Com a fase mais aguda da pandemia da Covid-19 ficando para trás, o primeiro trimestre de companhias do setor educacional deverá apresentar sinais iniciais de recuperação. No entanto, o ticket médio pressionado, a alta inflação de custos, despesas financeiras maiores e grandes volumes com investimentos em bens de capital – prejudicados pelo recente aumento da inflação – ainda oferecem grande resistência e podem comprometer o período.
Essa é a avaliação do BTG Pactual para o setor de Educação. "Em poucas palavras, os resultados do primeiro trimestre devem trazer alguma melhora nas tendências, mas o cenário ainda parece longe de uma recuperação clara em forma de V, deixando-nos cautelosos com o setor", afirmou o Banco em relatório.
Após alguma frustração em ciclos de admissão anteriores, o BTG prevê melhores números de admissão no primeiro semestre para todas as companhias de sua cobertura, tanto no segmento de ensino à distância quanto no segmento presencial (impulsionado por base de comparação fácil).
No entanto, quando se trata de preços, os tickets médios ainda devem decepcionar, prejudicados pelo ambiente competitivo difícil para atrair novos alunos. Como resultado, apesar das bases de alunos melhorar, o banco não espera uma grande expansão orgânica de receita para as empresas no primeiro trimestre. "Continuamos cautelosos no setor de educação".
Desafios
Apesar das pequenas melhorias esperadas no primeiro trimestre, o setor ainda enfrenta vários desafios este ano: contração de margem devido à forte inflação de custos, ambiente competitivo acirrado (pressionando o ticket médio), pico das taxas de juros em um setor alavancado, renda disponível limitada e a lista continua.
Assim, permanecemos apenas seletivamente positivos no setor, com compras no Cruzeiro, Anima e Vitru.
Cogna (COGN3): Trimestre fraco
O BTG espera resultados fracos no primeiro trimestre (em 12 de maio), refletindo a fraca dinâmica do ensino
presencial da Kroton (retração da base de alunos a/a), a venda das escolas de ensino fundamental e médio para a Eleva em outubro (também gerando uma retração da receita) e LPA e fluxo de caixa para o acionista negativo devido às altas despesas financeiras, apesar da margem Ebitda ligeiramente melhor.
"Esperamos que a receita líquida consolidada caia 8% a/a para R$ 1,16 bilhão (Kroton: R$ 666 milhões; Vasta: R$ 374 milhões; outros: R$ 120 milhões). Enquanto isso, o Ebitda ajustado consolidado deve atingir R$ 374 milhões (aumento de 2% a/a), com margem de 32% (+320bps vs. 1T21), impulsionado principalmente pela melhor alavancagem operacional e pela contenção de custos na Vasta".
No entanto, as maiores despesas financeiras (devido ao aumento das taxas de juros) e maiores despesas de depreciação e amortização devem levar a um prejuízo líquido ajustado de R$ 17 milhões. "Como resultado, esperamos fluxo de caixa para o acionista negativo apesar dos melhores resultados operacionais no trimestre. Permanecemos neutros, pois a empresa está lutando para entregar fluxo de caixa para o acionista positivo e seu balanço patrimonial continua alavancado".
Anima (ANIM3): margem Ebitda deve melhorar
Conforme relatório, o banco espera que a Anima apresente resultados razoáveis no primeiro trimestre (em 16 de maio), com a receita líquida e a margem Ebitda em expansão, mas o lucro líquido ainda pressionado pelos piores resultados financeiros.
"Sinalizamos que as bases de comparação permanecem enganosas devido à consolidação da Laureate no início de junho. A receita líquida deve mais que dobrar a/a para R$882 milhões, impulsionada pela Laureate.
O BTG espera que a Anima registre 75 mil alunos ingressantes no segmento de graduação presencial (aumento de 140% a/a), atingindo 286 mil alunos, embora isso deva ser ligeiramente compensado por uma um ticket médio consolidado menor (queda a/a devido aos tickets Laureate e à maior proporção de alunos EAD na base).
O Ebitda ajustado deve atingir R$ 312 milhões (vs. R$ 138 milhões um ano atrás), com a empresa capturando sinergias de despesas gerais e administrativas relevantes do negócio com a Laureate, impulsionando a margem Ebitda ajustada, que deve aumentar 1,3p.p. a/a para 35%.
"Por fim, esperamos que a ANIM registre um prejuízo líquido (após minoritários) de R$ 45 milhões devido a resultados financeiros pressionados (-R$ 165 milhões vs. -R$ 33 milhões no 1T21), prejudicado por taxas de juros mais altas e despesas financeiras não recorrentes (as multas relativas ao pré-pagamento de dívidas e custos relacionados à emissão de debêntures). Reiteramos nossa recomendação de compra na Anima".
Cruzeiro do Sul (CSED3): expansão fraca da receita líquida
Depois de apresentar resultados fracos nos últimos trimestres, o BTG aguarda números melhores, mas ainda fracos no primeiro trimestre (em 16 de maio), com um leve crescimento da receita líquida e uma margem Ebitda estável a/a.
A base de alunos deve expandir 10% t/t para 143 mil no presencial e 3% t/t para 250 mil no EAD, ajudado por melhores números de admissão (aumento de 21% a/a para 50 mil no presencial e 18% a/a para 84 mil no EaD).
"Além disso, esperamos que a empresa apresente melhor dinâmica de captação no presencial, mas tickets médios pressionados no EaD. Ao todo, a receita deve crescer 11% a/a para R$ 467 milhões, enquanto o EBITDA ajustado também deve crescer 11% para R$ 141 milhões, com margem estável de 30%. Finalmente, esperamos lucro líquido ajustado de R$ 37 milhões (aumento de 19% a/a). Somos compradores devido ao valuation atraente".
SER (SEER3): expansão do faturamento
A Ser Educacional deve apresentar resultados fracos no 1º trimestre (em 13 de maio), com expansão da receita auxiliada por: (i) consolidação da FAEL (~90 mil novos alunos EAD); e (ii) bons números de captação (a captação no segmento presencial deve crescer 25% a/a para 42 mil e a captação no EaD sem a FAEL deve crescer 43% a/a para 63 mil).
No entanto, o BTG sinaliza que uma pior dinâmica de tickets médios (queda de dois dígitos no presencial e EaD) e margens menores devem prejudicar os números da empresa. Assim, é esperado que a receita líquida cresça 24% a/a para R$ 381 milhões, enquanto o Ebitda ajustado deve crescer 12% a/a para R$ 76 milhões com margens menores (caindo 2p.p. a/a para 20%), pressionado por investimentos recentes em novas iniciativas e uma base comparação difícil.
"Por fim, a pior alavancagem operacional e resultados financeiros de -R$ 48 milhões (vs. -R$ 15 milhões no 1T21) devem fazer com que o lucro líquido tenha uma queda para R$ 1 milhão (de R$ 36 milhões um ano atrás). Permanecemos neutros pela perspectiva ainda incerta do setor educacional", conclui o BTG.
YDUQS (YDUQ3): números operacionais melhores
"Esperamos que a YDUQS publique números trimestrais melhores (em 12 de maio), refletindo maior captação (no presencial e EaD) e ticket médio (no segmento premium), que aliado a um melhor controle de custos deve impulsionar a expansão da margem", aponta o BTG.
Ainda assim, o banco permanece neutro na YDUQS devido às suas perspectivas de recuperação ainda incertas para o ano.