Por Noreen Burke e Leandro Manzoni, da Investing.com – O relatório de julho sobre o emprego nos EUA e a decisão da taxa de juros brasileira do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central serão os destaque dessa semana no calendário de econômico, enquanto novas polêmicas do governo Bolsonaro na área fiscal devem continuar na pauta dos investidores.
Nos EUA, os investidores estão atentos a qualquer catalisador que possa incentivar o Federal Reserve a apertar a política monetária mais cedo do que o esperado, enquanto no Brasil a expectativa é se o Copom realmente vai impor um aumento da taxa Selic maior do que as altas anteriores.
O calendário econômico também inclui as PMIs nos EUA e no Brasil. A temporada de balanços continuam nos EUA, com mais de um quarto das empresas do S&P 500 com anúncios programadas para a próxima semana, e no Brasil com a divulgação dos resultados dos grandes bancos.
A repressão dos reguladores do mercado chineses pode continuar sendo uma notícia de peso, enquanto no Reino Unido, o Banco de Inglaterra deverá realizar a sua próxima reunião de política monetária, na qual provavelmente fará eco à opinião do Fed de que ainda há uma caminho a se trilhar antes que se possa reduzir o estímulo.
Aqui está o que você precisa saber para começar a sua semana.
1. Risco fiscal no Brasil
A semana encerrou com elevação de aversão ao risco dos investidores com ativos brasileiros, com o Ibovespa fechando a sessão de sexta-feira com baixa de 3,08%, o dólar avançando para acima de R$ 5,20 e os juros futuros disparando.
Vale ressaltar que a deterioração das expectativas com os ativos brasileiros foi maior que a queda dos principais índices de Wall Street no dia.
A preocupação dos investidores é a possibilidade de abandono da Lei do Teto de Gastos pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido). O Teto de Gastos é a atual âncora fiscal da economia brasileira que possibilitou a redução da taxa Selic para mínimas históricas no ano passado. Seu abandono pode potencializar o retorno de inflação mais elevada, já que abre novamente a possibilidade do governo gastar mais do que arrecada, e de taxa de juros maiores para conter a espiral inflacionária.
O pessimismo começou na última sexta-feira, quando Jair Bolsonaro disse em entrevista a uma rádio de São Paulo que "temos que nos endividar para atender aos mais necessitados até que a Economia volte", uma clara sinalização de seu desejo de um aumento do valor do benefício do Programa Bolsa Família para R$ 300 mensais.
Além disso, a fala do presidente se refere à manutenção do auxílio emergencial, caso a pandemia continue a restringir o funcionamento de comércio e serviços mesmo com o avanço da vacinação.
Segundo a XP Investimentos, o novo Programa Bolsa Família pode sair por meio de uma Medida Provisória que será enviada ao Congresso na segunda semana de agosto, ainda sem o valor do benefício e o escopo dos beneficiados.
A indefinição ocorre por causa da incerteza com a aprovação da reforma tributária e da taxação de dividendos em pouco tempo, já que o ministro da Economia Paulo Guedes considerava utilizar os recursos do novo imposto para o pagamento do benefício.
O "plano B" do Ministério da Economia é atacar outros gastos tributários para remanejar recursos para os gastos com o novo Bolsa Família sem afetar o Teto de Gastos, de acordo com os analistas da XP.
Porém, o plano "B" também tem risco de não se concretizar, devido ao possível estrangulamento do espaço no teto com os valores que devem ser direcionados a pagamento de precatórios no Orçamento de 2022 – por volta de R$ 90 bilhões -, o que levou à parte da ala política do governo a considerar os gastos com o novo programa social "uma exceção à regra do teto".
A imprensa informa também que o governo pode acionar a Advocacia-Geral da União (AGU) para pedir conciliação e condições de pagamento com os detentores dos precatórios.
Para fechar a preocupação, há a declaração de Jair Bolsonaro quanto às reservas financeiras da Petrobras (SA:PETR4) para financiar o vale-gás, programa social a ser criado para subsidiar a compra de gás de cozinha por famílias de baixa renda.
2. Relatório do emprego de julho
O relatório sobre o emprego nos EUA, exceto no setor agrícola, programado para ser divulgado na sexta-feira, fornecerá novas pistas sobre a força da recuperação econômica e fundamentará a perspectiva dos dirigentes do Federal Reserve (Fed).
Os economistas esperam que a economia tenha adicionado 900.000 postos de trabalho em julho, após um acréscimo de 850.000 em junho, acima das expectativas.
Na semana passada, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que o mercado de trabalho ainda tinha "algum terreno para avançar" antes do ponto de começar a reduzir as medidas de estímulo que o banco central promulgou na primavera de 2020 no hemisfério norte, para combater as consequências econômicas da pandemia do coronavírus.
