Por mais que ninguém goste ou deseje, é durante uma crise que podemos mensurar a resiliência de determinados ativos. Vamos tomar como exemplo os royalties musicais. O setor artístico como um todo passou por uma situação difícil nos dois últimos anos com a proibição de shows presenciais.
Mesmo assim, o ECAD distribuiu aos artistas R$ 901 milhões em direitos autorais ao longo de 2021, pouca coisa a menos do que os R$ 947 milhões de 2020, mas que não deixa de ser uma cifra importante e não tão abaixo do que foi pago em anos pré-pandemia. Em 2019, por exemplo, foram distribuídos R$ 986 milhões e em 2018, R$ 971 milhões.
Temos que considerar que o impacto da pandemia foi altíssimo na vida de vários compositores e cantores. A pesquisa Músicos/as & Pandemia, realizada pela União Brasileira de Compositores (UBC) em parceria com o cRio ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) mostra que 89% dos músicos passaram a ganhar menos dinheiro durante a pandemia em 2021 e 50% dos trabalhadores do setor perderam toda a sua renda, enquanto 25% dos entrevistados perderam até 50% e os 25% restantes tiveram queda de até 80% dos rendimentos.
Nada disso, porém, foi capaz de prejudicar severamente operações de royalties musicais realizadas nesse período. Os rendimentos, em geral, giraram em torno dos 15% prometidos pelas originadoras e na atualidade há novas operações como retornos previstos da ordem de 18,7% ao ano. A explicação é que existe muita responsabilidade na escolha e avaliação das obras a serem disponibilizadas aos investidores.
Claro que o universo da pesquisa citada acima envolve músicos nem tão conhecidos, muitos dos quais dependem de apresentações presenciais para ganhar dinheiro. De qualquer forma, é uma realidade triste e que poderia ter causado prejuízo também aos artistas famosos – e ao desempenho dos royalties -, o que não aconteceu porque a tecnologia contribuiu bastante para amenizar as consequências.
E quando falo em tecnologia, refiro-me aos streamings, tanto de música como de vídeo que se transformaram nos canais substitutos dos shows presenciais. Relatório do Ecad intitulado “O que o Brasil ouve – edição streaming” revela que a participação deste canal na arrecadação de direitos autorais aumentou de R$ 184,5 milhões em 2020 para R$ 252 milhões em 2021, alta de 36,6%. Esse valor só não é maior porque os streamings ainda pagam muito pouco pela execução de músicas em suas plataformas.
E, se isso parece um problema, basta lembrar que em um passado recente os meios digitais nem mesmo pagavam direitos autorais. Temos de convir que se trata de um canal novo em relação aos demais. Entidades representativas dos artistas já trabalham para que as plataformas contribuam com percentuais maiores de remuneração. Um movimento mundial que certamente beneficiará os artistas no futuro.
E qual a importância disso? Ora, considerando o crescimento desse meio e a possibilidade de as plataformas, no futuro, pagarem percentuais maiores, a consequência será um volume maior de direitos autorais que os artistas terão a receber, o que é bom para o mercado de investimentos. Mas não é só isso.
Com mais de 75% da população brasileira vacinada contra a Covid-19, há um otimismo do setor artístico com a volta à normalidade dos eventos presenciais. Uma forma tradicional de remuneração que retorna com bastante força.
Ou seja, o retorno à normalidade associado ao crescimento das execuções musicais por meio do streaming só farão aumentar o montante de dinheiro envolvido e também as oportunidades de originação de ativos.
Os royalties musicais, que são hoje uma ótima alternativa de bons retornos e diversificação de carteira, tendem a ser ainda melhores e mais rentáveis e seguros. Em um cenário político, econômico e de relações internacionais tão difícil, vejo um futuro promissor para o setor musical enquanto ativo alternativo.
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