dispõem a trabalhar como cuidadores enfrentam baixos salários e elevadas exigências físicas.

Contudo, é crucial lembrar que, apesar da tecnologia desempenhar um papel importante, o afeto, a comunicação e o pertencimento ainda dependem do contato humano.

A revisão das políticas migratórias no Japão também reflete a necessidade de equilibrar tecnologia e interação humana.

Nesse contexto, o filme Ela, lançado em 2013, nos leva a refletir sobre as interações entre humanos e tecnologia. Nele, Joaquin Phoenix interpreta um escritor solitário que se apaixona por Samantha, uma inteligência artificial.

O filme levanta questões pertinentes: a tecnologia pode realmente reduzir a solidão e criar vínculos significativos? Poderia ser uma aliada no cuidado a pessoas idosas? No Japão, essa questão já foi incorporada nas políticas públicas.

Embora o Brasil enfrente um envelhecimento populacional semelhante ao do Japão, as realidades socioeconômicas são diferentes.

Enquanto os japoneses experimentaram esse fenômeno durante um período de crescimento econômico robusto e desigualdade social relativamente baixa, o Brasil está lidando com desafios que ameaçam a qualidade de vida de sua população idosa.

A combinação de uma infraestrutura inadequada, serviços de saúde sobrecarregados e uma rede de apoio social deficiente coloca em risco o bem-estar dos idosos brasileiros.

Assim como Elaganhou o Oscar de melhor roteiro original, há um prêmio muito maior em jogo: adaptar o roteiro japonês ao contexto brasileiro. Isso exige um esforço conjunto entre governo, sociedade civil e setor privado para desenvolver estratégias que integrem tecnologia e cuidado humano.

A criação de políticas públicas que incentivem tanto o uso responsável da robótica quanto o fortalecimento das redes sociais será essencial para garantir que nossos idosos não apenas vivam mais tempo, mas também tenham qualidade de vida.

Portanto, é imperativo que o Brasil aprenda com as experiências do Japão e comece a moldar seu próprio futuro em relação à longevidade.

O tempo é curto e as ações precisam ser imediatas; caso contrário, podemos acabar perdendo uma oportunidade valiosa de transformar nosso sistema de cuidados para atender às necessidades crescentes da população idosa.

A adaptação do roteiro japonês pode ser o primeiro passo para garantir um envelhecer digno e pleno para todos os brasileiros.

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