Por Ana Carolina Siedschlag
Investing.com – Nascida de ex-executivos e a poucas quadras de onde surgiu a XP, a Warren, com sede em Porto Alegre (RS), entrou na briga para assumir a terceira posição entre as maiores corretoras do Brasil.
A ideia dos irmãos Tito e André Gusmão e Rodrigo Grundig nasceu em 2013, nos EUA, quando o primeiro trabalhava no escritório da XP em Nova York. Segundo Tito, em entrevista ao Investing.com, foi nesta época em que ele se deparou pela primeira vez com o termo fintech, de soluções de tecnologia para questões financeiras, já conhecido nos EUA, mas ainda obscuro no Brasil.
“Para ser sincero, eu fui para Nova York porque estava cansado do escritório daqui e também queria construir um projeto à parte. Depois de um tempo, pedi para sair da empresa, já montando a Warren em paralelo. Achei meus dois sócios, montamos um protótipo nos EUA e apresentamos na maior feira de tecnologia do país, ficando entre os 10 melhores. Foi uma validação para o que estávamos fazendo”.
No entanto, ele conta que os ventos mudaram e, por uma questão de oportunidade e de mudança na Instrução 558 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que facilitou o exercício profissional de administração de carteiras no país, os sócios decidiram que a Warren abriria as portas no Brasil, e não nos EUA.
Começaram, então, a estudar qual cidade poderia abrigar a sede da nova corretora, chegando na capital gaúcha por uma clara e única demanda: profissionais especializados em tecnologia.
Na entrevista a seguir, ele conta como é a presença em São Paulo e em cidades menores da região Sul e como a corretora deve abrir um escritório em Nova York ainda este ano. O objetivo de longo prazo: ficar entre as três maiores do Brasil.
Investing.com: De onde surgiu a ideia da Warren?
Tito Gusmão: Trabalho há 20 anos no mercado, e 10 foram na XP. Entrei quando tinham 20 a 30 pessoas, aqui em Porto Alegre mesmo – inclusive, estamos a duas quadras de onde a XP nasceu. Depois, fui para o Rio e para SP, até que nasceu a missão de montar a XP em Nova York. Aí, lá por 2012 ou 2013, eu me deparei com uma palavra que está muito na moda hoje, mas que não se conhecia tanto na época: a tal da fintech. Empresas usando tecnologia para resolver problemas de dinheiro.
Para ser sincero, eu fui para Nova York porque estava cansado do escritório daqui e também queria construir um projeto à parte. Nova York é o centro das fintechs, tem muita empresa legal não só resolvendo problemas de investimento, mas de crédito e com outras soluções, e isso me inspirou. Depois de um tempo, pedi para sair da empresa, já montando a Warren em paralelo, achei meus dois sócios, montamos um protótipo nos EUA e apresentamos na maior feira de tecnologia do país, ficando entre os 10 melhores. Foi uma validação para o que estávamos fazendo. Mas os ventos mudaram e viemos para o Brasil.
Inv.com: Por quê?
TG: Primeiro porque a CVM mudou uma regra, a Instrução 558. Com isso, ia ser mais leve e fácil começar a Warren no Brasil. A regra ia começar a valer em 2017, e nós abrimos as portas em março de 2017, então o timing seria perfeito. E o segundo motivo é que, apesar do mercado americano ser gigantesco, o brasileiro tem muito mais oportunidade. Cerca de 92% do dinheiro dos brasileiro está em cinco bancos, investido em produtos horríveis. Hoje a poupança tem mais de um trilhão de reais. E não é que ela só tenha baixa performance, ela de fato perde dinheiro. Todo mundo que deixou dinheiro na poupança ano passado, perdeu quase 3% do investido no ano. É uma indústria conflitada no Brasil, a oportunidade é muito grande.
Inv.com: Oportunidade para abocanhar fatia dos bancos?
TG: Talvez a mola propulsora não é só a presença mais forte das corretoras, mas principalmente a taxa de juros baixa. Antigamente, dava para deixar dinheiro num produto meia boca no banco que ia ganhar um pouco de rentabilidade. Agora não dá mais. Você precisa ir para uma plataforma de investimentos, precisa saber investir e precisa ter, do outro lado, alguém te ajudando a investir. E eu estava desde o início, ajudando a montar a XP. Como a gente já trilhou esse caminho uma vez, já sabíamos os erros, então a nossa decisão foi vir para cá para fazer o mesmo, mas sem repetir isso.
Inv.com: E como chegaram – ou voltaram – a Porto Alegre?
