Está ficando cada vez mais comum ouvir histórias de brasileiros que trabalhavam em empregos com carteira assinada até o início da pandemia de Covid-19 e, após serem demitidos, precisam partir para a informalidade para garantir alguma fonte de renda.
Afinal, além da doença já ter levado mais de 266 mil vidas apenas no Brasil, outro efeito da crise do coronavírus foi a alta nas taxas de desemprego: segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, cerca de 14 milhões de pessoas estavam sem trabalho registrado em carteira no trimestre de setembro a novembro de 2020.
Os dados da pesquisa feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelam, ainda, que a informalidade acompanhou o crescimento do desemprego no período e subiu 11,2% em relação ao trimestre anterior, atingindo 9,7 milhões de pessoas.
Por que a informalidade está em alta?
“Do ponto de vista econômico, o trabalho formal é um dos primeiros elementos afetados em crises econômicas e um dos últimos a ser recuperado”, conta o professor Marcus Salusse, da Escola de Administração de Empresas da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
De acordo com Salusse, a demora na reposição dos postos de trabalho perdidos leva as pessoas a procurarem oportunidades informais para que consigam manter a renda familiar. E, quando esses indivíduos se deparam com alguma exigência de formalização, o registro de MEI (Microempreendedor Individual) surge como principal alternativa.
No ano passado, a opção refletiu em um recorde nos indicadores: o número de abertura de novas empresas atingiu 3,36 milhões, o maior volume em dez anos. Dessas, cerca de 77% eram MEIs.
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Empreendedor ou sobrevivente?
Salusse, no entanto, ressalta que apesar de o MEI formalizar a criação de uma empresa, é preciso diferenciar quem procura o registro apenas para formalização e quem planeja, de fato, empreender.
“Temos que questionar se esses indivíduos realmente são empreendedores ou se eles são sobreviventes”. Nesses casos, o professor identifica a existência de uma dicotomia entre a necessidade e oportunidade: “não houve a identificação de um nicho promissor e a estruturação e planejamento para abrir um negócio. O que motiva essas pessoas é unicamente a necessidade de gerar renda para a família e para si”.
Como resultado, há um aumento da concorrência e diminuição da rentabilidade dos negócios, além da ausência de uma das marcas do empreendedorismo: a inovação. “O que estamos vendo é um ‘camelódromo’ com pouca estratégia e inovação, então as pessoas acabam brigando por preço e realmente fazendo o possível para garantir renda”, aponta o professor.
Como tornar o “bico” um negócio promissor?
Para virar a chave entre empreender para sobreviver e construir um negócio de sucesso, o especialista em empreendedorismo do Sebrae Nacional Enio Pinto explica que é preciso saber que empresas existem para oferecer soluções aos problemas diários dos consumidores.
“No contexto atual, os futuros empresários precisam pensar se o serviço que ele está planejando oferecer vai continuar sendo demandado do mesmo modo após a pandemia”, afirma Pinto, que também é gerente da Unidade de Relacionamento com o Cliente da entidade.
Para quem ainda não definiu seu segmento de atuação, o especialista indica que a escolha do empreendedor pode ser feita com a ajuda de três passos:
1. Faça uma lista das atividades que você gosta de fazer;
2. Escolha aquelas em que tenha um desempenho acima da média;
3. Observe se a atividade vai ao encontro de necessidades de outras pessoas. Pergunte às pessoas se estariam interessadas em pagar por esse serviço/produto.
Com o nicho definido, o especialista orienta que os microempreendedores tentem preservar o equilíbrio do caixa: “Com os decretos e avanços da Covid-19, o empreendedor pode se deparar com a queda nas vendas a qualquer momento”. Nessa hora, podem ser necessários cortes para manter o negócio em operação.
Conheça cursos gratuitos para empreendedores
Seja para quem ainda está iniciando a trilha do mundo dos negócios ou já tem alguma experiência em empreender, uma forma de alavancar o crescimento é por meio de cursos. Assim, é possível aprender mais sobre o funcionamento de uma empresa e manter-se sempre atualizado.
Para os principiantes, Pinto indica cinco cursos online que mais têm ajudado os potenciais empresários durante a pandemia: Gestão Financeira, Marketing Digital, Como Vender pela Internet, Aprender a Empreender e Atendimento ao Cliente. Todos são gratuitos, de curta duração e estão disponíveis no portal do Sebrae.
Há ainda uma página da entidade exclusiva para quem já se formalizou e registrou-se como MEI. Lá os microempreendedores encontram atualizações sobre medidas governamentais referentes ao cadastro e uma série de conteúdos que auxiliam na gestão dos negócios.