Na manhã desta terça-feira, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) divulgou os resultados da Pesquisa Febraban de Economia Bancária e Expectativas. Segundo os dados obtidos, a carteira total de crédito deve se manter em um patamar elevado e crescer 8,2% em 2021, na comparação com o ano passado.
A entidade realiza a pesquisa a cada 45 dias, logo após a divulgação da ata de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). O levantamento foi realizado entre os dias 12 e 18 de maio, reúne percepções de dezenove bancos sobre a última ata do Comitê e as projeções para o desempenho das carteiras de crédito para o ano corrente e o próximo.
A projeção atual supera ligeiramente as estimativas da última edição do levantamento, que apontava 8,1%.
A pesquisa aponta que o principal responsável pelo bom desempenho do crédito este ano deve ser a carteira livre, que, mesmo após o expressivo crescimento em 2020, de 15,4%, deve se expandir em ritmo forte no ano de 2021, de dois dígitos, com expectativa de alta de 10,1%.
"A revisão positiva da carteira livre está provavelmente atrelada ao menor impacto da pandemia sobre a atividade neste início de ano, que tem impulsionado o desempenho do crédito acima das expectativas", afirma Isaac Sidney, presidente da Febraban. Além da perspectiva de uma recuperação mais sólida da atividade no 2º semestre, com avanço da vacinação e reabertura da economia, complementa.
A expectativa para o avanço da carteira livre também apresentou um leve aumento ante a pesquisa anterior (março), quando o crescimento esperado era de 10,0%.
O resultado refletiu uma melhora na expectativa para a carteira pessoa jurídica, de 9,3% para 9,6%, e uma ligeira redução na projeção da expansão da carteira pessoa física, de 10,5% para 10,3%, embora ainda em dois dígitos.
"A ligeira queda da projeção para a expansão da carteira livre para pessoa física pode ser considerada apenas uma acomodação das expectativas, dado que ela vinha em alta desde novembro de 2020, quando a projeção era de 9,0%. É preciso mais tempo para observar se essa queda é uma tendência ou, o mais provável, algo pontual", avalia Rubens Sardenberg, economista-chefe da Febraban.
A maior revisão positiva, por sua vez, foi observada na carteira direcionada, que passou de crescimento esperado de 4,1% na pesquisa anterior (março) para 5,2% na pesquisa atual (maio), possivelmente refletindo o forte e consistente avanço do crédito imobiliário, que segue beneficiado pelas baixas taxas de juros e já atinge seu maior saldo histórico.
Além disso, a reedição de alguns programas públicos de crédito, como o Pronampe, deve dar novo impulso ao segmento, o que pode trazer novas revisões de alta.
Inadimplência
Um dos pontos de atenção captados pela pesquisa é a taxa de inadimplência da carteira livre, que mostrou uma piora já esperada, tanto para 2021 quanto para 2022.
A projeção média para 2021 passou de 3,4% para 3,6%, embora ainda em um patamar abaixo do período pré-crise, quando rodava em torno de 4%.
Assim, apesar de alguma alta na inadimplência, a expectativa é de que a elevação não seja tão significativa. E segue bem abaixo das expectativas do mercado nos meses iniciais da pandemia.
Para 2022
A expectativa de expansão da carteira total sofreu revisão para baixo, de 7,3% (março) para 6,9% (maio). As projeções decorrem do menor crescimento esperado tanto para as linhas com recursos livres (de 9,1% para 8,5%) quanto para o crédito direcionado (de 4,3% para 4,0%).
"Além da maior base de comparação, temos aqui alguma acomodação e uma razoável incerteza sobre o desempenho da atividade em 2022. Neste contexto, os ajustes para cima da Selic podem ter algum impacto nesta revisão, mas não me parecem ser o componente mais importante", explica Sardenberg.
Projeções para a Selic seguem em alta
Para a maioria dos participantes da pesquisa (73,7%), o Copom deve entregar apenas um ajuste parcial na taxa básica de juros. Os 26,3% restantes acreditam que, apesar dos comunicados emitidos pelo comitê, o colegiado será obrigado a fazer um ajuste completo da Selic, até seu nível neutro, para conter as pressões inflacionárias.
A trajetória esperada para a Selic aponta alta de 0,75% na reunião de junho, seguida de dois aumentos de 0,5% em agosto e setembro.
O ritmo de alta desaceleraria em outubro e dezembro, quando a taxa subiria 0,25 pontos percentuais, fechando o ano em 5,75%, projeção 0,5% acima dos 5,25% registrados na pesquisa realizada em março.
Diante da surpresa positiva com o ritmo de recuperação da atividade e, principalmente, da elevação mais persistente da inflação, com possibilidade de deterioração das expectativas para o ano que vem, os participantes esperam, agora, uma alta mais intensa da Selic.
"Por ora, apesar de o Copom reforçar sua posição de que não será necessário elevar a taxa básica até seu nível neutro, estimado pelo próprio Banco Central em 6,50% ano a ano, as contínuas pressões inflacionárias têm levantado novos questionamentos sobre essa estratégia", diz Isaac Sidney, presidente da Febraban.
"Pode ser que o BC tenha que revê-la. Mas o fundamental aqui é o compromisso com o cumprimento das metas de inflação, que tem sido reafirmado pela autoridade monetária", conclui.