O empreendedorismo está em alta no Brasil. Ao longo de 2020, o número de abertura de novas empresas chegou aos 3,36 milhões, o maior volume em dez anos. No recorte de porte dos negócios, o destaque vai para os MEIs (Microempreendedores Individuais), responsáveis por 77% das aberturas.
O patamar elevado de novas empresas ocorreu em meio à crise econômica provocada pela pandemia de Covid-19. E, segundo o professor Marcus Salusse, da Escola de Administração de Empresas da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a conjuntura desfavorável pode ser justamente uma das propulsoras desse movimento.
“Do ponto de vista econômico, o trabalho formal é um dos primeiros elementos afetados em crises econômicas e um dos últimos a ser recuperado”, conta ele. Os números confirmam: segundo a última edição da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, divulgada em 26 de fevereiro, cerca de 13,4 milhões de pessoas terminaram 2020 sem trabalho registrado em carteira.
Nesse cenário, parte dos desempregados se volta para os trabalhos informais — os famosos “bicos” — na busca por novas fontes de renda e garantia da renda familiar. E, conforme explica Salusse, quando esses indivíduos se deparam com alguma exigência de formalização, o registro de MEI surge como principal alternativa.
Empreendedor ou sobrevivente?
No entanto, apesar de o registro formalizar a criação de uma empresa, nem sempre aqueles que buscam o MEI planejam, de fato, empreender. O professor cita que quem abre um negócio com a pressão de garantir a subsistência familiar costuma se apoiar apenas nas competências que já é capaz de executar.
Como consequência da falta de planejamento, há um baixo nível de diferenciação e a ausência de soluções tecnológicas entre os produtos e serviços oferecidos. O resultado, ainda de acordo com Salusse, é o aumento da concorrência e a diminuição da rentabilidade dos negócios, além da ausência de uma das marcas do empreendedorismo: a inovação.
Fintechs podem impulsionar os negócios
Para aqueles que desejam virar a chave entre empreender para sobreviver e construir um negócio de sucesso, nem sempre é possível financiar o crescimento ou prospectar clientes com a ajuda de instituições financeiras e ferramentas mais tradicionais.
Nesse contexto, é possível contar com os serviços das empresas de tecnologia, as chamadas fintechs, com foco naqueles que tentam driblar a situação descrita por Salusse e buscam maneiras de diferenciar seus produtos e serviços.
O professor da FGV explica que empresas desse tipo surgem a partir de um elemento que é comum em países emergentes: os "institutional voids” (vazios institucionais, em tradução livre).
“Essas fintechs ocupam espaços voltados para pessoas que não têm acesso ao crédito formal por não se adequarem a regras de um sistema financeiro, que é caro, burocrático e está, em termos de critérios de seleção, absolutamente longe da realidade de um pequeno empreendedor”, aponta Salusse.
Financiamento ágil e mais barato
Há desde plataformas que conectam consumidores e prestadores de serviço até iniciativas que oferecem crédito de forma menos burocrática, mais ágil e com taxas mais acessíveis para quem é MEI. A ACCrédito, por exemplo, oferece empréstimos de até R$ 100 mil para micro e pequenas empresas com taxas de juros a partir de 1,55%.
Além das taxas competitivas, o presidente da instituição, Milton Luiz de Melo Santos, destaca que a fintech aplica tecnologias de inteligência artificial durante a análise da documentação para agilizar a concessão de crédito: “um processo que leva dias ou até semanas em um banco tradicional aqui dura minutos”.
Fora as SCDs (Sociedades de Crédito Direto), como a ACCrédito, há fintechs que apostam no modelo peer to peer lending (empréstimo de ponta a ponta, em tradução livre) e fazem a ponte entre investidores e tomadores de crédito.
Nessas plataformas, os empresários podem fazer empréstimos com juros menores que os bancários, e quem aplica tem retornos interessantes. É o que oferece o chamado “empréstimo social” da IOUU, por exemplo.
Voltado a MEIs, projetos e pessoas de baixa renda, o produto disponibiliza até R$ 5.000 em empréstimos com prazos de três a 24 meses para pagamento. Segundo a empresa, o valor emprestado não sofre incidência de juros.
Para quem precisa de um investimento maior, há também o “empréstimo de impacto”. A modalidade concede a microempresas até R$ 100.000, com 36 meses de prazo e taxa de juros entre 1,3% e 3,9% ao mês.
Encontre potenciais clientes pela internet
A clientela é a base de um negócio. Sem pessoas procurando os produtos e serviços, não há financiamento que salve o microempreendedor. Há aqueles que apostam no boca-a-boca ou no marketing digital para fazer a prospecção. Contudo, para quem tem pressa em garantir demanda, também existem fintechs que podem ajudar a atrair clientela.
Esse é o caso da Helpie, uma plataforma digital que conecta diaristas, eletricistas, professores, babás e mais — você encontra até mesmo pilotos de drone e netos de aluguel entre os 40 mil prestadores de serviço — aos clientes.
A fintech ainda possui uma parceria com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Quem se capacita por meio dos cursos oferecidos pelo programa “Empreenda Rápido” e é filiado à entidade ganha mais relevância nas pesquisas dos usuários na plataforma.