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Dólar seguirá alto, juro baixo e cenário externo vai ajudar menos o crescimento, diz Itaú

Itaú
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O dólar deve continuar pressionado, em uma faixa perto de R$ 4,00, com o real pressionado pelo fortalecimento da moeda americana, afirma Mário Mesquita, economista-chefe do Banco Itaú. Ele também espera que os juros caiam para 5% ao ano este ano e fiquem nesse patamar por muito tempo, pelo menos até o fim do ano que vem, como forma de incentivar os investimentos para reaquecer a economia, que segue fraca. Já o cenário externo piorou e o Brasil e outros países emergentes não devem contar com o crescimento mundial para ajudar suas economias.

Mas as contas públicas brasileiras vão melhorar com a aprovação da reforma da Previdência, apesar de ela não ser suficiente para deter o crescimento da relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB). “A Previdência e o combate às fraudes resolvem 60% do problema fiscal, conseguimos ter superávit primário novamente em 2022, mas serão necessárias outras reformas para o país conseguir reduzir o endividamento”, afirmou durante apresentação a jornalistas. Entre as medidas complementares para ajustar as contas públicas estariam não corrigir os salários dos funcionários públicos e manter o salário mínimo sem reajustes reais, além de reduzir o número de beneficiários do PIS/Pasep.

Segundo Mesquita, que foi diretor do Banco Central e foi cotado para presidir o banco no governo de Michel Temer, a economia mundial deve perder fôlego nos próximos anos, com os Estados Unidos desaquecendo depois de vários anos de crescimento e China e Europa afetadas pela guerra comercial. Assim, o crescimento mundial médio deve cair de 3,7% em 2017 e 2018 para 3,2% este ano e 3% no ano que vem. Ele não acha que o mundo está entrando em uma crise, mas há o risco, observa, e alerta para problemas na Europa, por conta do impacto do desaquecimento chinês sobre a Alemanha, a crise política na Itália e a saída do Reino Unido da União Europeia. “Isso joga um vetor de baixa para a atividade na Europa, e a consequência disso são juros mais baixos, com o Banco Central Europeu cortando as taxas e dando mais incentivos”, diz. Esse deve ser um dos temas da reunião dos bancos centrais do mundo nesta semana, nos Estados Unidos, em Jackson Hole.

Essa situação vai afetar os países emergentes, que tendem a também cortar suas taxas de juros, ao menos os que estão com suas economias mais em ordem. No caso da América Latina, o Chile já cortou seu juro em 0,5 ponto e deve voltar a cortar os juros em setembro. Peru também pode reduzir os juros esta semana e o México, que reduziu a taxa básica de 8,25% para 8%, l juro deve cair para 7,25% no fim do ano. O Brasil está entre os países que tem espaço para cortar os juros, com a inflação controlada e o desemprego ainda alto, além de equilíbrio das contas externas. “Antes, o BC subia os juros nas crises, agora ele vai cortar”, diz. Ele chama a atenção também par ao fato de os juros no Brasil estarem mais baixos que os do México. “Já não somos mais o país do carry trade (operação em que os especuladores tomam recursos baratos em um país e aplicam em outro que têm juros maiores)”.

Segundo Mesquita, os países andinos devem ter um desempenho econômico melhor na América Latina. Já o México sofre com incertezas locais pelo novo governo socialista e com o vizinho EUA. “Os investidores mexicanos agora temem pois os aumentos de tarifas não são só por questões comerciais, mas por qualquer motivo”, diz, em referência à decisão de Donald Trump de tributar importações mexicanas se o país não controlar o fluxo de imigrantes.

No Brasil, o real vai continuar pressionado, mais pela força do dólar no exterior do que pela fraqueza da moeda brasileira, acredita Mesquita. O diferencial de juros entre Brasil e EUA será menor também e o ambiente de juros mais baixos em outras economias desenvolvidas devem continuar pressionando o dólar para cima. Mas Mesquita acredita que, passado o receio de uma recessão global, o dólar voltará para perto de R$ 3,80. “Mas esse patamar de três reais perto de quatro e quatro veio para ficar”, diz.

Na atividade econômica, o Brasil continua com o risco de uma recessão, com os primeiros indicadores de produção industrial e serviços do terceiro trimestre mais fracos. “Mas os números que temos são apenas 15% do total, então não dá para ter muita certeza”, diz. Ele afirma, porém, que não pode ser descartada a chance de uma recessão no terceiro trimestre. “A economia não está reagindo e o investimento é o principal motivo disso”, diz. Por isso, diz Mesquita, a taxa básica Selic tem de cair mais e ficar baixa por muito mais tempo, para incentivar os investimentos.

Ele espera que a reforma da Previdência seja aprovada até o fim de setembro no Senado e vá para sanção presidencial no começo de outubro, com uma economia equivalente a 1,8% do PIB. O banco acredita ainda que a reforma da Previdência dos Estados e municípios pode ser retomada, o que traria uma economia de mais R$ 288 bilhões em 10 anos, ou 0,4% do PIB.

Mesquita destaca a mudança na situação fiscal do país. “Nossa situação era insustentável e agora avançamos muito no ajuste fiscal, mas não nos recuperamos totalmente da crise fiscal”, diz. Ele lembra que o país registrou o último superávit primário (diferença entre despesas e receitas do governo) em 2015 e deverá voltar a ter superávits somente em 2022. “São sete anos de déficit primário consecutivos”, observa. E, sem o ajuste da Previdência, o déficit primário atingiria 4% do PIB em 2027.

Segundo ele, a reforma da Previdência afasta o risco de insolvência do governo brasileiro e viabiliza o teto de gastos por mais alguns anos. “Mas a reforma não é suficiente para resolver o problema fiscal, apesar de ser necessária”, alerta.

Sobre a reforma tributária, ele espera que ela seja neutra, ou seja, não aumentará a arrecadação. Mas será essencial para simplificar o sistema tributário. “O ideal será a aprovação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) nacional, mas há muitos interesses conflitantes nessa discussão”, lembra. Ele critica a proposta de um imposto sobre transações financeiras, que por ter uma alíquota mais alta que a CPMF, de quase 1% sobre créditos e débitos, poderá incentivar a desintermediação financeira, o uso de papel moeda e a informalidade na economia.

Mesquita acha também que a desaceleração da China é mais relevante para o Brasil do que a crise na Argentina. Ele lembra que os argentinos já estavam fora do mercado financeiro internacional por sua história complicada com o sistema financeiro internacional e problemas de crédito anteriores. “É o único país com um programa de ajuda com o Fundo Monetário Internacional (FMI)”, lembra, acrescentando que esse relacionamento deve continuar.

A participação da Argentina nas vendas externas brasileiras é pequena. Hoje, 30% das exportações brasileiras vão para a China, 20% para os Estados Unidos e 5% apenas para a Argentina. Além disso, a China define os preços das commodities exportadas pelo Brasil. O impacto da Argentina seria mais no segmento de manufaturados. Para cada 10% de queda na produção industrial da Argentina, as exportações brasileiras cairiam 50%. Se a produção industrial argentina cair, portando, 5%, o impacto seria de 25% nas exportações brasileiras. Isso seria equivalente a uma queda de 0,2% do PIB. “Mas se contarmos com a liberação do FGTS que o governo anunciou, que vai ter um impacto perto disso, de 0,2%, isso eliminaria o impacto da Argentina”, explica Mesquita.

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