A partir da próxima segunda-feira (15), o governo do Estado de São Paulo vai implementar a chamada fase emergencial do Plano SP, que conta com uma série de medidas ainda mais restritivas do que as da fase vermelha. Eventos religiosos coletivos em igrejas e templos, partidas de futebol e o trabalho presencial em escritórios e órgãos públicos serão suspensos.
As novas restrições de circulação, em reação à explosão do número de infectados pelo novo coronavírus, terão impactos na recuperação econômica do país, pois afetam a mobilidade de pessoas e restringem a atividade do comércio, principalmente do varejo. Essa é a avaliação de Joelson Sampaio, coordenador do curso de economia da FGV EESP.
“A gente tinha uma expectativa de recuperação mais rápida para a economia, mas isso vai depender da vacinação e da ajuda do auxílio emergencial. Como a gente está num ambiente de muitas incertezas, provavelmente vamos ter uma recuperação mais lenta para o primeiro semestre diante do que a gente tinha de previsão”, explica Sampaio.
“Acho que a economia como um todo sofre com ou sem restrição quando você tem aumento dos casos. Isso gera mais insegurança, incerteza, desafio na saúde pública. Precisa de uma coordenação melhor entre governo federal e estadual para conseguir combater de forma mais efetiva a crise sanitária”, completa o economista.
Segundo dados do governo, a taxa de ocupação das UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) paulistas está em 83%. O número de internados partiu de 6.657 para 8.872 em duas semanas. De acordo com o secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, 53 municípios paulitas estão com 100% das taxas de ocupação de leitos.
Em evento virtual promovido pela Arko Advice e pela Empiricus no dia 2 de março, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o "pequeno lockdown" pode afetar o crescimento econômico do primeiro semestre e que ainda não sentimos o efeito dessa medida.
"O comércio melhorou [recentemente], mas ainda não pega efeito do pequeno lockdown. Sempre destacamos que a recuperação é desigual e o setor de serviços segue deprimido. Se tiver um lockdown maior pode gerar primeiro semestre um pouco pior".
Indicadores econômicos
No dia 3 de março, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil caiu 4,1% em 2020, o maior recuo anual da série histórica do instituto, iniciada em 1996. Para 2021, segundo o último boletim Focus, divulgado na segunda-feira (8) pelo Banco Central, a expectativa para o crescimento do PIB foi reduzida de de 3,29% para 3,26%.
Os índices de confiança da indústria e dos serviços caíram em fevereiro, com recuo de 3,4 e 2,3 pontos, respectivamente, de acordo com a FGV. Ambos os índices recuaram pela segunda vez consecutiva. Com isso, o Índice de Confiança da Indústria chegou a 107,9 pontos em uma escala de zero a 200 pontos, o menor patamar desde setembro de 2020.
A recuperação fraca da economia também se expressa no mercado de trabalho. A taxa média anual de desemprego no Brasil foi de 13,5% em 2020, a maior já registrada desde o início da série histórica em 2012, segundo o IBGE. À agências de notícias Reuters, profissionais do Santander Brasil disseram que o desemprego no primeiro semestre pode chegar a 16,9%.
Auxílio é necessário
“[A recuperação] foi em V, mas a gente provavelmente vai ter algo em W, porque a gente vai ter uma queda de novo, para depois retomar. Esse é o problema de você não resolver o problema de saúde pública de uma forma mais definitiva”, afirma Sampaio.
Quanto ao auxílio emergencial, o economista da FGV diz que é um assunto que deve ser tratado com máxima atenção pelo governo federal. “O auxílio é o que tem de maior prioridade, depois a questão fiscal, porque o governo precisa endereçar um pacote econômico com uma clareza maior de como ele vai resolver esse passivo da dívida que ele criou. Quem vai pagar essa conta? É isso que tem que estar claro”.
O benefício, que vigorou durante nove meses em 2020, está em discussão no Congresso para que volte a ser aplicado neste ano. Segundo economistas, graças ao programa do governo, o tombo no PIB do ano passado não foi maior.
Segundo um estudo do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades, da FEA-USP, sem o auxílio emergencial no ano passado, o PIB brasileiro teria caído de 8,4% a 14,8%.