Em mais um dia de caos nos mercados, o dólar encerrou esta segunda-feira (16) cotado a R$ 5,047, renovando sua máxima histórica com uma alta de 4,86%.
No acumulado de 2020, o divisa já viu seu valor crescer mais de 20% em relação ao real. E mais: segundo levantamento de fevereiro da consultoria Tendências, a moeda brasileira foi a que mais perdeu na comparação com o dólar.
Mas por que nossa moeda se enfraqueceu tanto? Para Ítalo Abucater, gerente da mesa de câmbio da Tullett Prebon, a resposta da questão está em vários fatores.
“Primeiro, temos que considerar que há uma sazonalidade da moeda, todo trimestre há saída de dólares do país”. Com o pagamento de dividendos e repatriação de dívidas, por exemplo, estávamos muito vendidos em dólar, explica o especialista.
Somado a isso, o ambiente doméstico não ajudou a trazer os dólares dos investidores para o país. “O atraso das reformas não passou uma mensagem de credibilidade”, lembra Abucater. Por fim, o impacto do coronavírus, que não foi previsto pelo mercado, deu o toque final na receita para o dólar nas alturas.
Além disso, o dia de hoje, especialmente, jogou a divisa norte-americana lá em cima, explica Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Trevisa. “Estamos no reflexo das decisões dos Estados Unidos”, diz. “O corte de juros emergencial do Fed preocupou a todos”.
A aversão ao risco e as bolsas mundiais em queda livre atraíram os investidores para a moeda, considerada um porto seguro em momentos de crise. “Todos viram compradores de dólar”, aponta Galhardo.
E daqui pra frente?
O BTG Pactual, por exemplo, já atualizou suas estimativas. Antes, o cenário-base era que o dólar terminasse o ano valendo R$ 4,10. Hoje, a projeção é que a cotação fique em R$ 4,35 no fim de 2020.
“Estamos numa sinuca de bico”, acredita Ítalo Abucater. “O movimento global aponta para queda de juros, mas isso desvalorizará ainda mais o real”. Hoje, seguindo os passos do Federal Reserve, o banco central japonês e o canadense baixaram suas taxas básicas. No Brasil, os olhos se voltam para a reunião do Copom, na próxima quarta-feira.
Além disso, as perspectivas para atrair dólares para o país não são animadoras, afirma Reginaldo Galhardo. “Os países emergentes são quem sofre mais”, afirma o especialista Além da insegurança jurídica, a agenda de reformas, cada vez mais atrasada pelo relacionamento conturbado entre Legislativo e Executivo, afasta os investidores.