Crédito varejo

Crédito está para o varejo assim como o vírus está para o Brasil

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Uma das grandes dificuldades de prever quanto tempo ainda vai demorar para o retorno à normalidade é a diferença de comportamento que o coronavírus vem apresentando nas diversas regiões do país.

Enquanto alguns estados comemoram redução de índices, outros se preocupam com a escalada dos números. Muitas vezes, mesmo dentro dos próprios estados há variações significativas entre municípios. Desta forma, o otimismo e o pessimismo vão se alternando na percepção geral e a indefinição segue angustiando a maioria.

Com uma observação aprofundada sobre o que vem ocorrendo no mercado de crédito, mais especificamente sobre o varejo, é possível fazer um paralelo com este cenário. A comparação é possível à medida em que alguns setores estão conseguindo se recuperar rapidamente dos efeitos causados pelo isolamento social, mas outros ainda vão demorar um pouco para voltar aos patamares dos tempos de normalidade.

É o que revela, por exemplo, o Índice Neurotech de Demanda por Crédito (INDC).  De acordo com o indicador, no período entre maio e junho, o varejo experimentou um aumento de 20% em pedidos de empréstimo e financiamento, ficando atrás somente do setor financeiro, que alcançou 29% neste mesmo critério de avaliação.

Apesar disso, abrindo a composição do varejo, é possível identificar comportamentos bem diferentes. Os eletromóveis, por exemplo, praticamente zeraram a diferença, ficando com um volume apenas 4% inferior em relação aos patamares da época da normalidade. Isso é explicado pelo fato de que, além de sua queda não ter sido tão forte, a recuperação já ocorreu em maio.

Por sua vez, os supermercados, que foram os que menos sentiram a crise em março/abril, estão com recuperação mais lenta em maio/junho (-47% comparando junho com janeiro). Já os vestuários e lojas de departamento aceleraram forte em maio/junho, mas ainda tem gap de – 54% no comparativo junho/janeiro. Só o segmento focado em móveis tem recuo acumulado de 20% no comparativo junho/janeiro.

De uma forma geral, somando os setores financeiro, varejo e serviços, a demanda por crédito tem acelerado rapidamente e, em junho, apresentou um crescimento de 27% em relação a maio. Com isso, ela praticamente zerou as perdas registradas no ano.

Usando janeiro como base normal, uma vez que fevereiro teve o carnaval e março já foi afetado parcialmente pela covid-19, existe ainda um gap de 6%. Mas é importante lembrar que o vale foi em abril, quando foi registrado uma demanda 35% menor em relação ao início do ano.

Em maio, o segmento de varejo havia sido a locomotiva, com um crescimento de 61,7% em relação a abril. Já em junho a maior contribuição de aceleração veio do segmento de bancos e financeiras, que havia crescido somente 6% no mês anterior.

Apesar do movimento positivo nos últimos dois meses, alguns segmentos ainda se encontram bem abaixo do volume registrado em janeiro. O varejo, por exemplo, demonstra ainda uma procura por crédito 32% menor em junho quando comparado a janeiro.

Concluindo, os números demonstram que o pior já passou para o crédito, mas não para o coronavírus em todos os estados. E é justamente este o maior risco para que a recuperação das compras por meio de financiamentos continue na mesma toada dos últimos dois meses. Novas medidas de isolamento social fortes em capitais podem dar mais um banho de água fria no mercado.

O crédito é um segmento fortemente impactado pela expectativa do consumidor em relação ao futuro. E a chance de uma virada histórica que possa garantir que 2020 chegue ao final apresentando sinais de crescimento depende diretamente da velocidade com a qual conseguiremos controlar definitivamente o vírus.

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