A demanda por crédito cresceu 38%, em março, na comparação com o mesmo mês de 2020. O percentual parece exageradamente alto e pode levar a conclusões precipitadas, mas de certa forma ele mostra uma retomada gradual da economia, mesmo com a segunda onda da pandemia. Temos de lembrar que março do ano passado foi marcado pelo início das medidas restritivas que visavam combater o coronavírus. Praticamente todos os setores da economia pararam. A Bolsa de Valores apresentou seus piores índices e, claro, a tomada de crédito despencou.
O que se temia no final de 2020 é que no primeiro trimestre de 2021 houvesse um aumento considerável dos índices de inadimplência. Isso porque muitas empresas tomaram empréstimos para equilibrar seus fluxos de caixa, a maioria por meio de programas governamentais. A vacinação era uma incógnita e a possibilidade de uma segunda onda da pandemia já era dada como certa. Ou seja, o que se via era a formação de uma tempestade perfeita com empresas e pessoas devendo e a economia parada novamente.
O cenário atual não é nada bom, mas podemos dizer que as previsões não estavam completamente certas. Os riscos ainda são reais, porém, não devem tomar as proporções estimadas. Por mais lenta que esteja sendo, a vacinação é uma realidade. E, se em 2020 quase ninguém estava preparado para as restrições de mobilidade, hoje a sociedade como um todo está muito mais digital. Se não tudo, boa parte se adaptou aos novos tempos, o que amenizou o impacto da crise sanitária. Resumindo, os 38% não parecem ser uma bolha ou uma busca desesperada por recursos para tentar sobreviver. É sinal de recuperação econômica, sim.
Novos projetos
Prova disso é que comparando março com fevereiro deste ano, o crescimento da tomada de crédito é de 2%, totalmente dentro da normalidade. Se esse ritmo for mantido, a previsão do Banco Central de que a demanda de crédito em 2021 seja cerca de 8% maior do que a de 2020 deverá se confirmar. Só para deixar claro, há sim empresas com problemas, mas parte dos empréstimos visam investimentos em novos projetos. No caso de pessoas físicas, o que se observa é que a tomada de crédito visa o consumo de eletroeletrônicos.
Nada mais natural em um cenário onde empresas precisam se tornar digitais e muitos trabalhadores, com a implementação do home office, precisam equipar suas residências com as ferramentas necessárias para o trabalho. Sem contar que a impossibilidade de se divertir em bares, restaurantes, teatros, cinemas faz com que a internet e a smartv sejam as únicas formas de lazer sem restrições. Quem não pode comprar à vista, mas pode assumir pequenas parcelas, vai às compras. E o resultado é que a economia começa a se movimentar, mesmo com tantas lojas de portas abaixadas.
Esse fenômeno é devidamente captado pelo Índice Neurotech de Demanda por Crédito (INDC). Em março, bancos e financeiras registraram aumento da demanda da ordem de 4%. O varejo anotou crescimento de 2%. O segmento de serviços teve uma queda acentuada de 19%, mas isso não chega a ser uma preocupação porque no acumulado de 12 meses é o segmento com maior crescimento com alta de 99% se comparado com março de 2020, enquanto bancos e varejo apresentam, respectivamente, alta de 30% e 58% na base anualizada.
As informações detectadas pelo INDC e por outros levantamentos são positivas e mostram a resiliência da nossa sociedade. Vale ressaltar que o uso da tecnologia contribuiu para a sustentabilidade do segmento de crédito na medida em que possibilita análises mais precisas do perfil de cada tomador, o que confere mais segurança às operações.
No entanto, é preciso ficar atento, pois a melhora desses dados estatísticos depende de fatores importantes relativos à condução da economia e da crise sanitária pelo governo e também às consequências do embate político envolvendo os três poderes. A forma como esses assuntos serão encaminhados ou um desfecho demorado pode piorar os indicadores e restringir a concessão de crédito, ferramenta tão importante para o bom desempenho de qualquer economia no mundo.
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