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Nesta quarta-feira (16), o FED – banco central dos EUA – deve anunciar o aumento da taxa de juros. A guerra entre Rússia e Ucrânia, a retomada pós pandemia e a inflação são encaradas como uma tríade de desafios a ser enfrentada, segundo Rob Correa, analista de investimentos CNPI e autor do livro "Guia do Investidor de Sucesso no Longo Prazo".
Para o especialista, o FED deve aumentar a taxa básica de juros em 0,25% na próxima reunião. No entanto, para ele, esse ponto é passado e o mercado está mais preocupado com outro: quanto as taxas de juros precisarão subir neste ano, em 2023 e 2024?
"Se as perspectivas para a taxa básica de juros ultrapassarem 2,5%, isso significaria que o clima azedou e um remédio amargo foi necessário para domar os preços crescentes e inflação. Como o mercado já precifica um aumento de 0,25% na taxa de juros na próxima reunião, uma elevação só iria causar surpresa nos investidores se for em uma taxa superior a esta", afirma Correa.
E como fica o mercado de criptomoedas em meio a esse cenário?
Tasso Lago, gestor de fundos privados em criptomoedas e fundador da Financial Move, avalia que a decisão do FED em aumentar juros influencia com peso nos mercados globais e o Bitcoin tem correlação com o S&P 500.
"A dinâmica do bitcoin tem seguido a mesma do mercado de renda variável. Se juros subirem, isso tende a impactar os mercados com mais queda. Se juros se mantiverem de forma estável, o mercado tende a se manter estável e dar uma leve recuperada", explica.
Andrey Nousi, CFA e fundador da Nousi Finance, não acredita que a decisão de subir os juros em 0,25% irá impactar o mercado, pois o aumento já está precificado há bastante tempo.
"Agora, se houver uma decisão contrária em relação a não aumentar ou talvez aumentar em 0,5%, o impacto vai depender muito dos pormenores da decisão. Como tem menos de 1% de probabilidade que isso aconteça segundo o mercado, seria um grande choque nas diversas classes de ativos e não apenas no bitcoin. Muito disso vai depender da mensagem", diz.
Segundo Nousi, não subir taxa de juros poderia mostrar que o FED está bastante preocupado com a situação atual e o quanto a guerra pode influenciar na economia e, consequentemente, não iria desestabilizar os mercados por conta disso.
"Esse detalhe pode ser algo que mostre que a situação está muito pior do que se imagina. Então, não subir juros seria algo negativo", diz.
Por outro lado, de acordo com ele, "se conseguirem passar mensagem de que o período inflação vai ser menos demorada do que se imagina e, por isso, não vão subir juros, seria positivo para o mercado, apesar de a chance disso acontecer ser baixíssima".
Felipe Veloso, economista e fundador da Cripto Mestre, explica que, se o aumento for maior do que isso, o capital tende a fluir de criptos para outros ativos de menor risco.
"Analisando de uma forma mais técnica, existe uma forte correlação entre o índice da Nasdaq (empresas de tecnologia americanas) e as criptos. Analisando o modelo de precificação das ações da Nasdaq, que é baseado em um potencial de crescimento futuro descontando a taxa livre de riscos em um horizonte bem longo, quando a taxa de juros sobe, o valor presente cai bastante. Um aumento alto na taxa de juros é um grande causador de crashes e bear market (mercado de baixa) para criptos e ações de tecnologia", comenta.
Felipe acredita que é possível ainda neste ano comprar Bitcoin em algum ponto entre 20-28 mil dólares. "Durante a alta, é importante realizar lucros e ter caixa preparado para comprar em momentos de mercado parecidos com o que teremos esse ano. O maior erro dos investidores é comprar o ativo quando o mesmo já subiu. Quem tem resultados nesse mercado compra quando os outros vendem e vende quando os outros compraram. Esse será um ano bom para a compra", completa.