Há algum tempo, o banco norte-americano JP Morgan publicou um estudo chamado “The Agony and the Ecstasy: The Risks and Rewards of a Concentrated Stock Position”, que trata do tema “concentração de carteira de ações” e faz uma análise de décadas do desempenho de milhares de ações e índices do mercado americano.
Esse estudo conclui que, na maioria das vezes, a concentração traz um risco desproporcional, que não é acompanhado de um excesso de retorno. Apesar dos grandes feitos e fortunas terem sido resultados de “carteiras” extremamente concentradas, esses grandes vencedores são uma pequena minoria. Infelizmente, não dá para traçar padrões consistentes que ajudem a identificar com antecedência quais serão as grandes vencedoras – Amazon, Apple ou Netflix eram apenas sonhos há alguns anos.
Desde 1980, o risco de uma perda significativa de valor (em torno de 70% de queda com relação ao pico de preço) é de impressionantes 40% no universo do Russell 3000. Ou seja, nas últimas décadas, 4 em cada 10 empresas do índice perderam 70% do valor e nunca mais se recuperaram.
Outro dado interessante é que, desde 1980, mais de 300 empresas foram excluídas do S&P 500 por motivos de stress financeiro, falência etc. Mais um dado para nos mostrar o quanto é difícil para uma empresa se perenizar em um ambiente competitivo, livre e inovador.
Em momentos de otimismo e bonança – seja ele macro ou específico quanto àquela tese de investimento – muitas empresas parecem menos arriscadas do que realmente são. Mas basta uma virada no vento para que as rachaduras apareçam.
Obviamente que aqui no nosso mercado não faltam bons exemplos. Há alguns anos, tivemos essa dolorosa lição na prática, quando investimos na incorporadora Helbor, considerada uma das empresas mais eficientes do mercado. O setor passou por alguns anos nebulosos e a Helbor se mostrou muito mais frágil do que aparentava, sofrendo um revés atrás do outro. Suas ações caíram mais de 80% do seu pico e nunca mais se recuperaram.
É também enorme a lista de “forças” exógenas às empresas que podem dar errado. Para citar alguns exemplos: inovações tecnológicas; mudanças radicais nas preferências dos clientes; mudanças rápidas no ambiente competitivo; violações de propriedade intelectual; mudanças de políticas de subsídios; mudanças nos regimes de impostos; mudanças na interpretação de regras antitruste; fraude por funcionários não-executivos, entre muitos outros.
Não é difícil perceber que é abundante a lista de possíveis erros de avaliação que podemos cometer como investidores, principalmente em tempos como os atuais, em que a imprevisibilidade – que sempre existiu no mundo, diga-se – parece ainda mais exacerbada.
Nesse contexto, evitar a concentração exagerada em poucos nomes é de suma importância para o investidor em ações. Por mais que tudo pareça justificar o seu otimismo (quem nunca se entusiasmou ao extremo com uma empresa?), é sempre bom manter a humildade e reconhecer que pode haver muitas novidades à frente, difíceis de serem previstas.