Por Ana Julia Mezzadri e Ana Carolina Siedschlag, da Investing.com – Os dados de vendas no varejo brasileiro, publicados nesta quarta-feira (10), apresentaram queda mensal de 6,1%, contra projeção de -0,8% do mercado.
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Os números, na perspectiva de André Perfeito, economista chefe da Necton Investimentos, foram um “total desastre” e comprovam a queda na recuperação econômica após a retirada do auxílio emergencial.
Em relação ao e-commerce, especificamente, o Goldman Sachs, em relatório da segunda-feira (8), afirmou manter uma perspectiva positiva, apesar da desaceleração nas taxas de download de aplicativos mesmo com os baixos níveis de mobilidade.
Nesse cenário, diferentes analistas revisaram suas projeções para Lojas Renner (SA:LREN3), Cia Hering (SA:HGTX3), B2W (SA:BTOW3), Via Varejo (SA:VVAR3) e Magazine Luiza (SA:MGLU3).
Confira as últimas análises.
Lojas Renner
A recuperação mais lenta do que a esperada na mobilidade e os altos investimentos para a transformação digital podem representar pressões no curto prazo para a Lojas Renner, segundo o UBS, apesar da proposta de valor do ponto de vista de produtos e acessibilidade
O banco elevou seu preço-alvo para a ação para R$ 42, de R$ 41 anteriormente, e manteve recomendação neutra.
A Renner tem conquistado aumentos sequenciais de sua participação no total de tráfego e gastos do varejo devido a sua proposta de valor atrativa para os consumidores dos pontos de vista de produtos, com uma vasta oferta de itens da moda, e acessibilidade, por meio de vendas e promoção.
As pressões de curto prazo, no entanto, devem limitar o ritmo de recuperação das vendas. Assim, o banco diminuiu sua projeção de vendas no varejo em 3% e 1% para 2020 e 2021, respectivamente, mantendo sua estimativa de R$ 10,8 bilhões em 2022, quando a maturação digital, as operações online to offline e a recuperação macroeconômica devem apoiar uma expansão das margens.
A expectativa do banco de lucro por ação para 2021 foi rebaixada em 6%, para R$ 1,45, mas a de 2022 foi aumentada em 2%, para R$ 1,91.
Para o balanço do quarto trimestre de 2020, as estimativas são de 0% de vendas nas mesmas lojas, versus -17% no 3T, e uma recuperação mais fraca no segmento financeiro conforme o portfólio de crédito se normaliza, o que implica em um crescimento de vendas de -2% ano a ano, a R$ 3,1 bilhões.
A margem bruta, estimada em 56%, deve seguir pressionada pelo câmbio e pela maior atividade promocional. Além disso, a margem Ebitda é projetada em 23%; o Ebitda de serviços financeiros, em R$ 66 milhões; e o NI, em R$ 350 milhões.
Cia Hering
Em relatório da última terça-feira (9), o UBS alterou suas estimativas para o quarto trimestre da Cia Hering para incorporar o impacto de problemas na cadeia de produção. O banco recomenda venda para a ação, com preço-alvo de R$ 15.
Em uma pesquisa realizada pelo banco, a Hering se destaca por suas lojas limpas e organizadas, mas ainda perde para seus concorrentes em elementos como acessibilidade dos produtos e lealdade dos consumidores, o que pode ser especialmente prejudicial em um fraco ambiente macroeconômico.
A estimativa do UBS é que problemas na cadeia de produção tenham tirado entre 5 e 7 pontos percentuais do crescimento das vendas no quarto trimestre. No entanto, a distribuição das lojas da companhia, com uma grande participação de lojas nas ruas em vez de em shoppings, e a melhoria na percepção dos consumidores pode ter apoiado uma recuperação mais forte das vendas no trimestre.
Considerando tudo, a projeção de vendas de 2020 foi reduzida em 5%, para R$ 1 bilhão. Para 2021, as restrições à mobilidade devem resultar em vendas 2% menores em 2021. Para 2022, a reestruturação do portfólio da marca e a maturação das lojas e do ambiente digital devem contribuir para vendas 4% mais altas do que a previsão anterior, segundo o banco.
Para apoiar o crescimento digital e a reestruturação das lojas, a expectativa do UBS é de Capex de R$ 126 milhões em 2021 e R$ 90 milhões em 2022, altas de 71% e 56%, respectivamente, em relação à estimativa anterior. Também são esperados investimentos mais fortes em marketing, logística e custo de aquisição de clientes.
Finalmente, as projeções de lucro por ação permanecem praticamente inalteradas, em R$ 1,16 para 2021 e R$ 1,27 para 2022.
B2W
Uma das maiores vencedoras da aceleração da mudança do varejo físico para o online vivida em 2020, a B2W, deve continuar crescendo em 2021. Em relatórios desta terça-feira (9), a XP Investimentos e o Goldman Sachs recomendam Compra para ação, com preços-alvo de, respectivamente, R$ 121 e R$ 105.
