A elevação dos riscos geopolíticos e o potencial conflito entre a Rússia e Ucrânia elevam também a lista de preocupações dos investidores e todos estão se perguntando: o que fazer nesse cenário? Um relatório da XP, publicado pelo estrategista chefe e Head Research, Fernando Ferreira, e pela estrategista de Ações, Jennie Li, avalia a situação.
Em primeiro lugar, o documento afirma que diversos ativos podem ser impactados caso uma guerra na Europa aconteça. E eles listam os principais:
Bonds – Títulos dos governos: os títulos dos governos estão sempre entre os primeiros ativos que os investidores compram em um cenário de aversão a risco.
Apesar dos preços dos títulos dos governos na Europa e EUA estarem pressionados recentemente, por conta do aumento de inflação no mundo, o aumento da aversão a risco poderia fazer os investidores voltarem para essa classe de ativos, levando a uma queda nos juros desses títulos, avalia o relatório da XP.
"Nos últimos dias, já observamos os juros dos títulos de 10 anos americanos caindo de 2% para 1,92%, o que já indica essa maior demanda por esses títulos, e um movimento parecido na Europa também", pontuam os especialistas da XP.
No Brasil, o movimento é conhecido, dado que os investidores tendem a migrar para a Renda Fixa nos eventos de elevação dos riscos.
Grãos e trigo: o mercado de grãos pode ver grandes impactos no evento de uma guerra, afinal a Ucrânia é o 3ª maior exportador de milho no mundo e o 4º maior exportador de trigo. Já a Rússia é o maior exportador de trigo do mundo.
Os preços dos grãos seguem elevados no mundo e uma eventual guerra pode colocar ainda mais pressão em um cenário de oferta x demanda que já é bastante apertado.
Nos últimos 12 meses, o preço do trigo negociado na Bolsa de Chicago já apresenta uma alta de 22%.
Petróleo e Gás natural: A Rússia é responsável por 35-40% do gás natural consumido na Europa, sendo um fornecedor muito importante para países como a Alemanha, que dependem do gás como uma das principais fontes de energia ao país.
O preço do gás na Europa mais que dobrou nos últimos meses, e deve seguir pressionado no evento de uma guerra, e de possíveis sanções impostas pela OTAN à Rússia.
O mesmo cenário também é válido para o petróleo, que já sobe 20% em 2022, acima de US$90/barril. Alguns bancos e analistas já começam a prever o petróleo acima dos US$100/barril, podendo chegar até US$150/barril no caso de um estresse do lado da oferta, segundo o JP Morgan.
Essa alta elevaria a inflação no mundo, e como consequência, elevaria os riscos de desaceleração da economia global.
Ouro: o ativo mais conhecido em eventos de um forte aumento de aversão ao risco, é o ouro. Atualmente, essa característica permanece intacta, e o Ouro já sobe 6% apenas no mês de fevereiro.
"Vale notar que o ouro vinha sendo pressionado pelo aumento das taxas de juros no mundo, que acabam competindo na demanda por ouro. Porém, caso os juros nos títulos dos governos cedam, como mencionamos acima, isso poderia ajudar a ser um propulsor adicional ao preço do ouro", detalha o relatório da XP.
Moedas de Emergentes e Dólar: o aumento pela demanda por títulos do governo americano tende a levar também a uma apreciação do Dólar em relação à outras moedas. As moedas de Emergentes, nesse cenário, tendem a sofrer por serem vistas como ativos de “maior risco” pelos investidores.
O Real brasileiro está entre as moedas de melhor performance no mundo esse ano, se apreciando 8,5% contra o Dólar. Isso por conta do forte fluxo de investidores estrangeiros que estão comprando ativos brasileiros, dos juros maiores no Brasil, e dos fortes números da balança comercial brasileira.
Uma elevação do Dólar no mundo poderia segurar um pouco essa força de apreciação do Real, no curto prazo.
O que fazer nesse cenário?
A melhor estratégia a seguir nesses momentos é ter caixa, se manter investido, manter a diversificação na carteira, e manter a calma, aconselham os especialistas da XP.
"Manter o caixa é importante para podermos nos beneficiar das oportunidades que aparecem em momentos de volatilidade de mercado. Se manter investido no mercado é também muito importante, pois o mercado tende a se recuperar desses eventos geopolíticos".
Agora, manter a diversificação na carteira é a melhor forma de proteger o patrimônio e ter retornos balanceados ao longo do tempo. "E manter a calma, por fim, é muito importante para conseguirmos executar essa estratégia em momentos de estresse elevado".