Quando falamos em crédito, estamos acostumados a associá-lo à concessão de empréstimos ou mesmo ao fornecimento de limite no cartão. Mas crédito não se limita a isso. Lembram-se da velha caderneta, muito usada pelos mercadinhos, farmácias e antigos armazéns de bairros? O cliente fazia a compra, devidamente anotada, com a promessa de quitar a dívida no dia combinado.
Era uma forma de crédito baseada na confiança e no fato de que o dono do estabelecimento conhecia pessoalmente o comprador e sua família. A caderneta evoluiu para o carnê de parcelamento, muito usado pelas grandes redes de varejo. Então surgiu o boleto bancário, ou cheque pré-datado e tantas outras formas. Todas elas, cada uma a seu modo, permitia que o cliente comprasse mesmo sem ter dinheiro no momento da operação.
Nesse sentido, a digitalização tem oferecido novas formas de pagamento/crédito que, de certa forma, são apenas a evolução das soluções adotadas no passado. Se até 2021 a tendência era a abertura de uma conta digital para se ter acesso ao cartão de crédito ou a empréstimos com taxas de juros menores, em 2022 observa-se que modelos digitais têm feito um papel semelhante ao do carnê, da caderneta, do cartão ou do boleto bancário.
Cada vez mais ouvimos falar de carnê digital, boleto parcelado ou mesmo de BNPL (Buy Now, Pay Later). Este último pode ser traduzido como “compre agora e pague depois”. O Pix parcelado é um exemplo de BNPL. O carnê digital nada mais é do que a evolução do velho carnê de papel emitido pelas redes varejistas no passado. O mesmo pode-se dizer do boleto digital.
Novas soluções
Todos os novos meios citados estão ganhando a preferência das pessoas. São formas de consumir sem a necessidade de uso do cartão ou sem precisar da concessão de empréstimos da maneira tradicional, portanto, sem taxas extras, principalmente quando se fala do Pix.
Estudo feito pela Generation Pay, em dezembro passado, mostra que o BNPL vem se destacando no mercado brasileiro. Quase 43% da população, em geral, têm preferência por esse meio de pagamento, que é mais usado pelos jovens. Outros 69% de consumidores da geração Millennials preferem comprar agora e pagar depois. A evolução tem seus movimentos pendulares. Vemos a geração mais jovem adepta dessa solução antiga com a novidade da digitalização.
As semelhanças com os meios de financiamento do consumidor usados no passado, porém, estão limitadas aos nomes e ao conceito. Na prática há uma diferença muito grande que é a segurança nas transações que a tecnologia traz para as partes envolvidas. A velha caderneta, por exemplo. Se o comerciante tinha algum controle sobre a transação depois que o cliente saía da loja com os produtos nas mãos, na melhor das hipóteses, era algo manual e falho.
Hoje, os meios digitais possibilitam esse controle e maior acurácia em relação à concessão do crédito. E a tecnologia tem um papel fundamental em todo esse processo. Daí a necessidade de as fintechs investirem cada vez mais em inteligência artificial (IA), blockchain e big data, pois elas, além da segurança, são capazes de realizarem análises cada vez mais próximas da realidade de cada tomador de crédito, independentemente da modalidade.
Em suma, o mercado já mostrou suas preferências e os caminhos escolhidos para manter algum poder de compra sem a necessidade de ter dinheiro em mãos. Cabe a cada fintech garantir os meios para que essa nova cultura seja disseminada com segurança. A economia, que não pode parar, agradece.
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