O real brasileiro recomeçou a ganhar valor frente à moeda americana. O dólar, que atingiu seu patamar mais elevado após o anúncio da pandemia, alcançando o valor de R$ 5,85 em fevereiro de 2020, teve nesta segunda-feira (21), uma das suas mínimas mais relevantes dos últimos dois anos, fechando o dia negociado a R$ 4,94.
De acordo com Mariana Gonzalez, especialista em mercado financeiro do ISAE Escola de Negócios, uma combinação de fatores locais e externos trouxe um forte fluxo de capital estrangeiro que contribuiu para o ganho de força do real, entre eles a alta da taxa de juros básica.
“Em termos de juros, sempre fomos um país atraente do ponto de vista do investidor estrangeiro, com uma das mais altas taxas do mundo comparado aos pares emergentes. Agora, com a Selic a 11,75% – com possibilidade de ultrapassar 13% ainda neste ano – mais ainda”, diz.
Outro fator importante é o preço descontado das empresas brasileiras na bolsa de valores, que apontam grande fluxo de capital estrangeiro não só para renda fixa.
“Observamos um grande interesse externo nas empresas brasileiras listadas na bolsa que estavam sendo negociadas a preços relativamente baixos, com uma das melhores relação preço/lucro desde a pandemia”, afirma a especialista.
Os números positivos nas exportações também são responsáveis pela valorização do real brasileiro. “Nosso país é um grande exportador mundial de commodities, como o minério de ferro e a soja. O preço das commodities em alta e as safras recordes fizeram com que tivéssemos o maior saldo positivo histórico entre as exportações e importações”, comenta.
Mais queda?
Contudo, a especialista não enxerga sinais de que o dólar deva continuar em patamares mais baixos ou mesmo ter um novo recuo.
“Podemos presenciar forças contrárias voltando a elevar o câmbio, como por exemplo a inflação americana pressionando o Banco Central Americano a subir suas taxas de juros”, aponta.
“Além disso, o cenário político brasileiro segue desfavorável, devido a aproximação das eleições, o abandono das reformas estruturais e a constante ameaça ao teto de gastos, o que pode reverter o fluxo positivo do real”, finaliza Mariana Gonzalez.