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Eleições 2022: quem vai aparecer na tela?

A próxima eleição presidencial deveria ser uma oportunidade de "despolarização" da vida política do país, mas o caminho para superá-la passa por renúncia, modéstia e desapego, atitudes incomuns para políticos em geral

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"A próxima eleição presidencial deveria ser uma oportunidade de “despolarização” da vida política do país. A polarização tem envenenado e paralisado a pauta do desenvolvimento econômico e social. Entretanto, o caminho para superá-la passa por renúncia, modéstia e desapego, atitudes incomuns para políticos em geral."

Um número considerável de brasileiros – deveriam ser todos – está preocupado com as opções que aparecerão na tela da urna eletrônica no segundo turno da eleição presidencial de 2022. Todas as atuais pesquisas e análises de diferentes comentaristas apontam para a disputa Bolsonaro x Lula. 

Mesmo faltando dezoito meses para a eleição e mais de um ano para o início da campanha, é quase certo que, ao menos, um dos dois estará na disputa final. Há, ainda, diversos condicionantes que poderão modificar o esperado cenário, entre eles a retomada das ações judiciais contra Lula. Pesam contra Bolsonaro a possibilidade de impeachment, bastante improvável, e o aprofundamento da crise econômica, independentemente do agravamento da pandemia.

Ambos detêm eleitorados cativos, com percentuais entre 10% e 15%, que os colocariam no patamar do segundo colocado no primeiro turno das últimas eleições. Igualmente, ambos têm condições de ampliar essa base de eleitores e chegar na frente ao final do primeiro turno.

A verdade é que nenhuma eleição presidencial, em qualquer país, tem mais de três candidatos com chances efetivas de vitória e, no caso brasileiro, esse terceiro candidato é a grande incógnita. O título falso e pretensioso ele já tem: o candidato do centro ou a terceira via. E só.

Falso e pretensioso por duas razões. A primeira é que a noção de centro em política é bem diferente da noção espacial. Há vários centros. Se, felizmente, em sociedades civilizadas, os extremistas são, sempre, a minoria, é de se esperar que a maioria dos candidatos procure se situar no espaço em que se encontra a parcela mais expressiva do eleitorado.

Claro que temos no Brasil, como em todo lugar, radicais de esquerda e de direita, mas, somados, eles representam uma parcela bem pequena do eleitorado. A segunda razão é que tanto Lula quanto Bolsonaro têm, na ação, posições que os afastam de suas identificações óbvias.

O insubordinado capitão do Exército posa de liberal na economia, mas não admite que mexam nas suas estatais e corporações (caminhoneiros e funcionários públicos civis e militares) de estimação. É mais estatizante que o “neoliberal de esquerda” FHC, por exemplo.

De sua parte, o eterno candidato do PT já mostrou na prática, em dois mandatos, na vida pública e privada, que é um amante do Capitalismo. A FEBRABAN e a FIESP estenderão tapetes vermelhos, patrocinados pelo pessoal da Faria Lima, em sua eventual volta.

Uma das formas de tentar decifrar essa terceira via é olhar o manifesto dos presidenciáveis, publicado na semana em que o presidente teria tentado cooptar as Forças Armadas para um hipotético autogolpe. Foram seis signatários Ciro Gomes, João Dória, Henrique Mandetta, João Amoedo, Eduardo Leite e Luciano Huck e duas significativas ausências: Levy Fidélix e Sergio Moro, também, candidatíssimos. Para ficar apenas nos seis que assinaram, dá para perceber um grupo bastante heterogêneo e com arestas difíceis de aparar. O texto não poderia ser melhor, nem mais apropriado para o momento, mas as convergências acabam no papel. 

A despeito dessas diferenças, uma alternativa se impõe: restringir o número de candidatos já na disputa do primeiro turno, em favor de um ou dois mais viáveis. Essa união, infelizmente, não pode esperar para acontecer no segundo turno, porque, nesse caso, abrirá espaço para a confirmação das profecias: Lula e Bolsonaro irão para o segundo turno.

Fácil de imaginar, dificílima de realizar a desejada união do “centro”. A Via Láctea não comporta as vaidades somadas de Ciro e Dória; Huck e Amoedo disputam os mesmos cofres; Mandetta e Eduardo Leite precisam de financiadores e eleitores. Sem contar que Ciro já ofendeu quase todos e os que ainda faltam serão ofendidos antes de Maio chegar. 

Ciro tem a experiência de várias campanhas, Dória tem a vacina, Huck tem a audiência, Amoedo tem dinheiro, Eduardo tem para onde voltar e tempo para esperar, Moro e Mandetta têm a ira de Bolsonaro e Levy tem o aerotrem. A todos, ainda falta o essencial: votos. 

A opinião e as informações contidas neste artigo são responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, a visão da SpaceMoney.