Para algumas pessoas, o TikTok é só uma rede social que preenche os momentos de tédio. Para outras, esse nome não quer dizer nada. Para Donald Trump, é um motivo de brigas com a China, um vetor de roubo de dados, e uma peça política em seu jogo eleitoral.
E você? Já ouviu falar do TikTok? Talvez tenha visto esse nome nas últimas semanas em notícias sobre EUA e China. Seja como for, a plataforma de criação e compartilhamento de vídeos curtos vem chamando cada vez mais atenção.
Com mais de 800 milhões de usuários pelo mundo, trata-se da rede social chinesa com maior sucesso a nível global. Foi o aplicativo mais baixado na AppStore, loja de aplicativos da Apple, em 2019; e conta com 100 milhões de usuários ativos por mês tanto na Europa quanto nos EUA.
Um outro ponto que se destaca é a faixa etária dos usuários: 41% têm entre 16 e 24 anos, segundo levantamento da Sensor Tower, empresa de análise de mercado.
Mas o que o TikTok tem a ver com discussões diplomáticas internacionais?
Recolhimento de dados
Onde há fumaça, há fogo — e onde há redes sociais, há recolhimento de dados dos usuários. Donald Trump, presidente dos EUA, acusou explicitamente o aplicativo de estar invadindo a privacidade dos estadunidenses e fornecendo as informações reunidas ao governo chinês.
Acusações da mesma natureza já foram feitas a empresas norte-americanas. Notadamente, o Facebook (que também detém o Instagram e o Whatsapp) foi e é acusado por violar a privacidade dos usuários. Por conta de problemas com dados, a gigante americana teve que pagar 110 milhões de euros após ser multada pela União Europeia em 2017.
Mas o problema de Trump não é bem com o recolhimento invasivo de dados, e sim com o destino desse conteúdo. Wagner Parente, CEO da consultoria BMJ, comenta: “Tudo é dado, tudo é informação. Quem controla essa informação vai ter protagonismo no futuro — e os Estados Unidos sabem disso”.
Enquanto os EUA ameaçam banir o aplicativo, a Índia já o proibiu em território nacional, pelos mesmos motivos. O TikTok nega as acusações de repasse de dados para o governo chinês.
Donald Trump não é fã do TikTok
Em junho, usuários da rede organizaram um boicote a um comício do presidente norte-americano na cidade de Tulsa, Oklahoma. Eles incentivaram pessoas que não tinham a intenção do comparecer ao evento a confirmar presença pela internet.
Após sua equipe ter divulgado que esperava mais de um milhão de participantes, Trump só descobriria o boicote no dia do evento, quando apenas 6 mil pessoas realmente compareceram ao evento.
No Twitter, Brad Parscale, assessor político de Trump, chegou a comemorar que “mais de 1 milhão de ingressos” haviam sido reservados para o comício
A aproximação das eleições presidenciais dos EUA é mais um fator dessa equação. Um dos pilares do ultranacionalismo característico do discurso Trump é o discurso de ódio à China, que ganhou espaço com uma narrativa que culpabiliza o país pelo espalhamento da covid-19.
Nesse sentido, os ataques ao aplicativo reforçam o clima hostil do qual Trump tira vantagem. “Diferentemente do Brasil, a política externa é, sim, um assunto que isso influencia muito nas eleições dos Estados Unidos”, lembra Wagner.
Negociações
Em meio às brigas, Donald Trump fez um ultimato: disse que a rede social só poderia continuar nos EUA caso as operações no país fossem vendidas para alguma empresa norte-americana.
A possível aquisição despertou o interesse da Microsoft (Nasdaq: MSFT34) e, em seguida, da Oracle (Nasdaq: ORCL34). No último domingo (13), a Microsoft confirmou que a ByteDance recusou sua oferta.
E hoje (15), a Oracle anunciou oficialmente o fechamento do acordo com a empresa chinesa. Mas com um porém: ao invés de compra, a proposta acordada foi de “parceria”, com a Oracle, empresa de soluções de plataformas na nuvem, cuidando dos dados dos usuários estadunidenses.
Agora, a parceria aguarda o sinal verde de Trump para ter prosseguimento.
Entendi. Mas e os mercados, onde entram?
De maneira geral, os atritos entre China e EUA costumam impactar empresas que têm muitas relações comerciais com a China. Wagner pontua que “tudo que afeta a economia chinesa acaba afetando, indiretamente, quem vende para lá”.
Em 2019, as exportações do Brasil para a China somaram 62,87 bilhões de dólares, sendo a soja, o petróleo e o minério de ferro os três produtos mais exportados (os dados são da Comexstat).
Ou seja, empresas brasileiras como a Vale ou as do agronegócio (BrasilAgro, SLC Agrícola e outras) ficam mais expostas a perdas em meio às desavenças entre duas potências — o que se reflete no desempenho de suas ações na bolsa de valores.