O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu manter a taxa básica de juros Selic em 13,75% ao ano na última quarta-feira (21).
De acordo com o colegiado, uma nova alta não pode ser descartada caso “o processo de desinflação não transcorra como esperado”.
“O Comitê se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso.”
O que esperar?
“Considerado que a inflação já está bem mais controlada e dentro do que o BC prevê, esse realmente parece ser o fim dos ciclos de alta e deve se manter essa taxa até o final desse ano”, opinou Marco Noernberg, líder de renda variável da Manchester Investimentos.
Mas uma situação normal após uma inflação próxima de 6% para esse ano, possivelmente a Selic deve ser mantida nessa faixa de taxa de 13,75%.
Para o ano que vem o mercado já precifica uma queda a partir do segundo semestre de 2023, numa faixa próxima de 11.25%, diz o analista.
Noernberg relembra que o PIB brasileiro deve crescer muito bem, em torno de 3,00% – 2,75%. Portanto, a inflação se destaca como a preocupação central da autoridade monetária.
Ele acrescenta que uma perspectiva de crescimento da taxa de juros não favorece os ativos de risco, já que isso diminui o valuation, preço-alvo dessas empresas, agora que o BC já fez a sua parte e já chegou no topo do ciclo.
“Isso pode ser positivo para as ações brasileiras, já que agora o momento de mais pensar em queda do que a alta, isso vai favorecer as ações, principalmente, que você que tem uma perspectiva e uma sensibilidade de uma taxa de juros maior, como o caso de investimentos em ações de tecnologia, de varejo…”, afirma.
Bruno Viotto, economista e sócio da Acqua Vero Investimentos, concorda com a visão principalmente para o setor de varejo. “O encerramento do ciclo altista de juros traz para a bolsa de valores uma certa atratividade para o investidor que quer alocar na renda variável”, diz.
Antes da decisão, as ações de varejistas subiram bem forte na B3. Mesmo com o Ibovespa em queda, ações como Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e outras varejistas tiveram um desempenho bem positivo, e isso, “em partes, por causa dessa sinalização de um final de ciclo de uma taxa de juros que realmente já está próxima, inclusive, do que foi há um tempo atrás de 14,25%”.
“Então, a partir do momento que a taxa de juros começa a cair de uma forma mais significativa, essas empresas que tem um valor de fluxo de caixa no futuro mais elevado, deve favorecer as empresas no curto prazo”, conclui.
Francisco Levy, estrategista-chefe da Empiricus Investimentos, destaca que não houve nada relevante no comunicado, e aparentemente a estratégia do BC vai ser manter a taxa elevada até que haja convergência das expectativas à frente.
As projeções do BC estão em 4,60% para 2023 (acima da meta) e 2,8% para 2024 (abaixo da meta).
“Na minha opinião, se não tivermos mudanças nas projeções, é necessário aguardar um tempo para que 2024 comece a ficar mais relevante na visão prospectiva, e acho que cortes de juros seriam só no terceiro trimestre”, opina.
Entretanto, com o ambiente mais restritivo tanto aqui quanto lá fora, o que ajuda no processo de desinflação, e com a potencial entrada de fluxo após as eleições, “podemos vivenciar uma melhora na taxa de câmbio e uma potencial antecipação dos cortes para o segundo trimestre. E se for muito forte o fluxo, até poderemos migrar para o primeiro tri”, alegou.
Anbima
O grupo de economistas da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) revisou a projeção da inflação para este ano de 7,2% para 6%. Os riscos inflacionários, porém, continuam relevantes, sobretudo para 2023.
Isso porque, conforme destacam os economistas, há a possibilidade de aumentos de impostos diante da situação fiscal, de elevação nos preços do petróleo devido aos efeitos da guerra na Ucrânia, além de uma desvalorização da taxa de câmbio em função da alta dos juros nos Estados Unidos.
Uma potencial recuperação do PIB doméstico também poderia gerar pressões pontuais nos preços e estímulos à atividade doméstica.
O cenário externo, por sua vez, traz incertezas que favorecem um ambiente de maior aversão ao risco, o que pode comprometer o fluxo de recursos para os mercados emergentes.
A sinalização do Fed em colocar os juros no campo restritivo aumentou as chances de que a taxa final do ciclo de alta dos juros americanos ultrapasse o patamar de 4%, o que pode levar a economia para um quadro de recessão nos próximos trimestres.
Em relação à atividade econômica doméstica, os economistas revisaram a mediana da projeção de crescimento do PIB para este ano de 2% para 2,7%. O aumento deve-se, entre outros fatores, à melhora no resultado do PIB do segundo trimestre puxado pelo setor de serviços que, por ter bastante mão de obra, contribui para a redução na taxa de desemprego.
Onde investir?
“Em termos de investimentos, gosto do pós-fixado, eu gosto do Tesouro Selic”, diz Felipe Miranda, CEO do Grupo Empiricus.
“Parece que queremos sofisticar muito, pegar a dica do cunhado, a ação que ninguém conhece ou a criptomoeda do momento… Mas na verdade 13,75% é alto, com liquidez diária, sem risco e sem o investidor precisar fazer muita coisa”, complementa.
O CEO diz gostar do pré-meio da curva porque a inflação implícita está acima de 5% e não aposta que a mesma seja maior do que 5% por vários anos. Portanto, haveria uma boa indicação ali no “pré-meio da curva, 2026, 2025”.
Miranda diz gostar da curva bem mais longa, do Tesouro IPCA, 2050, que está muito associado ao risco fiscal, ao risco de ruptura institucional, que a Empiricus avalia que está endereçado com um governo de centro, seja lá qual for o governante.