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Jackson Hole: 3 razões para o Fed manter discurso duro na sexta-feira, segundo analista

Atividade econômica forte, mercado de trabalho superaquecido e reaceleração da inflação são fatores citados por Jesse Cohen, analista financeiro sênior do Investing.com

- Jerome Powell, presidente do Federal Reserve
- Jerome Powell, presidente do Federal Reserve

O Federal Reserve (Fed), banco central norte-americano, pode endurecer sua mensagem quando os principais banqueiros centrais do mundo se reunirem no Simpósio Econômico de Jackson Hole

O ponto alto do evento ocorre amanhã (sexta-feira, 25), quando o presidente da instituição, Jerome Powell, vai fazer um esperado discurso sobre a situação da economia, da política monetária e da inflação nos Estados Unidos. 

Na opinião de Jesse Cohen, analista financeiro sênior do Investing.com, Powell vai adotar um tom mais duro e indicar que serão necessários mais aumentos de juros para conter a alta dos preços.

"Além disso, acredito que o chefe do BC americano vai usar sua fala principal para sinalizar que os juros ficarão elevados por um longo período e para descartar a possibilidade de reduções nas taxas", comentou. 

Cohen avalia que, de fato, o mercado de títulos parece ter se antecipado a uma política monetária mais "hawkish" (rígida) no futuro, já que a taxa dos títulos de 10 anos do Tesouro dos EUA subiu para o maior patamar em mais de quinze anos, a 4,366% na terça-feira da semana passada. 

Rendimento dos Títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos, mensalmente. 

Enquanto isso, o mercado acionário perdeu o ímpeto durante o ano, com o S&P 500 em queda de 4,4% até agora em agosto. 

Os operadores de contratos futuros ligados à taxa de juros do Fed agora estimam uma chance de cerca de 40% de outro aumento na taxa até o final deste ano, em comparação com cerca de 30% na semana anterior. 

Monitor de Juros do Fed – Investing.com.

Ao mesmo tempo, as expectativas de ver cortes nas taxas no início do próximo ano diminuíram, uma vez que os investidores perceberam que as taxas não voltarão a cair tão cedo quanto pensavam. 

O Fed elevou sua taxa básica de juros em onze das últimas doze reuniões de política monetária, e as elevações foram de 5,25 p.p. desde março de 2022 para a faixa atual de 5,25%-5,50%. 

Taxas referenciais do Fed.

A seguir, Cohen apresenta as três principais razões pelas quais o Fed não vai interromper o aperto monetário tão cedo:

1. Economia forte 

Powell vai fazer seu discurso em Jackson Hole depois de um conjunto robusto de dados econômicos que mostraram que o consumo continuou forte em julho, com as vendas no varejo registrando o maior aumento mensal desde fevereiro. 

Há um ano, muitos no mercado estavam convencidos de que a economia dos EUA estava em uma recessão profunda e grave, à medida que o Fed iniciava seu histórico ciclo de aperto para combater a inflação. 

Mas a economia do país se saiu muito melhor do que o esperado, o que levou vários membros do FOMC, órgão responsável pela política monetária americana, a revisar suas projeções de uma desaceleração iminente. 

"A equipe não via mais a economia entrando em uma leve recessão no final do ano", revelaram as atas da reunião do Fed em 25 e 26 de julho, divulgadas na semana passada. 

Não somente a economia não perde força, como mostra sinais de aceleração. 

Um indicador de crescimento do PIB do Atlanta Fed estima o crescimento do produto para o trimestre de julho a setembro em impressionantes 5,8%, o que reflete o forte impulso contínuo do consumo e um surpreendente aumento na produção industrial e na construção de imóveis residenciais. 

Rastreador de PIB do Atlanta Fed. 

Uma economia forte e um consumo robusto sugerem que não há motivo para Powell adotar um tom mais "dovish" (suave) em Jackson Hole. 

2. Mercado de trabalho aquecido 

Contra as expectativas, o mercado de trabalho dos EUA continua aquecido, como dados recentes mostraram sólidos ganhos salariais e uma queda na taxa de desemprego para 3,50% em julho. 

Para contextualizar, a taxa de desemprego estava em 3,70% há exatamente um ano, em agosto de 2022, o que sugere que o Federal Reserve ainda tem espaço para elevar as taxas. 

Taxa de desemprego nos EUA.

Autoridades do Fed já sinalizaram no passado que a taxa de desemprego precisa estar pelo menos em 4,0% para conter a inflação. 

Outro sinal de escassez na oferta de mão de obra: o fato de que as empresas continuaram a aumentar os salários em ritmo forte no último mês.

A remuneração média por hora trabalhada registrou alta de 0,4% em julho, mesmo aumento do mês anterior, o que foi visto pelo Fed como um sinal de superaquecimento do mercado. 

Isso fez com que o aumento ano a ano aumentasse 4,4%, e jogou mais combustível sobre a preocupante perspectiva de inflação, além de abrir espaço para que o Fed continue com seu aperto. 

Remuneração por hora trabalhada nos EUA.

"Condições amplas do mercado de trabalho serão um elemento importante para trazer a inflação de volta ao nível desejado, e por isso defendemos um ajuste adicional nas condições do mercado de trabalho", declarou Powell, na coletiva de imprensa após a reunião do Fed no mês passado. 

3. Reaceleração da inflação 

No geral, embora a trajetória do IPC tenha sido de queda, os dados mais recentes elevam o risco de um novo salto na inflação, que já cresce mais rápido do que o Fed consideraria compatível com sua meta de 2%. 

Os preços ao consumidor subiram 3,2% em julho, o que foi a primeira vez em treze meses em que a taxa anual do IPC acelerou em relação ao mês anterior. Isso sucedeu um avanço de 3,0% em junho. 

IPC nos EUA.

Diante dos expressivos aumentos recentes tanto nos preços de energia quanto nos alimentos, Cohen aguarda que as pressões inflacionárias se intensifiquem novamente nos próximos meses. 

Esta tendência provavelmente deve se manter até o começo de 2024, com o IPC possivelmente em alta novamente para a faixa de 4,6% a 5,4%, de acordo com o analista. 

Dessa forma, Cohen acredita que os níveis de inflação podem se sustentar elevados por um período mais longo do que o atualmente esperado pelos mercados financeiros.

IPC mês a mês nos EUA.

Durante a coletiva de imprensa após a reunião do Fomc no mês passado, Powell alertou que, embora a inflação tenha se moderado um pouco desde o meio do ano passado, atingir a meta de 2% do Fed ainda "tem um longo caminho pela frente".

Além disso, acrescentou que não vê a inflação na meta de 2% até 2025. 

Ao levar tudo isso em consideração, o cenário atual não sugere que o Fed precisa mudar de rumo em sua política. " Acredito que ainda há um caminho a percorrer antes que os formuladores da política monetária estejam prontos para declarar missão cumprida no front da inflação", completou Cohen.