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Entre altos e baixos, GPA tem espaço para continuar apresentando bons resultados, aponta analista

Somente em março, as ações do varejista de alimentos se valorizaram mais de 40%

- Divulgação
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Hoje o maior varejista de alimentos da América Latina, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) começou sua história em 1948, com a inauguração de uma pequena loja em São Paulo, a Doceira Pão de Açúcar. O discreto estabelecimento daria origem a uma empresa que, em 2021, conta com 1,5 mil lojas, sendo 58% no Brasil, 34% na Colômbia, 6% no Uruguai e 2% na Argentina. 

A trajetória de 73 anos do GPA é marcada por aquisições, fusões e cisões, sendo, hoje, parte do francês Grupo Casino e dona de marcas famosas do varejo brasileiro, como Extra e Qualitá. E, em março deste ano, sua ação (PCAR3) foi a que mais se valorizou (40,12%, segundo dados da Investing.com) dentre os papéis do Ibovespa, o principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3. 

A estreia do GPA na bolsa de valores  aconteceu em 1995. À época, a companhia recebeu um valor indicativo equivalente a US$ 150 milhões, com compra mínima de ações em R$ 1.000. Importante ressaltar que essa foi a primeira vez que uma empresa de controle totalmente nacional realizou uma emissão global de ações (no Brasil, Estados Unidos e Europa).

Separação

Em 2020, deu-se início à mais recente operação societária relevante no Grupo Pão de Açúcar, que é a cisão com o Assaí. O motivo da separação, segundo os executivos do grupo, foi destacar melhor o papel das empresas e, assim, "liberar valores" delas. Na sua visão, o movimento era necessário para que ambas as companhias tivessem um melhor "foco" nos seus respectivos modelos de negócios e oportunidades de mercado, de acordo com uma nota divulgada pela assessoria de imprensa do GPA.

Igor Cavaca, analista de investimentos da corretora Warren, explica a operação: "A depender do tipo de empresa, eu não consigo, dentro daquela estrutura, trabalhar com uma alavancagem maior. Mas caso eu faça uma cisão eu tenho estrutura de negócio, da empresa que foi cindida, que é sólido o suficiente e é possível que eu consiga alavancar isso em relação à estrutura que eu tinha anteriormente".

No dia 26 de fevereiro deste ano, as duas empresas se separaram de fato. E a PCAR3, que iniciou março valendo R$ 23,68, viu seu preço aumentar gradativamente até fechar o mês cotada a R$ 32,30, o que representa uma valorização acumulada de 40,12%. 

Segundo Cavaca, o que explica esse comportamento é um movimento de reprecificação. Isto é, os investidores passaram a "readequar" o valor das ações do GPA de acordo com seu valor de mercado após a cisão.

"No momento em que as empresas são divididas, há um entendimento de que aquilo poderia ser muito negativo para o GPA. Porém, o que a gente viu em março foi um reentendimento do mercado de que não, não foi que o Assaí saiu e 80% da receita e da rentabilidade do Pão de Açúcar também saíram", explica Igor.

"Na verdade, o mercado entendeu que isso estava um pouco errôneo daquela primeira estimativa que eles tinham feito no final de fevereiro e agora fazem uma nova reprecificação dos ativos divididos. Então, o que a gente tem agora, bem claro, é o que é do Pão de Açúcar e o que é do Assaí, o que de receita tá sendo gerado pelo Assaí e pelo GPA e como eles vão se comportar nessa estrutura que foi cindida", completa.

Para o analista, é possível que as ações do GPA continuem apresentando esse movimento de reprecificação ao longo deste mês de abril: "a gente deve ver um cenário de correção. O que acontece é que o mercado está reprecificando. O GPA veio de um prejuízo para um resultado muito bom em 2020", diz. "O mercado entendeu que de fato existia bastante potencial no GPA".

Prospecto

Os resultados de 2019 do Pão de Açúcar se mostraram, no mínimo, desafiadores: o lucro do GPA alcançou R$ 790 milhões, cifra 31% menor ao registrado em 2018, de R$ 1,14 bilhão.

A crise, entretanto, só veio para alguns. Em 2020, o grupo registrou bons resultados, acima das expectativas dos analistas. Para a XP Investimentos, o GPA reportou resultados do 4T20 "sólidos", com rentabilidade em "níveis recordes".

No quarto trimestre de 2020, a empresa de varejo reportou um lucro líquido de R$ 1,59 bilhão, alta de 1.604% ante o registrado no quarto trimestre de 2019. A receita líquida de vendas ficou em R$ 14,7 bilhões, um crescimento de 58,4% quando comparado com o 4T19.

O que pode explicar esse movimento é, entre outros fatores, a mudança de hábitos provenientes da pandemia do novo coronavírus. Para Igor, as medidas de restrição de circulação favoreceram o setor de supermercados como um todo, e isso impactou diretamente os negócios do GPA. 

Com as medidas de restrição, o capital das pessoas que antes era destinado a outros setores acabaram sendo redirecionados ao setor de supermercados. Para 2021, a expectativa é de que o setor no qual o GPA está inserido continue performando bem, o que favorece os resultados da companhia.

"A gente vai ver o fluxo que a gente viu em 2020 continuando nesse primeiro semestre de 2021 no setor de supermercados, muito porque continuamos com a medida de isolamento e também por causa do aumento da Covid, pois a gente tem um aumento de incerteza econômica para 2021, e isso faz com que as pessoas mudem o comportamento de consumo. Em geral, as pessoas passam a reduzir nosso consumo de luxo e passam a consumir os de primeira necessidade, que é, em geral, o que os supermercados vendem".