Quando o produto é o propósito!

Existe um movimento crescente de ativistas e empreendedores que estão redefinindo o papel das empresas na sociedade. Com uma abordagem mais ética e responsável nos negócios, eles estão colocando preocupações sociais e ambientais no centro das operações das empresas.

Nestes casos, em vez do propósito ser algo mais intangível, que consolida os valores, a ideologia e a cultura organizacional, ele se materializa no produto. Trago aqui três exemplos desse movimento na prática.

Um caso bem conhecido no mercado brasileiro é o da “Ama”, água mineral da Ambev (ABEV3), marca que nasceu de uma causa.

A partir do fato de que 35 milhões de pessoas no Brasil não têm acesso à água potável e visando diminuir essa desigualdade, o produto foi criado para levar infraestrutura e mecanismos de coleta e tratamento de água para comunidades e localidades necessitadas.

Na prática, cem por cento do lucro obtido com as vendas é revertido para projetos de acesso à água potável no semiárido brasileiro, periferias do Sudeste, favelas e comunidades em SP e RJ e aldeias e territórios indígenas no Norte, tendo beneficiado mais de 600 mil pessoas desde 2017.

Outro caso muito interessante é da marca “Petit Pli”. Pensando em resolver a falta de sustentabilidade na indústria têxtil, conhecida pela cultura do descarte de roupas acentuado com o fast fashion, o estilista de Londres, Ryan Yasin, criou a roupa “Petit Pli”, uma vestimenta sustentável que acompanha o desenvolvimento das crianças.

As roupas, inspiradas na arte do origami, usam um tecido plissado, que “cresce” junto com os pequenos – a mesma peça serve dos três meses aos três anos. Além da economia gerada para a família, a iniciativa contribui para a redução do alto consumo de água e emissão de carbono, característicos dessa indústria.

Meu terceiro destaque vai para o Vollpension Café, de Viena, cidade do bolo (e da música).

Visando impactar positivamente a vida da sua população longeva, este estabelecimento social foi desenvolvido para combater a solidão, conectar gerações e gerar renda para os idosos, três problemáticas centrais dessa fase da vida.

Como resultado, a Vollpension emprega, capacita e conecta uma crescente comunidade de idosos da cidade, responsáveis por ensinar as receitas, assar os bolos e atender os mais de 200.000 visitantes por ano de todo o mundo, que encontram nessa experiência a memória afetiva da casa dos avós, criando um diálogo intergeracional, com muita empatia e respeito.

Em comum, os três negócios têm o propósito como razão de existir e por isso, oferecem algo a mais ao mercado, diferenciando-se de outros concorrentes em seus segmentos.

No livro “De dentro para fora: Como uma geração de ativistas está injetando propósito nos negócios e reinventando o capitalismo”, Alexandre Teixeira chama esse movimento de “uma revolução moral no âmago do capitalismo”. 

Um novo pensamento empreendedor que opera na lógica de mercado, mas busca conciliar lucro e justiça social, eficiência e bem-estar. Iniciativas privadas que estão criando negócios com missões claras de resolver problemas
sociais e ambientais tornam-se exemplos inspiradores que fundamentam uma forma de capitalismo mais contemporânea, onde todos ganham, porque quando sucesso econômico e impacto positivo tornam-se complementares, as pessoas encontram no propósito da marca, a razão para comprá-la.

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