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Minicurso de Análise Fundamentalista Parte 3: As abordagens

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Por André Massaro*

Nos artigos anteriores do nosso minicurso, vimos os conceitos gerais da análise fundamentalista e conhecemos as estratégias mais comuns.

Aprendemos que os tais “fundamentos” que dão nome à Análise Fundamentalista, são, essencialmente, informações de origem econômica, setorial ou do ativo (ou empresa, no caso de ações).

Neste artigo, falaremos sobre as “sequências de aplicação” desses fundamentos, que são as chamadas “abordagens”. As abordagens mais comuns são a top-down e a bottom-up.

Abordagem top-down

Top-down significa, em Inglês, “de cima para baixo”. Essa abordagem tem esse nome porque parte dos fundamentos mais amplos (que são os econômicos) e vai para os mais específicos, que são os do ativo ou da empresa.

Então, na abordagem top-down, se parte da análise econômica.

Na análise econômica, tipicamente, analisamos fatores macroeconômicos, como a inflação, o nível de atividade da economia (medido, principalmente, pelo PIB e pelo desemprego), a situação fiscal do país, a situação cambial e a taxa de juros.

A análise econômica nos informa sobre a situação geral da economia e, conforme essa situação, sabemos que alguns setores podem ter mais chance de apresentar um desempenho melhor.

Afinal, existem setores que crescem quando a economia vai bem e aqueles que prosperam quando a economia vai mal. O que queremos, com a análise econômica, é “filtrar” quais setores analisaremos na sequência.

Após fazer a análise dos setores escolhidos, é hora de ver quais as empresas que fazem parte desses setores e determinar quais são aquelas que se qualificam.

As ações dessas empresas passam a ser, então, as “candidatas” a receber nosso investimento.

Abordagem bottom-up 

A abordagem bottom-up ocorre no sentido inverso. Ela vai do ativo ou empresa e vai “subindo” para os fundamentos mais abrangentes, que são os setoriais e os econômicos.

Normalmente, se usa a abordagem bottom-up quando o investidor JÁ TEM uma determinada empresa (ou um conjunto de empresas) em mente.

Nesse caso, o investidor seleciona aquelas ações em que já “está de olho” e analisa seus fundamentos. Se elas se qualificarem, parte-se para uma análise do setor ao qual elas pertencem, e, se “passar”, se faz a análise econômica.

Por que usar as abordagens top-down e bottom-up 

A principal razão para usar essas abordagens é bastante simples: poupar tempo. Usando essas abordagens, a análise fica mais eficiente e mais rápida.

Ao fazer uma análise top-down, você faz a análise econômica e, conforme o seu resultado, já elimina vários setores.

Na abordagem bottom-up, pode acontecer de uma determinada empresa ser “maravilhosa” na análise, mas o setor pode se revelar problemático. Nesse caso, você já “aborta” o processo de análise e procura alguma outra ação de outro segmento.

E quando usar uma ou outra?

Isso vai, basicamente, da preferência do analista ou investidor. Mas, como foi comentado anteriormente, caso o investidor já tenha alguma ação (ou ações) em vista, é melhor usar a abordagem bottom-up.

Já se o investidor não tiver nenhuma ideia de onde investir, a abordagem top-down pode dar mais amplitude à análise.

Fundamentos quantitativos ou qualitativos 

Já sabemos que, com relação à origem, os fundamentos podem ser econômicos, setoriais ou do ativo.

Porém, podemos classificar esses fundamentos (que são informações), também, com relação à sua FORMA: eles podem ser quantitativos ou qualitativos.

Informações quantitativas 

Os fundamentos QUANTITATIVOS são aqueles que, como o nome sugere, se baseiam em informações quantificáveis. Essas informações são, essencialmente, “números”, que podem ser quantificados e comparados.

As informações quantitativas mais utilizadas na análise fundamentalista são os indicadores financeiros das empresas, que são fórmulas matemáticas construídas em cima de dados contábeis da empresa e dos preços de suas ações.

Com esses indicadores, é possível comparar uma empresa com outra (ou com ela mesma, em diferentes momentos do tempo).

Alguns indicadores macroeconômicos (utilizados na análise econômica) também são quantitativos. Dados como PIB, inflação e taxas de juros são informações numéricas, que podem ser calculadas e comparadas.

Informações qualitativas 

Os fundamentos qualitativos são aqueles que não podem (ou são difíceis de) ser expressos em números e que dependem, em grau maior ou menor, da subjetividade e da capacidade de interpretação do analista.

Fatores como a reputação da empresa, a percepção dos clientes e a qualidade do corpo gerencial não podem ser expressos em números, e dependem da percepção de quem estiver analisando.

Informações quantitativas ou qualitativas – O que é melhor? 

A resposta para isso é, como em quase tudo no mundo das finanças, um grande “depende”. Depende da disponibilidade das informações e das preferências do analista.

As informações quantitativas são mais precisas e objetivas. Mas elas são mais limitadas, pois há fatores diversos e “nuances” que não podem ser traduzidos em números.

Já as informações qualitativas permitem análises mais amplas e abrangentes. Porém, por serem de natureza subjetiva, podem ser facilmente “contaminadas” pelos vieses, crenças e preconceitos do analista, levando a análises menos seguras.

Conclusão 

As abordagens top-down e bottom-up são “frameworks” de trabalho para facilitar a vida dos analistas e investidores. Mas não é uma obrigação usar alguma dessas duas abordagens.

Inclusive, muitos investidores de sucesso preferem limitar suas análises apenas às informações da empresa, ignorando os outros dois “níveis” de fundamentos.

Porém, para aqueles investidores que querem fazer uma análise mais ampla e com maior cobertura de fatores, as abordagens top-down ou bottom-up podem facilitar e agilizar o processo.

*André Massaro é autor, consultor e professor de finanças, investimentos e mercados financeiros. Saiba mais em andremassaro.com.br