Nesta sexta-feira (8), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país. Especialistas em Economia analisam a disparada para 1,62% em março, após alta de 1,01% em fevereiro.
João Beck, economista e sócio da BRA, diz que o consenso do mercado era de 1,30%, mas o IPCA atingiu 1,62%. Para ele, a alta é nitidamente reflexo da guerra com elevações fortes no segmento de transportes e alimentação, dois setores que caminham juntos, já que a alta do custo do frete pressiona o preço dos alimentos.
O efeito guerra se soma ainda à volta da mobilidade com mais flexibilidade nas restrições de Covid, segundo o economista. “Olhando mais à frente, a tendência ainda pode ser considerada de uma desaceleração. As taxas de juros muito altas já exercem efeito contracionista na economia. E devem desacelerar a inflação adiante”.
Problemas climáticos recentes, que pressionaram o índice de alimentos, também são um fator que impulsiona a alta, segundo Beck.
“Foram chuvas abaixo da média nas regiões do Centro-Sul. Houve uma estiagem que durou de novembro do ano passado até janeiro deste ano e isso prejudicou muito a safra de soja e outras commodities agrícolas”, diz.
Segundo Alexsandro Nishimura, economista, head de conteúdo e sócio da BRA, o IPCA de março (+1,62%) apontou um salto da inflação muito acima das expectativas do mercado, na maior variação para um mês de março desde 1994, ainda no período pré-Real.
“Pelo consenso, a alta dos preços deveria atingir seu pico nos meses de abril e maio, apesar da recente decisão de mudança da bandeira energética para a verde, que tende a amenizar a apuração da inflação nos próximos meses”, ressalta.
O especialista salienta que “esta surpresa se refletiu nos juros futuros, que avançam em toda a curva, especialmente nos prazos curtos. Alguns players do mercado já começam a enxergar o IPCA acima dos 7% neste ano”.
Já o economista Rafael Marques, CEO da Philos Invest, também concorda que o IPCA surpreendeu e apresentou um resultado acima do esperado pelo mercado.
“Quando a gente olha o índice no mês contra mês, ele subiu 1,6%, quando o mercado esperava um 1,4% e no mês anterior veio de uma de uma alta de 1%. Já no ano contra ano, ele veio agora para 11,3% e o esperado do mercado era 11% e veio de um acumulado de 10,5%”, explica.
Segundo Marques, o que teve impacto nessa alta agora, se deu principalmente pela alta do reajuste dos combustíveis, que recentemente foi repassado aos consumidores pela Petrobras.
“Além disso, a gente viu uma alta significativa do segmento de alimentação nos domicílios, forçado principalmente pelo aumento dos preços dos alimentos in natura, vimos que o clima prejudicou a oferta desses produtos. Então, quando a gente olha no índice geral a, contribuição de alimento e transporte, isso contribuiu com 1,1% dessa alta de março”, salienta.
O especialista também ressalta que analisando a parte de bens duráveis, ela desacelerou e refletiu principalmente pelos cortes do IPI que foi dado pelo governo. “Ainda assim quando a gente olha os produtos industriais, eles aceleraram um pouco, vindo de uma alta de 1,1% para um alta de 1,21%”.
“Além disso, mesmo com a parte das mensalidades escolares que se dissiparam, isso trouxe uma desaceleração pro serviço, no entanto, quando a gente olha o núcleo da parte de serviços, a gente vê que ele ainda segue pressionado”, explica.
Olhando mais a frente, Marques aponta que a alta no preço dos combustíveis ainda deve ter algo remanescente, que deve ser repassado aos consumidores, causando impacto e pressionando o índice.