A reforma tributária sugerida pelo governo Jair Bolsonaro, com provável tributação sobre os dividendos recebidos pelos investidores e redução no imposto pago pelas empresas, pode tornar mais competitivos os investimentos do Itaú Unibanco no exterior e aumentar o interesse do banco em aquisições em outros países, afirmou hoje o presidente da instituição, Cândido Bracher. Segundo ele, hoje o imposto no Chile, por exemplo, corresponde a 27%, mas o Itaú acaba pagando 45% no Brasil pelos ganhos com o chileno Corbanca, que tem operações também na Colômbia. “Este ano, o imposto aqui cairá um pouco, para 40%, mas ainda é uma desvantagem competitiva enorme para os bancos brasileiros em relação aos bancos de outros países”, disse, durante entrevista para comentar o balanço do quarto trimestre e do ano de 2018. Segundo Bracher, se o imposto for reduzido no Brasil, a desvantagem vai diminuir e o banco olhará com mais interesse por aquisições lá fora.
Para o presidente do Itaú Unibanco, porém, o fundamental é que a reforma tributária faça uma compensação entre o aumento de impostos com a tributação de dividendos e o corte de impostos pagos pelas empresas, para não onerar ainda mais o setor privado brasileiro. “O que não pode é aumentar a carga tributária brasileira, que já chega a 36% do PIB e é muito alta para os padrões internacionais”, diz. “E há ainda a questão da complexidade tributária brasileira, que tem hoje um dos sistemas de impostos mais ineficientes do mundo”, lembrou.
Segundo Bracher, a tributação sobre dividendos, que hoje são isentos, acompanhada pelo corte de impostos para as companhias, terá pouco impacto para o investidor, pois a empresa deverá aumentar seu lucro e, com isso, os dividendos, e assim compensará a perda fiscal. “Mas a tendência será de as empresas passarem a reter mais o lucro e distribuírem menos dividendos, reinvestindo no negócio, por isso vejo com interesse a proposta”, afirmou.
O presidente do Itaú diz que o banco vai participar dos processos de privatização anunciados pelo novo governo, que incluem empresas do setor financeiro ligadas à Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil. A participação será tanto via banco de investimentos, dando consultoria para compradores e vendedores, quanto olhando eventuais compras de participações. “Olharemos tudo que vier a mercado, mesmo sabendo que não podemos fazer nada muito grande”, disse, acrescentando que “o exemplo da compra de participação na corretora XP mostrou que há restrições claras a novas aquisições”, afirmou, numa referência às exigências feitas pelo Banco Central (BC) e pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para aprovar a operação.
Para Bracher, o país enfrenta um cenário binário, que dependerá da aprovação da reforma da Previdência. Se aprovada uma reforma como a que está hoje no Congresso, que permitiria uma economia de 1,4% do PIB, o país poderá ter vários anos de crescimento sustentado. Caso contrário, o cenário vai piorar muito mais. “Nossa projeção de crescimento do crédito, de 8% a 11% este ano, leva em consideração um crescimento da economia de 2,5% e a aprovação da reforma da Previdência”, explicou. Hoje, o país apresenta uma situação econômica equilibrada, com inflação abaixo da meta, juros de 6,5% ao ano e equilíbrio das contas externas que está baseada na aprovação da reforma, que vai estabilizar a relação entre a dívida pública e PIB. “Se a reforma não for aprovada, a inflação volta a crescer, os juros sobem e não dá para manter a estabilidade econômica”, alerta.
Ele faz um paralelo com a bolsa de valores, onde o Índice Bovespa vem batendo recordes constantes. “A aprovação da reforma da Previdência pode levar o Índice para cima dos 100 mil, assim como uma frustração na expectativa da reforma faria a bolsa cair muito”, alertou. “É um risco assimétrico, a bolsa pode subir bastante se aprovarmos a reforma, mas o ganho será muito menor que a perda se a reforma não passar”, disse. “Hoje, há uma probabilidade de 70% de a reforma ser aprovada, por isso o otimismo dos mercados”.
Bracher espera um aumento na inadimplência das carteiras de crédito do Itaú pela mudança no mix de empréstimos, com maior participação de linhas para pessoas físicas e pequenas e médias empresas, nas quais há mais atrasos, e menor crescimento dos empréstimos para grandes empresas, que têm inadimplência menor. “É uma mudança estrutural, pois estamos mudando o perfil da carteira, mas olhando individualmente, por linha, como crédito pessoal, consignado, cartão de crédito, deve haver queda na inadimplência”, explicou. Ele espera que a melhora nas condições da economia, com crescimento da atividade e redução do desemprego e aumento da renda, proporcione essa queda na inadimplência, que por sua vez permitirá a redução das taxas de juros ao longo deste ano. “Inadimplência menor e maior apetite dos bancos em emprestar pelo cenário econômico mais positivo devem permitir uma redução das taxas”, disse.
Já o crédito para grandes empresas pode não se recuperar tão rapidamente, pois muitas vão esperar a confirmação da aprovação da Previdência para retomar os investimentos, disse Bracher. Além disso, é cada vez maior a participação das empresas no mercado de capitais, captando diretamente recursos via emissão de títulos, o que reduz a demanda por crédito bancário. O Itaú Unibanco pretende aproveitar essa tendência participando mais na estruturação de operações de captação das empresas no mercado, explicou Bracher, o que aumentará as receitas com serviços da instituição. Hoje, segundo ele, a maior fonte de ganhos do banco é serviços, e não crédito, pois não a atividade não exige capital do banco.
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