“Depois de um ano inteiro de paralisia no debate político-partidário e no andamento do Congresso Nacional, o ano começa com fatos políticos relevantes, que trazem de volta ao protagonismo as forças que se preparam para o enfrentamento nas próximas eleições presidenciais. O juiz ainda não deu o apito inicial, as equipes permanecem nos vestiários, falta definir a escalação, mas as torcidas já estão se manifestando nas arquibancadas.”
Quando estava começando a campanha presidencial das eleições de 1992 nos Estados Unidos, o então presidente, George Bush, o pai, vinha de uma vitoriosa e fulminante vitória militar. Expulsara Saddam Hussein do Kwait, numa campanha de pouco mais de trinta dias, com mínimas baixas, amplo apoio internacional e intensa cobertura midiática. Foi a primeira guerra transmitida, ao vivo, pela televisão para todo o mundo. Talvez devesse ter ido adiante e derrubado Saddam do poder no Iraque, mas, obediente ao mandato concedido pela ONU e pelo Congresso americano, contentou-se em retomar para o Kwait os ricos poços de petróleo, objeto da cobiça do ditador iraquiano.
Seu concorrente, o democrata Bill Clinton, estava, com razão, preocupado. Se já é, normalmente, difícil, derrotar um presidente em busca de reeleição, o que dizer, então, de um presidente vitorioso em guerra garantidora de petróleo, na época, ainda, o ouro americano. Coube ao seu estrategista mor, James Carville, apontar ao candidato Clinton o caminho a seguir, resumido pela sucinta frase: “It`s the economy, stupid”. Em resumo, o eleitor médio americano, como tantos outros no mundo, vota de olho no seu bolso, e a gestão de Bush para a economia interna deixava bastante a desejar. O resultado, todos sabemos: Clinton venceu a eleição e reelegeu-se em 1996, em época de bonança.
Por aqui, também, o estado geral da economia representa importante papel na definição dos resultados das eleições, ainda mais que o comando da Economia é muito mais centralizado na União do que no Grande Irmão do Norte. Entretanto, em terras tapuias, por incrível que possa parecer, pelo menos nos últimos trinta e dois anos a economia não representa o papel central para distinção das diversas candidaturas ou pré candidaturas. O eleitor brasileiro já está bastante calejado no assunto e sabe que, independentemente das bravatas de campanha, a política econômica estará (ou ainda está) para sempre vinculada às nossas limitações fiscais, à ganância dos grupos corporativistas e aos ditames do mercado financeiro, este a reboque do fluxo internacional de capitais.
Reformas importantes
Portanto, nosso foco está sempre na Política, queiram ou não os detratores dessa vilipendiada classe. Não que eles sejam santos. Pelo contrário, certamente não há sessões legislativas no Paraíso, por absoluta falta de quorum. Mas o fato é que basta olharmos os últimos doze meses para perceber quão central é a atividade política. Mesmo considerando a atipicidade do período, é preciso convir que toda a gestão pública se tornou dominada pelas polarizações entre diversos atores e instituições, a grande maioria com olhos em 2022, independentemente do caos na saúde e da fragilidade da economia durante todo o ano de 2020 e no início de 2021. Polarização, muito mais retórica do que de ações, de um lado e do outro. Sobraram palavras e gestos; faltaram medidas e providências.
Para o bem ou para o mal em minha opinião, para o bem , o cenário começou a mudar. A partir da eleição das novas Mesas Diretoras do Congresso, destravou-se a pauta de votação, corrigindo, assim, o grande erro de cálculo político de Rodrigo Maia. De início, um reformista entusiasta, costurando muito bem a Reforma da Presidência, foi mordido pela mosca azul. Aproveitou-se da pandemia para paralisar a Câmara, virou porta-voz da oposição ao tresloucado Presidente da República e esqueceu-se do desejo e interesse de toda a sociedade por, ao menos, alguma reforma. Perdeu o comando do DEM, a exposição diária na grande mídia e está hibernando.
Destravada a pauta, acabaram-se as desculpas do Executivo, que teve que trabalhar sua base para os projetos de seu interesse. Já foram aprovados alguns de grande importância, desidratados ou não, entre eles: a chamada PEC Emergencial, que unificou três PECs correlatas, e os marcos regulatórios do gás e do saneamento básico. Um considerável avanço para apenas dois meses de trabalho. Falta muito ainda, mas é preciso comemorar, nem que seja para incentivá-los.
Corrida eleitoral
Ao par dessa movimentação no Congresso, o grande fato político desse início de ano é a, por enquanto, provisória, retomada dos direitos político-eleitorais de Lula. A canetada de Fachin acabou de enterrar a moribunda Lava Jato e acendeu o sinal de alerta no Planalto. Lula não perdeu tempo. Em seu primeiro discurso resgatou seu cargo de líder da oposição, dessa vez um líder com ainda considerável capital eleitoral. A primeira pesquisa após o fato já o apontava apenas dez pontos percentuais atrás de JB numa eventual disputa presidencial. É muito para quem até ontem nem podia ser candidato.
A reação do Planalto foi imediata. À tarde, depois do discurso, JB já aparecia de máscara, ventilava a troca do Ministro da Saúde o que, de fato, vem ocorrendo e autorizara inicio de campanha publicitária apoiando medidas preventivas contra a Covid 19. Com alguns retrocessos de final de semana, indispensáveis para afagar a prole e sua base original os 15% de bolsonaristas raiz , o Presidente vem adotando um discurso mais técnico e menos ideológico, inclusive ressaltando publicamente os esforços do governo na encomenda de vacinas. Mas ainda é prematuro tirar-lhe os rótulos de negacionista, diversionista e, francamente, hostil à cooperação para enfrentamento conjunto e harmônico dos poderes e dos entes federativos à COVID 19.
O fato é que, subitamente, todos os pré candidatos, exceto os dois com cacife eleitoral, se tornaram coadjuvantes. E precisam mostrar muito mais serviço para influenciar o diretor o povo a lhes dar um papel mais relevante na peça ainda em montagem. Ciro, o mais promissor deles, precisa admitir que não sabe tudo sobre tudo. E que não é, se for, o único político brasileiro honesto.
Hoje, todos, até eu, apostam que JB já está no segundo turno de 2022 e que não existe, por ora, opção viável de centro. Por sinal, vai ser preciso explicar para o povão a diferença entre centro e centrão. Difícil, né? Vamos torcer, pelo menos, para que a campanha demore a começar e até lá Executivo, Legislativo e Judiciário cumpram o seu dever: trabalhar.
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