TG: A primeira decisão foi para onde vamos no Brasil? São Paulo e Rio são centros com custos muito altos e profissionais muito disputados. Ficamos entre Floripa, BH e Porto Alegre. Acabamos ficando com Porto Alegre por causa da forte presença de desenvolvedores por aqui. Se BH é a cidade com maior número de bares por metro quadrado, Porto Alegre é provavelmente a maior em número de software houses.
E, apesar de sermos uma instituição financeira, o que somos mesmo é uma empresa de tecnologia. Se hoje são 400 pessoas, metade são desenvolvedores. Não foi uma decisão de não estarmos na Faria Lima, mas de precisarmos mais de profissionais dessa área.
Inv.com: Mas também estão em São Paulo.
TG: Cerca de 60% dos nossos clientes são de São Paulo. Nossa base forte de time está em Porto Alegre, mas temos estrutura em oito cidades e mais em Nova York, que iremos abrir no segundo semestre. No escritório em São Paulo, temos 50 pessoas. Em Porto Alegre são 300, e, no Rio, 10 a 15. E depois vem os nossos escritórios de relacionamento com clientes, como Floripa, Jaraguá do Sul, Joinville, Blumenau, todas em Santa Catarina, e em Curitiba. Esses têm times menores, de 3 a 4 pessoas.
Inv.com: Por que a presença em Santa Catarina?
TG: No meio do caminho, compramos a Patrimono, até então o maior escritório de agentes autônomos da XP em SC. Eles iam montar operação nessas cidades e nós naturalmente assumimos os escritórios deles. Também, em uma das rodadas de investimentos, entrou a WPA, o family office da WEG (SA:WEGE3). E aí, mais uma vez, o destino foi nos levando para a região Sul.
Inv.com: E quais os próximos passos?
TG: Dominar o mundo [risos]. Nossa missão é de longo prazo. Ninguém está aqui para vender para banco, por mais que tenhamos recebido ofertas desde bancão até de banco moderno. Queremos ajudar a investir. Tem gente que gosta da sopa de letrinhas, CDB, FIA, FIC, LCA. Mas o ser humano normal quer investir bem, mesmo tendo outra profissão. Dado que é muito difícil, eles delegam isso a terceiros, ou para o gerente do banco ou para a corretora. No banco, vão te oferecer uma poupança, empurrar produtos ruins. Na Warren, queremos que a tomada de decisão não seja qual produto vai comprar, mas para quê você quer investir. Porque quer ter um patrimônio de longo prazo, porque quer ter uma reserva de emergência, porque quer viajar. A gente recheia esses objetivos. No fundo, o objetivo mesmo é brigar para ser uma das três maiores: estar lá, XP, BTG (SA:BPAC11) e a Warren.
Inv.com: Acha que o interesse das PFs por mercado financeiro vai continuar a crescer?
TG: Quando a bolsa chegou aos três milhões de CPFs, todo mundo ficou muito feliz porque eram 1,5 milhão um ano atrás e agora dobrou. Mas, se olhar, são três milhões de CPFs, entre mais de 200 milhões de pessoas. Nos EUA, mais de 50% das pessoas investem em ações, então tem um caminho muito longo ainda. Sobre a renda fixa, ela não vai morrer, vai ressurgir das cinzas, como uma Fênix, com produtos mais sofisticados.
Inv.com: Quais, por exemplo?
TG: A indústria de fundos imobiliários nos EUA é gigantesca. Não existe um prédio lá que não seja um fundo imobiliário. Isso vai acontecer cada vez mais aqui. Produtos como os Títulos do Tesouro vão continuar existindo, mas cada vez mais as pessoas vão se interessar por produtos mais atraentes.
Lançamos em 2019 o fundo de investimentos Warren Green, com métricas baseadas em ESG. Não foi simplesmente porque entendemos que essas empresas têm que cuidar da natureza, mas porque entendemos que as empresas que cuidam da natureza vão entregar mais performance à frente. O mesmo vale para o Equals, que coloca empresas com mulheres em cargos de liderança. Está dando surra no Ibovespa e, de novo, não é porque estamos levantando essa bandeira, mas porque, comprovadamente, as mulheres que gerem empresas entregam melhores resultados. Queremos dar mais retorno aos nossos investidores. É um pouco do que os EUA têm com a indústria de ETF [fundos de índices]. Compra um e automaticamente está comprando uma cesta de ações para investir no que quiser, em games, tecnologia, indústria do cinema. É muito na nossa linha de criar os nossos próprios fundos temáticos.