Em junho, os dirigentes do Fed começaram a debater a forma de reduzir as compras de títulos, mas ainda não existe um calendário claro para quando começarão a recuar nas medidas emergenciais de apoio ao mercado.
Além do relatório sobre o emprego, o calendário econômico também inclui outros dados importantes, como o PMI industrial do Institute for Supply Management, na segunda-feira, e do setor de serviços, na quarta-feira. Espera-se que a PMI de manufatura permaneça robusta, mas destaque novamente as tensões do lado da oferta na economia, que estão contribuindo para uma inflação mais alta.
Os dados sobre encomendas de fábricas estão marcados para terça-feira e o relatório semanal sobre pedidos iniciais de auxílio-desemprego deve ser apresentado na quinta-feira. Os pedidos de auxílio-desemprego caíram consideravelmente desde o início do ano, em meio da crescente demanda por mão de obra, mas a variante delta que impulsionou um recente aumento de novas infecções em todo o país representa um risco.
Vários representantes do Fed também estão programados para falar durante a semana, incluindo o presidente do Fed de Boston, Eric Rosengren, o vice-presidente do Fed, Richard Clarida, e o governador do Fed, Christopher Waller.
3. Temporada de balanços nos EUA e no Brasil
Os investidores vão receber um novo lote de relatórios de resultados na próxima semana, vindo de empresas como a Eli Lilly (NYSE:LLY) (SA:LILY34), a CVS Health (NYSE:CVS) (SA:CVSH34) e a General Motors (NYSE:GM) (SA:GMCO34).
As expectativas de fortes lucros futuros foram o principal motor dos ganhos do S&P 500 este ano, de acordo com uma análise do Credit Suisse (SIX:CSGN) sobre o desempenho do índice, que comparou as mudanças nas avaliações das ações com os resultados esperados.
As ações dos EUA caíram na sexta-feira e registraram perdas na semana, com ações como as da Amazon (NASDAQ:AMZN) (SA:AMZO34) caindo após a previsão da companhia de menor crescimento das vendas, embora o S&P 500 ainda tenha conseguido um sexto mês consecutivo de ganhos.
No Brasil, os resultados dos maiores bancos do país são os destaques da semana. Essa semana serão conhecidos os resultados do segundo trimestre de Itaú Unibanco, Cielo (SA:CIEL3) e Pague Menos (SA:PGMN3), Bradesco (SA:BBDC4), Banco do Brasil (SA:BBAS3), Petrobras, Hering (SA:HGTX3) e Engie (SA:EGIE3).
4. Repressão da China
A recente repressão regulamentar da China afastou os investidores das ações chinesas e deixou as empresas de tecnologia operando num ambiente de incerteza.
A China vem fechando o cerco regulatório sobre a emissão de ações no exterior, depois de lançar uma investigação no mês passado sobre a Didi Global (NYSE:DIDI), gigante de mobilidade urbana, poucos dias após a sua estreia em Nova York.
Na sequência de uma acentuada venda, as autoridades tentaram acalmar os mercados, criando um suporte para as ações e o iuan, por enquanto.
Nas semanas à frente, os investidores estarão atentos aos dados da PMI chinesas, em meio a preocupações crescentes sobre uma desaceleração da segunda maior economia do mundo, que pode ser o próximo teste dos mercados.
5. Copom, reunião do Banco da Inglaterra e mais dados do Brasil
O Copom deve acelerar a alta da taxa Selic na quarta-feira após a reunião de dois dias de política monetária. O mercado espera um aumento de 1 ponto percentual da taxa de juros, saindo de 4,25% para 5,25%, elevando a magnitude de alta antes em 0,75 ponto percentual, devido à inflação persistentemente mais alta que o esperado pela autoridade monetária, assim evitando o risco de contaminar as expectativas para o IPCA de 2022.
A semana também terá conhecimento, no Brasil, dos dados do PMI industrial de junho, da balança comercial de julho, além do Boletim Focus na segunda-feira. No dia seguinte, será a vez da inflação de julho mensurada pelo IPC-Fipe e a produção industrial de junho. Na quarta, serão divulgados o PMI de Serviços e o Composto e o fluxo cambial estrangeiro.
Na Europa, espera-se que o Banco de Inglaterra mantenha o atual ritmo do estímulo econômico na sua reunião de quinta-feira, apesar de algumas divergências entre os dirigentes em relação à dimensão do seu programa de compra de títulos, num contexto de aumento da inflação e melhora da economia.
Então, o que deve vir da reunião do BoE? É provável que os dirigentes elevem a sua previsão de inflação para este ano, mas as perspectivas de crescimento seguem incertas entre preocupações com a variante delta.
– Com informações de Reuters.