O diretor-geral da Organização Internacional das Migrações (OIM), António Vitorino, defende a necessidade de debater o tema com “racionalidade”. Ele alerta para os governos que instrumentalizam os fluxos migratórios fazendo desses “bodes expiatórios fáceis” para problemas internos.
Segundo ele, as discussões sobre migração estão marcadas por “uma grande polarização”. “Algumas forças políticas pretendem utilizar as migrações, instrumentalizando-as como o bode expiatório fácil para um conjunto de males sociais que existem nas sociedades desenvolvidas e que vão muito para além da específica questão das migrações”, acrescenta Vitorino.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) divulgou os novos dados da crise migratória no Mar Mediterrâneo: só em 2018 morreram mais de 2,2 mil migrantes tentando fazer a travessia entre a África e a Europa.
António Vitorino destaca que, ainda que os números de 2018 sejam inferiores aos de 2017 – ano em que morreram mais de 3100 pessoas no Mediterrâneo – a proporcionalidade dos números recentes é mais preocupante, tendo em conta o total de chegadas.
“Proporcionalmente, o número não é menor. No ano passado houve 180 mil chegadas, este ano houve 130 mil. Podemos dizer que há mais mortos em relação ao número de tentativas de travessia”, destacou.
Para António Vitorino, os postos de controle nos locais de partida dos migrantes “são mais eficazes” e existe um melhor funcionamento da guarda costeira Líbia, que tem permitido dissuadir mais pessoas de seguirem “uma jornada quase suicida”.
“Mas infelizmente ainda há muitas pessoas que arriscam a própria vida. Isto prova que é absolutamente necessário ter uma ação mais decisiva”, afirmou o diretor-geral da OIM.
O responsável pela OIM disse ainda que, nos últimos anos, foram alcançados “progressos significativos” entre as várias organizações internacionais que lidam com a questão, o que tem permitido “criar condições de estabilização em algumas zonas de África Ocidental, da zona do Sahel ou África Subsariana”.
Mas reconhece que “não há uma solução mágica para estas situações. Os fluxos são muito flexíveis e é preciso responder a esta pressão em cada momento”, sendo que “também não é possível explicar às pessoas que não devem arriscar se não forem criadas condições para que fiquem nos países de origem”.
Desenvolvimento
António Vitorino aponta para a importância de se implementar políticas de desenvolvimento nos países de origem, principalmente de emprego. “A maioria dos migrantes é jovem, com menos de 30 anos. Se emigram é porque não encontram oportunidades de constituir família, de encontrar um emprego, de se estabelecerem.”
“O aumento da população que terá idade para entrar no mercado de trabalho não terá correspondência no número de postos de trabalho que são criados. A política de desenvolvimento pode ajudar, mas não produz retornos a curto prazo”, ressalta.
Além do emprego, a paz, a segurança, o respeito ao Estado Democrático de Direito e a boa governança são outros fatores decisivos.
*Com informações da TV pública portuguesa, RTP.