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Muito além da Bettina: casas de análise independente orientam investidor a cuidar do dinheiro

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A polêmica envolvendo o vídeo da jovem investidora Bettina e seu ganho de R$ 1 milhão em três anos, da empresa de relatórios Empiricus, levantou a discussão sobre o crescimento dos serviços de análise independente de investimentos para pessoas físicas. Esse crescimento é um reflexo da queda dos juros, que aumenta o interesse por diversificação em mercados mais complexos, e da migração dos investidores dos grandes bancos para as plataformas independentes.

Nessas plataformas, eles têm mais opções, mas sentem falta de uma orientação isenta que os agentes autônomos ou as corretoras não podem dar, pois são vendedores de produtos. Enquanto os grandes investidores podem contratar um consultor ou planejador financeiro, os pequenos e médios têm agora a opção de assinar relatórios especializados na orientação para os iniciantes nos mercados.

Esse mercado foi desbravado pela Empiricus, com uma estratégia de marketing agressiva, e às vezes apelativa, para chamar a atenção dos investidores e atrair assinantes para seus relatórios. A fórmula era oferecer um comentário inicial dramático, de graça, e dar ao leitor a opção de assinar um serviço pago com as conclusões e indicações. Uma fórmula, aliás, importada dos Estados Unidos.

A estratégia deu resultado, como mostrou o sucesso do vídeo sobre o Fim do Brasil na época que antecedeu o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2015. Mas a insistência no exagero acabou na mira da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que teve de regulamentar as empresas de análise independentes e exigir que elas seguissem o código de ética dos analistas de investimentos, da Apimec, que proíbe promessas de ganhos. A Empiricus reagiu mudando sua atividade para editora e passou a justificar sua publicidade como liberdade de expressão. O caso foi parar na Justiça e a Empiricus conseguiu uma liminar contra a CVM, que depois foi derrubada pelo regulador.

A política do exagero parece ter atingido seu ápice com o
vídeo da Bettina, uma funcionária da Empiricus, e sua sugestão de que é
possível transformar R$ 1,5 mil em R$ 1 milhão em três anos. Ao trocar personagens
e situações imaginárias, como sempre fez, por um caso real, a propaganda da Empiricus
acabou chamando a atenção até do Procon, que decidiu abrir processo contra a empresa
por propaganda disfarçada.

Apesar disso, o vídeo e sua sugestão de ganhos fora da
realidade atraiu um número enorme de curiosos, mais de um milhão segundo a
Empiricus, e com eles muitos novos assinantes, que se juntaram aos 330 mil que
a empresa já tinha. Mas o episódio desagradou investidores mais experientes. A
tendência é que esses investidores que se sentirem frustrados com promessas
exageradas acabem procurando outras casas para obter informações. Isso já é
possível, pois pelo menos outras quatro empresas independentes de análise disputam
hoje o mercado de orientação ao investidor.

O processo de crescimento das casas de análise começou com as corretoras independentes montando plataformas de investimentos e tirando os investidores dos bancos, comenta Renato Breia, sócio da Nord Research, ela mesma uma dissidência da Empiricus, e que começou a operar em agosto do ano passado. O preço das assinaturas da Nord varia de R$ 18 a R$ 518 e inclui cinco produtos de recomendações e um curso de investimento de valor. Os sócios são Marília Fontes, Bruce Barbosa, Ricardo Schweitzer e o próprio Breia, todos certificados e autorizados a fazer recomendações, como exige a CVM.

 

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Ele compara o processo das casas de análise ao movimento de
disrupção que as fintechs estão provocando no mercado financeiro, mudando os
meios de pagamento, o crédito e consolidando carteiras de investimentos. E o
mercado tende a crescer mais, acompanhando o aumento do número de cadastros de
pessoas físicas na bolsa de valores e no Tesouro Direto, que se aproxima de 1
milhão. “O brasileiro está se informando mais e as redes sociais são fartas de
informações que aumentam o interesse pelos mercados”, diz.

Segundo Bréia, a Nord possui tanto assinantes especializados, gestores de fundos com bilhões de patrimônio, quanto estudantes e pessoas que começam a investir agora. Por isso é importante também que a linguagem das casas de análise independentes seja mais fácil e informal. “Nos relatórios de análise tradicionais, a linguagem é muito técnica, é preciso ter bastante conhecimento para entender, e nossa proposta é traduzir isso para a pessoa comum com um pouco de informalidade”, diz.

As corretoras, diz, oferecem soluções melhores para os investidores que os bancos, mas têm conflitos de interesses também, com produtos que dão mais retorno para a instituição ou para o agente autônomo do que para o investidor. “Por isso, as pessoas procuram uma opinião independente e confiável, e valorizam a orientação dos analistas”, diz.

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