Na quarta-feira (20), a Netflix apresentou números do primeiro trimestre deste ano, que mostraram que a gigante do streaming perdeu assinantes pela primeira vez na década. Para o analista internacional Cesar Crivelli, responsável pela cobertura do ativo na Nord Research, a Netflix reportou resultados fracos e abaixo da projeção mais conservadora do mercado.
A empresa registrou perda de 200 mil assinantes, enquanto o esperado, dado o guidance, era uma alta de 2,5 milhões de assinantes.
Lembrando que, desde a publicação do último resultado, muito aconteceu, como o início de uma guerra no Leste Europeu e a escalada brutal da inflação mundial.
Segundo a companhia, o resultado foi impactado pela saída da Rússia do serviço neste trimestre, que aumentou a baixa de 700 mil usuários pagantes. Ou seja, excluindo esse “efeito”, o saldo no 1T22 teria sido uma adição de +500 mil usuários, mesmo assim consideravelmente abaixo da meta da empresa para o trimestre.
No faturamento, apesar da perda de clientes, as receitas totalizaram US$ 7,8 bilhões de dólares, aumento de +9,8 por cento A/A e +2,1 por cento T/T.
"Do ponto de vista de custos e despesas, notamos que o resultado ficou dentro do esperado. A empresa contabilizou uma margem operacional de 25,1%, um pouco inferior ao apurado no ano anterior, o que já era esperado dada a inflação atual".
Para Crivelli, é importante ressaltar que, no período, a Netflix apresentou uma geração de caixa operacional de US$ 922 milhões e amortizou um total de US$ 700 milhões em dívidas.
Balanço frustra expectativas
No entendimento do analista, o que frustra mais uma vez os investidores é o guidance dado pela empresa para o próximo trimestre.
A Netflix espera uma perda de 2 milhões de assinantes no 2T22, visto que continuará a aumentar os preços em alguns mercados. O mercado estimava uma adição de +1,1 milhão de novos assinantes pagantes à base da empresa.
"De fato, a perspectiva de perda de assinantes é um balde de água fria, mas o momento em que vivemos é bastante desafiador, principalmente no que diz respeito à inflação e à renda real dos consumidores".
Estratégia comercial
A próxima vertente de crescimento da companhia deve advir da região Ásia Pacifico, onde, justamente no 1T22, houve um acréscimo de 1 milhão de novos usuários, enquanto em todas as outras regiões houve queda.
Além disso, a empresa planeja, agora, um plano mais barato, porém com a inclusão de anúncios. Rivais como a HBO Max e a Hulu já trabalham assim e receberam aceitação do público.
"Recentemente, a companhia disse que quer acabar com o compartilhamento de senhas. Há dinheiro na mesa e a Netflix vai correr atrás dele", diz Crivelli. Para se ter uma ideia, ressalta o analista, nos Estados Unidos e no Canadá, a Netflix estima que 30% dos lares estão usando uma senha compartilhada para acessar seu conteúdo.
"O curto prazo é desafiador, mas o longo prazo deve ser recompensador. Entendemos as dores dos acionistas da companhia, dada a queda das ações nos últimos meses, principalmente após a divulgação dos números do 4T21. Entretanto, o mercado tende a focar muito em questões de curto prazo, seja no lado positivo, seja no negativo. O sucesso de um investidor está justamente em saber ignorar esses ruídos e pensar a longo prazo".