O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi premiado nesta segunda-feira (23) pela Fundação Bill e Melinda Gates com o prêmio GoalKeepers, em reconhecimento às políticas de combate à fome implementadas durante seus três mandatos, especialmente através do programa Bolsa Família.
A cerimônia aconteceu em Nova York, onde Lula também participou de uma conversa com Bill Gates, cofundador da Microsoft, sobre os desafios globais para erradicar a fome.
Entrega do prêmio
Ao entregar o prêmio, Bill Gates elogiou a trajetória de Lula, lembrando a infância humilde do presidente brasileiro e sua ascensão à presidência.
Gates destacou a “inspiração” que Lula representa e ressaltou a importância das iniciativas que o Brasil implementou para enfrentar a desnutrição, como a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza Extrema, um dos principais focos do presidente no G20.
Após a entrega do prêmio, Lula e Gates discutiram, por cerca de 20 minutos, o papel das doações privadas no combate à fome.
O presidente brasileiro foi enfático ao afirmar que, embora as iniciativas filantrópicas sejam louváveis, o problema da fome só será resolvido por meio de políticas públicas robustas.
“O que vai resolver o problema da miséria efetivamente não é através de doações de uma fundação, será através de políticas públicas”, disse Lula a Gates.
Fala de Lula sobre a fome
Durante sua fala, Lula destacou que a fome não incita revoluções, mas sim submissão. Ele afirmou que é dever do Estado, independentemente do país, cuidar dos mais vulneráveis.
“O rico não precisa de Estado, quem precisa de Estado são as pessoas que não tiveram a oportunidade de estudar, que não têm uma profissão, que não conseguiram inventar uma Microsoft”, declarou, arrancando risos da plateia.
Lula também comentou os avanços de seu terceiro governo, que, segundo ele, retirou 24,5 milhões de brasileiros do mapa da fome.
“Quero apresentar ao mundo um Brasil sem fome outra vez”, afirmou, destacando que o Bolsa Família é possivelmente “a experiência mais bem-sucedida de combate à fome no mundo”. Ele ressaltou que, para que iniciativas semelhantes sejam aplicadas em outros países, é necessária uma decisão política firme.
Crítica de Lula à concentração de riqueza
Em sua conversa com Gates, Lula criticou a concentração de riqueza global e a especulação financeira.
Ele afirmou que o mundo não sofre com a falta de recursos financeiros, mas com sua má distribuição. “Existem trilhões de dólares navegando pelo espaço aéreo, gente vivendo cada vez mais rica sem produzir um copo de água, vivendo de especulação”.
O presidente brasileiro também chamou atenção para os altos gastos com a indústria bélica global.
Segundo ele, em 2023, foram destinados US$ 2,4 bilhões a essa indústria. “Esse dinheiro, se aplicado para combater a fome, na agricultura familiar, para ajudar os mais pobres, a gente acabaria com a fome no mundo”, criticou.
Lula ainda mencionou a desproporção de riqueza nas mãos de poucos bilionários, afirmando que cinco grandes empresários têm mais dinheiro do que dez países juntos. “Eu não sou contra ninguém ser rico, sou contra as pessoas serem pobres”, declarou.
Aplausos e o futuro da Aliança Global contra a Fome
A plateia, lotada, o aplaudiu de pé ao final da conversa com Gates.
Para além dos elogios e reconhecimentos, Lula tem utilizado sua posição internacional para atrair mais adesão à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza Extrema, que será formalizada em novembro, durante a cúpula do G20 no Rio de Janeiro.
O presidente busca não apenas o apoio de governos ricos, mas também investimentos privados para fortalecer a aliança, que visa combater a fome de forma coordenada globalmente.
Lula espera que essa iniciativa não apenas pavimente seu caminho para um futuro mais justo, mas também o coloque entre os possíveis candidatos ao Prêmio Nobel da Paz, como já é especulado por muitos analistas.