Dólar às alturas

Dólar fica estável no dia, mas cotação acima de R$5,50 denuncia nervosismo

Nesta sessão, a moeda variou de 5,5330 reais (+0,32%) a 5,4776 reais (-0,69%)

-
-

Por José de Castro, da Reuters – O dólar terminou a sessão no mercado à vista praticamente estável frente à taxa da véspera, com as operações locais replicando um dia de poucas variações nos ativos financeiros internacionais, após a divulgação de dados de emprego nos EUA pouco terem mexido nas apostas sobre corte de estímulos por lá.

O dólar terminou esta sexta-feira (8) em 5,5154 reais, ante 5,5155 reais na quinta. Nesta sessão, a moeda variou de 5,5330 reais (+0,32%) a 5,4776 reais (-0,69%).

Aqui, o IPCA de setembro trouxe algum alívio aos mercados em geral, o que ajudou a evitar que o dólar sustentasse alta, apesar de a inflação ainda ter vindo com números superlativos e do anúncio nesta sexta-feira de aumento no gás e na gasolina.

A inflação na margem foi a mais alta para setembro no período do Plano Real, enquanto o acumulado em 12 meses superou os 10%.

As taxas de DI na B3 (SA:B3SA3) – uma medida das projeções de juros pelo mercado– despencaram cerca de 20 pontos-base no fim da tarde, mais do que devolvendo o rali da véspera motivado por posições defensivas justamente por causa do IPCA. E o principal índice das ações domésticas saltou 2,03%, amparado pelo número de inflação menos pressionado.

No fim das contas, investidores entenderam que o saldo entre dados de emprego nos EUA mais brandos e uma inflação no Brasil abaixo do esperado, mas ainda pressionada, indica manutenção do cenário atual: de proximidade de corte de estímulos nos EUA e de prosseguimento de altas de juros pelo Banco Central.

E o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que as expectativas para os preços neste ano devem piorar após o anúncio nesta sexta de aumento no gás e na gasolina.

"Isso (a alta no gás e na gasolina) vai repercutir em toda a cadeia produtiva, gerando mais inflação. E o pessoal espera que isso faça o BC aumentar mais os juros", disse Lucas Schroeder, diretor de operações da Câmbio Curitiba. Campos Neto tem dito que os juros irão aonde for necessário para colocar a inflação na meta em 2022.

Juros mais altos tenderiam a aumentar o "colchão" de retorno que a taxa de câmbio oferece para o investidor que monte posição comprada em real (vendo apreciação da moeda). A taxa implícita de retorno nos contratos a termo de câmbio (NDF) está em torno de 8,3% ao ano para o vencimento de um ano, bem acima dos 2,3% do começo de 2021 e da taxa básica de juros da economia (+6,25%).

Ainda assim, o real não dá sinais de reação. A moeda brasileira amargou o pior desempenho nesta semana em relação a alguns pares emergentes, emendando a quinta semana consecutiva de perdas e mantendo-se próximo de mínimas desde abril.

O dólar saltou 2,72% nesta semana, maior acréscimo desde a série finda em 9 de julho (+4,01%). Foi a quinta alta semanal consecutiva, sequência mais longa desde as sete semanas de valorização de meados de fevereiro ao começo de abril de 2020 –portanto, em plena turbulência global por causa do início da pandemia de Covid-19.

Em relatório, o banco francês Société Générale (PA:SOGN) disse estar com alocação "abaixo da média do mercado" em América Latina, com visão "pessimista" para México e, "especialmente", Brasil.

"Preocupações políticas internas aumentam a incerteza no Brasil, com a queda na popularidade do presidente Bolsonaro se traduzindo em adiamento de reformas e ajustes fiscais, enquanto o candidato de esquerda Lula lidera as pesquisas da eleição presidencial de 2022", disseram estrategistas do banco.

Em outubro, o dólar avança 1,21% ante o real, elevando os ganhos no ano para 6,24%.