No fechamento do pregão, o papel registrava queda de 1,27%, a R$ 83, em linha com o Ibovespa, que caía 0,19%, aos 119.472 pontos. Ao longo do dia, a máxima registrada foi de R$ 84,50 e a mínima, de R$ 82,80, com R$ 253,4 milhões em volume negociado.
Na perspectiva da XP, a B2W está bem posicionada para crescer em 2021, considerando a base de comparação mais fraca em relação aos pares, o portfólio de produtos mais diversificado em seu marketplace, o anúncio recente de novas medidas para melhorar a experiência de vendedores e clientes.
Apesar do cenário promissor, o Goldman Sachs revisou para baixo sua projeção de crescimento do total de vendas online (GMV) no quarto trimestre, de 45% para 40%. A estimativa da XP é de crescimento de 51% no GMV, superando os concorrentes. As margens bruta e Ebitda, na visão da corretora, devem cair 1,2 e 1,8 ponto percentual na comparação anual.
Um risco de alta apontado pela XP é a atividade de fusões e aquisições, que a corretora espera que seja materializado ao longo de 2021.
Os riscos negativos, na visão da corretora, são a concorrência, que deve permanecer desafiadora e pode levar a uma pressão em rentabilidade e perda de participação de mercado; a compensação crescimento versus rentabilidade; o posicionamento dos portfólios de investidores; e riscos de governança.
O Goldman Sachs acrescenta à lista o elemento discricionário no mix de vendas, o aumento nos custos e despesas com infraestrutura de entrega e iniciativas omnichannel, e o aumento nas despesas de investimento com a Ame Digital.
Via Varejo
A XP Investimentos retomou a cobertura das ações da Via Varejo com recomendação neutra e preço-alvo de R$ 20, contra R$ 28 anteriormente, por ver um fortalecimento da concorrência, apesar de enxergar potencial de crescimento nos canais físico e digital.
Em sua análise, a XP destaca que a Via Varejo ainda está nos estágios iniciais de sua transformação digital e que seu marketplace vem recebendo cada vez mais investimentos.
Outros pontos importantes mencionados pelo banco para sustentar a visão positiva sobre a companhia são as aquisições de ASAPlog e banQi, o foco em melhorar a experiência do consumidor e o serviço oferecido aos vendedores. A corretora destacou ainda os esforços de ESG da empresa.
No entanto, a concorrência pode ser o maior desafio nesse caminho de crescimento. “Já é difícil entregar um processo de reestruturação bem sucedido, mas fazê-lo em um ambiente competitivo mais difícil será ainda mais desafiador”, pontua a corretora.
Além da concorrência, os principais riscos para a companhia, segundo a XP, são de execução, sobretudo em relação à entrega das iniciativas de reestruturação; e de posicionamento, pois a aceleração da vacinação pode desencadear uma rotação de portfólio para ações de valor.
As projeções da XP, em um cenário base, são que a Via Varejo entregue margens brutas estáveis em 2020, com margem Ebitda de 8,3% em 2021, alta de 0,4 ponto percentual ano a ano, por conta de alavancagem operacional e iniciativas internas.
Magazine Luiza
A XP Investimentos assumiu a cobertura do Magazine Luiza com recomendação neutra e preço-alvo de R$ 27 por ver os múltiplos da companhia já refletindo as iniciativas postas em prática durante 2020 para reforçar o projeto de a empresa se tornar um ecossistema completo dentro do e-commerce brasileiro, escreveram analistas em relatório.
Segundo a corretora, as nove aquisições anunciadas no ano passado e o fortalecimento das capacidades omnicanais reforçam o investimento da companhia na trajetória de consolidação no segmento, mas o ambiente mais competitivo deve ser um desafio.
Ainda assim, e apesar da forte base de comparação com 2020, o time de especialistas vê espaço para o crescimento da varejista em 2021, com previsão de alta de 25% das vendas digitais na base anual, com crescimento de 28,6% do e-commerce apoiado por uma maior penetração de categorias de estoque próprio, como vestuário, saúde e cuidados pessoais, adição de vendedores à plataforma de marketplace e maior recorrência de clientes impulsionada por categorias como mercado e restaurantes.
Já no varejo físico, os analistas veem espaço para alta de 18% na base anual por conta da recuperação da economia, sólida demanda de linha branca e normalização do fluxo das lojas.
A XP também espera mais fusões e aquisições em 2021 e crescimento exponencial em marketplace para a empresa, impulsionados pela sólida posição de caixa, de R$ 3 bilhões no terceiro trimestre, e o ajuste nas negociações por conta da crise com a pandemia.
Dentre os riscos, os analistas citam o cenário competitivo, que deve permanecer desafiador, com as concorrentes investindo na oferta de uma variedade maior de serviços a custos mais baixos, o pode levar a uma pressão de rentabilidade ou perdas de participação de mercado.
Também citam que a varejista deve enfrentar uma base de comparação difícil em 2020, principalmente para o canal digital e após ampla vacinação, o que poderia levar a uma desaceleração ou até declínio na frente digital.