Iniciativas

De banco comunitário a fintech social: G10 Bank e Dock criam primeiro banco digital das favelas

Parceria visa mais inclusão financeira e crédito acessível para empreendedores que vivem em comunidades de todo o Brasil

Times Dock e G10 juntamente com representantes do BNDES e Veritran Tecnologia - Crédito: Michel Carasso
Times Dock e G10 juntamente com representantes do BNDES e Veritran Tecnologia - Crédito: Michel Carasso

Na última sexta-feira (18), o G10 Bank tornou-se o primeiro banco digital nascido dentro da favela, para a favela. A iniciativa foi viabilizada em parceria com a Dock, empresa de tecnologia para serviços financeiros e banking, e começa a funcionar em projeto piloto, com expansão para novos clientes ainda este ano.

Além de abertura de contas digitais para pessoas físicas e jurídicas, serão disponibilizados cartão pré-pago com bandeira Visa atrelado à conta e aplicativo.

O objetivo é investir no poder empreendedor dos moradores de comunidades de todo o Brasil, incluindo-os no sistema financeiro e fomentando seus negócios.

“Com a criação do G10 Bank, pode-se levantar o sonho antigo da favela, que é empreender e poder transformar e aproveitar oportunidades. Muitas dessas pessoas ainda não conseguem chegar lá”, diz Gilson Rodrigues, presidente do G10 Favelas e CEO do G10 Bank.

“Foi inevitável abraçarmos essa parceria. O G10 Bank tem total consonância com o nosso propósito, não só pela nossa expertise, mas porque está alinhado ao que defendemos: a democratização das finanças. Acreditamos na inclusão financeira para ajudar a reduzir desigualdades e para isso precisamos de iniciativas como essa, que atinjam a base da pirâmide”, afirma Antonio Soares, CEO da Dock.

O G10 Bank operará com a mesma tecnologia das grandes fintechs e bancos digitais brasileiros clientes da Dock. A empresa, pioneira em Banking as a Service, já potencializou a inclusão financeira de milhões de pessoas, operando mais de 103 fintechs em sua plataforma.

Digitalização e crédito 

O projeto de parceria prevê duas fases. A primeira inclui digitalização com abertura de contas digitais PF e PJ, além de Pix, como forma de escalar a oportunidade de acesso. Na segunda, o banco das favelas reunirá na plataforma soluções de crédito.

“Ainda que consigam abrir conta em bancos tradicionais, há dificuldade para aprovação de crédito. Quando alguém consegue, são valores baixos, em torno de R$200”, relata Gilson.

"Milhões de brasileiros foram incluídos digitalmente nos últimos anos. Ainda há muito o que fazer nesse sentido, mas precisamos dar o próximo passo rumo à verdadeira inclusão financeira, criando alternativas viáveis para as pessoas digitalizadas que ainda não encontraram meios de acessar crédito”, completa Antonio.

Projeto piloto

Mais de 80 empreendedores foram beneficiados com operações de crédito entre R$10 e 15 mil em projeto piloto realizado pelo G10 Bank de modo não digital.

O primeiro deles, Giva Pereira, obteve um crédito de R$ 15 mil pelo G10 Bank e tirou do papel uma empresa de logística que hoje fatura R$ 7 milhões. O Favela Brasil Express, solução criada por ele para resolver o problema de entregas aos moradores de favelas que não possuem CEP, hoje tem clientes dos grupos Americanas e Magazine Luiza.

O empreendedorismo desperta grande interesse nas comunidades. Metade dos moradores no Brasil se considera empreendedor e 76% tem ou quer ter um negócio, segundo pesquisa do Digital Favela, que mostra que 41% têm uma empresa própria e, para 22%, essa é a principal fonte de renda.

No entanto, o acesso a capital para investimento é apontado como uma das dificuldades na condução dos negócios para 40% dos entrevistados, segundo pesquisa do Outdoor Social. O G10 Bank tem como objetivo preencher essa lacuna.

Potência

Os moradores das favelas brasileiras reúnem um poder de consumo de R$167 bilhões por ano, segundo pesquisa da Outdoor Social Inteligência realizada em 2022.

Esse valor supera a massa de rendimento de 20 das 27 unidades da federação do país e é superior ao de países inteiros, como Paraguai, Uruguai e Bolívia, segundo dados do Instituto Locomotiva.

“É preciso desconstruir o olhar equivocado de que na favela tudo é carência. O potencial econômico e empreendedor das comunidades é imenso”, diz Gilson. O Brasil possui 13 mil favelas onde vivem mais de 17 milhões de pessoas, quase metade pertencente à classe C, indicam dados do IBGE e Serasa Experian.