Menos de 20% da população brasileira foi vacinada contra a Covid-19. E, embora o ritmo de imunização tenha acelerado, a demora no início da vacinação e na entrega de novas doses não preocupa apenas em função da saúde. A economia também é diretamente afetada. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a economia brasileira encolheu 4,1% no ano passado.
De acordo com o especialista Emanuel Pessoa, Doutor em Direito Econômico pela Universidade de São Paulo, a demora na imunização em massa no Brasil afasta investimentos estrangeiros do país, que poderia registrar números bem maiores.
"Considerando a desvalorização do real, era para o Brasil estar recebendo investimentos altíssimos. Mas a dificuldade de vacinação, que contradiz o histórico nacional, que sempre foi de conseguir levar a cabo campanhas em tempo recorde, faz com que o receio de sucessivos lockdowns, demissões em massa e prejuízos nas empresas afastem os investimentos internacionais", diz.
Segundo Emanuel, o Brasil, que sempre foi a inveja do mundo na logística de aplicação de vacinas, vem deteriorando a sua imagem no exterior como destino de investimentos estrangeiros produtivos.
"A desvalorização do real torna o capital estrangeiro muito mais forte no território nacional. Ainda assim, não vemos esse investimento aqui no volume que se deveria esperar. E para entender isso, basta se colocar do lado de lá: se estivesse de fora, vendo a situação do país, você escolheria o Brasil para investir?", questiona o advogado.
Do ponto de vista do crescimento da economia, o advogado lembra que se espera que o PIB brasileiro cresça pelo menos 3,5% este ano. Contudo, com o agravamento da situação das quarentenas e o recente lockdown, as previsões que vão se sucedendo têm reduzido as expectativas, que originalmente eram de um crescimento de 4,5%.
"Assim, não obstante a questão da crise, a economia brasileira não irá recuperar em 2021 toda a perda de 2020. E isso é um problema, já que a década de 2010 foi uma década perdida em termos de crescimento da renda per capita, de modo que nós podemos ter o mesmo problema agora nos primeiros anos da década de 2020", afirma.
Mas a situação vai além da pandemia. O especialista explica que o problema da economia brasileira é estrutural: "Nós temos uma situação em que é muito difícil contratar e é muito difícil demitir, o que tira a agilidade da economia, como a gente vê nos Estados Unidos, onde rapidamente o mercado se recupera, bastando serem removidas as condições de crise, por causa da facilidade de contratação e demissão, além do crédito abundante na ponta".
"Por mais que a taxa de juros esteja baixa hoje no Brasil, isso não atinge a ponta porque a concorrência bancária é baixíssima, a inadimplência é historicamente alta e os empréstimos em geral tendem a não ter tantas garantias quanto ocorre no exterior. Então, as taxas de juros seguem altas para os tomadores. E aí, fica difícil sair desse ciclo", finaliza.
Com informações de Betini Comunicação.