O número de empresas e de investidores preocupados em reduzir ao máximo os impactos das ações humanas no ecossistema cresce na mesma proporção que os problemas ambientais ficam mais evidentes. No Brasil, o investidor que busca rentabilidade associada à responsabilidade ambiental e social tem a opção de investir em ações das companhias do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Apesar da queda no desempenho nos últimos meses na B3, o índice registra histórico positivo e uma cultura em ascensão.
O ISE é uma carteira composta por 39 empresas, de 15 setores, listadas na B3 e reconhecidas pelas suas boas práticas de sustentabilidade. O indicador se assemelha ao Índice de Governança Corporativa (IGC), que reflete o valor dos ativos de todas as empresas com governança corporativa diferenciada, e ao Índice Bovespa (Ibovespa), carteira teórica das ações com maior negociabilidade na Bolsa de Valores.
Mau desempenho pontual
Apesar de tudo isso, levantamento realizado pela Comdinheiro, com base em dados da própria B3, aponta que o ISE foi o índice que apresentou o pior resultado no acumulado dos primeiros oito meses do ano, finalizado em 31 de agosto.
A carteira encerrou o período com rendimento negativo de -3,27%. O segundo pior índice foi o Ibovespa, com -0,20%. O IGC, por sua vez, apresentou alta de 2,21%. Todas perdem para a inflação que entre janeiro e agosto acumula alta de 5,67%.
Filipe Ferreira, diretor Financeiro da Comdinheiro, explica que o mau desempenho do ISE é pontual, pois desde que foi criado, em 2005, valorizou 294,73% contra 245,06% do Ibovespa.
“O resultado não reflete o potencial que as empresas integrantes desse índice possuem. Temos de lembrar que a Bolsa como um todo está muito volátil por causa da crise gerada pela pandemia”, comenta.
Explicação
O sócio-fundador da BR Rating, Marcos Rodrigues, concorda que se trata de um momento atípico. “O ISE conta com uma quantidade menor de empresas em comparação com o Ibovespa. Dessa forma, o resultado de cada companhia tem um peso maior na performance geral. Se as maiores pertencerem a segmentos da economia muito afetados pela crise, é possível que elas derrubem o resultado do índice todo. A volatilidade tende a ser maior quanto menos players integrarem o grupo”, afirma.
Os dados da B3 da carteira teórica do ISE válida para o quadrimestre de setembro a dezembro deste ano mostram que as ações de maior peso no ISE são: Americanas ON, Bradesco PN e BRF ON, com participação acima de 3%. Com mais de 2% de representatividade, estão Assai ON, CCR ON e Cemig PN. No acumulado do ano até setembro, três destas empresas apresentam forte desvalorização.
Já o melhor resultado do IGC, por sua vez, é fruto justamente da boa governança, voltada a resultados financeiros e cujas preocupações ambientais e sociais se limitam ao que determina a legislação. São empresas que mantêm uma boa governança, mas com foco exclusivo na lucratividade. “Obviamente, isso atrai a atenção dos investidores”, afirma Rodrigues.
Segundo o executivo da BR Rating, as regras para inclusão no ISE sofreram mudanças com o objetivo de tornar o processo mais transparente e confiável. “Essa mudança de critérios começará a valer em 2022. Se de fato foi bem elaborada vai atrair mais investidores. E isso refletirá positivamente no desempenho do ISE. Certamente ele manterá seu histórico de boa rentabilidade”, conclui.
Tanto Marcos Rodrigues quanto Filipe Ferreira avaliam que o investidor que tem dinheiro aplicado no ISE não tem motivos para sair. “O melhor a se fazer é manter o investimento e aguardar o momento de alta. E quem ainda não tem, convém comprar porque está barato”, diz o diretor da Comdinheiro.
Cultura
O executivo da BR Rating, por sua vez, lembra que a sustentabilidade ditará as regras no futuro. “O resultado passado não é garantia para o rendimento futuro, porém, a cultura da sustentabilidade está crescendo, se aprimorando e quem entrar agora tende a obter ganhos acima da média no longo prazo”, afirma Rodrigues.