O mercado imobiliário deve perder força em 2021, mas continuar em ritmo de crescimento. Isso que acreditam Ana Maria Castelo e Paulo Picchetti, pesquisadores do FGV IBRE, e Alberto Ajzental, professor da FGV EAESP, que participaram na manhã de hoje de um webinar organizado pela Fundação Getúlio Vargas em parceria com a Folha de São Paulo.
O evento, realizado de forma on-line, buscava responder se há uma “bolha” no setor, que apesar da crise causada pela pandemia da Covid-19 em toda a economia no ano passado, cresceu 9,8% em vendas, segundo a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).
Os participantes discordam da tese. “O momento atual pode ser explicado por vários fatores, mas principalmente pelo menor custo de crédito. Entre 2017 e 2020, o número de concessões quase dobrou. Também temos o programa Minha Casa Minha Vida, agora Casa Verde Amarela, que estimulou a demanda no segmento econômico”, afirma Ana.
Para o professor Alberto Ajzental, a dinâmica do mercado imobiliário é outro fator que ajuda a explicar o fenômeno de crescimento. “É um mercado de ciclo longo, de cinco anos em média, então mesmo quando temos um ano de pandemia, ele passa por cima e temos a percepção de que está bombando”
Já o pesquisador Paulo Picchetti lembrou que o mercado veio de uma queda brusca de preços ocorrida em 2014. “É mais um cenário de recomposição de preços e é muito heterogêneo. São Paulo, por exemplo, está muito descolado das outras capitais”, explica.
Desaceleração em 2021
Os três participantes acreditam que o momento positivo persistirá, porém com menos força. Pelo lado de quem compra para morar, Ana Castelo destaca que o crédito deve continuar abundante, mesmo com o recente aumento da Selic para 2,75% ao ano, indício que faz o mercado acreditar que os juros devem agora tomarão caminho de alta, pressionados pela inflação. “O crédito continua, mesmo com o aumento da taxa de juros, embora mais baixo que o ano passado. A preocupação é uma maior deterioração do cenário econômico, que pode acender um sinal de alerta”, explicou
Além disso, questões políticas como a dívida pública também devem colocar os imóveis mais em evidência no futuro próximo como opção de investimento, mantendo o setor aquecido. “Junto aos investimentos no estrangeiro, quem comprou imóvel como estratégia de diversificação não vai perder dinheiro”, afirmou Paulo.
Questionados sobre se a inadimplência deve ser uma preocupação para o setor, devido ao cenário de desemprego em alta e queda de renda, Ana acredita que dependerá do cenário econômico que está por vir. “Dados do Banco Central mostram que não teve uma alteração significativa da inadimplência, devido à decisão das financeiras de dar aos clientes a possibilidade de postergar os pagamentos. Mas é claro que se a situação persistir e houver dificuldade de retomada [ela pode aparecer]. Quem compra na planta vai sofrer com reajuste pelo o índice da construção, acima da inflação, e fim do auxílio emergencial pressionando os orçamentos”, explicou Castelo.
O professor Alberto Ajzental deixa um conselho para quem fechou financiamento recentemente. “Se você contraiu um financiamento com taxa pós-fixada, atrelada à Selic ou IPCA, vale a pena dar uma olhada e entender a situação, porque a Selic voltou a subir e deve subir mais por conta do IPCA. Essa subida da inflação e da poupança, por conta da Selic, me preocuparia”, afirmou.