Quando você escuta a palavra “crédito”, a primeira coisa que vem na sua cabeça é a ideia de adquirir dívidas? Se a resposta é sim, você pode estar equivocado. Segundo a planejadora financeira, criadora do site Finanças com Propósito e colunista da SpaceMoney, Thabata Abreu, o crédito pode fazer parte da sua estratégia de planejamento financeiro.
Na visão dela, a primeira coisa que você deve ter em mente é que o crédito não é um instrumento para gerar renda. Isso porque você vai usá-lo para comprar algo que não traz retorno monetário, como um imóvel ou um carro. Esses exemplos são apenas bens materiais e não investimentos.
“O crédito deve servir para quando você se planeja para alguma coisa e o utiliza como facilitador. Então, se eu quero comprar um imóvel, já tenho uma parte do dinheiro, mas não consigo pagar à vista, porque no mundo perfeito poucas pessoas conseguem esse feito, e ao mesmo tempo eu tenho a certeza de um fluxo de caixa futuro constante, eu usufruo do crédito”, explicou Abreu.
A especialista disse que nessa situação o crédito deve ser encarado como uma ajuda e não uma dívida. “O planejamento financeiro é o passo a passo para você adquirir um crédito com responsabilidade”, afirmou. Continue lendo para entender melhor como funciona a fusão do crédito com o planejamento.
Planejamento antes de pegar o crédito
Antes de qualquer coisa, estabeleça uma meta. “Você realmente precisa pegar crédito com uma instituição? É justificável? É o melhor momento? Se sim, vai lá. Mas se alguma das respostas for não, repense porque talvez você consiga achar uma opção mais vantajosa”, compartilhou Thabata.
A especialista lembrou que há muitos tipos de crédito no mercado e que alguns são mais vantajosos que outros. Alguns descontam mensalmente uma quantia do seu salário, então é importante analisar quanto você possui disponível no mês e calcular para que os custos básicos não sejam prejudicados.
Veja, abaixo, algumas modalidades de crédito e suas principais características:
Empréstimo pessoal
Nele, os juros variam de acordo com o banco. É necessário pesquisar e comparar o que os bancos estão oferecendo. É indicado para quando você precisa de pouco dinheiro e tem a possibilidade de quitá-lo rapidamente.
Empréstimo consignado
Esse tipo é descontado diretamente do seu salário. Isso faz com que as taxas sejam mais baixas, uma vez que o credor tem total segurança de que vai receber o dinheiro de volta. Esse tipo de crédito é recomendado para quando você quer trocar uma dívida mais cara por uma mais barata.
Financiamento
É bem parecido com o empréstimo pessoal. Aqui, o que muda é que você precisa dizer ao credor o motivo pelo qual você está pegando o dinheiro, ou seja, para que irá usá-lo. Assim, a quantia liberada vai depender do valor do bem. É interessante usar esse tipo ao comprar um carro ou imóvel.
Consórcio
Essa linha de crédito é mais indicada para o longo prazo. Basicamente, nesse modelo, você paga o banco antes de adquirir o bem e recebe o dinheiro para comprar à vista. É interessante para comprar carros ou casa quando não há urgência ou pressa.
O período desse pagamento pode ser bastante interessante porque há bancos que permitem um pagamento em até 120 meses.
Cartão de crédito
Facilita as compras a prazo, como um celular, uma televisão e os bens de consumo básicos. Esse tipo de crédito oferece a possibilidade de parcelas, contudo, alguns cobram taxas muito altas por isso.
Se algum dos exemplos acima serve para você, pesquise todos os detalhes sobre o empréstimo escolhido, analise custos, prazos e limites. “Sempre que você toma um crédito na urgência, sem um plano prévio, as chances de o resultado ser ruim são muito altas. Pesquise e analise antes”, aconselhou Abreu.
Quando não utilizar o crédito?
“Quando a sua situação envolve gastar mais do que você ganha ou se você não tem uma reserva financeira não é aconselhável tomar crédito para ter esse dinheiro que está faltando. Isso porque as chances de você atrasar os pagamentos e se endividar são muito grandes porque falta planejamento”, adicionou a especialista.
Ela também lembrou que se está sem emprego e resolve pegar crédito é uma má escolha. Segundo ela, “um crédito sem salário não é positivo. Ele é muito ruim porque você não tem a previsibilidade da renda que vai entrar para você todo mês e assim você não sabe se vai conseguir quitar o crédito. Com isso, a pessoa só vai adquirir dívidas”.
Quais os benefícios ao se tomar crédito?
As vantagens destacadas por Abreu quando o crédito é adquirido com consciência são: reduzir as taxas de dívidas já existentes; adiantar o consumo de algum bem; fechar um bom negócio mesmo não tendo grana; financiar a educação; e ter tranquilidade ao adquirir aquele bem que tanto sonhou.
Já pelo lado do risco ela destacou as dívidas maiores que podem ser adquiridas. “É preciso lembrar do fluxo constante de caixa para quitar o empréstimo”, lembrou.
A mudança de mentalidade é importante
“O problema no Brasil é que temas como crédito, previdência e seguro são produtos que foram ‘urubusados’. Ou seja, eles foram vendidos tão indiscriminadamente que a maior parte das pessoas acha que eles são coisas ruins ou que você deve olhar para eles apenas quando tiver uma necessidade específica. Mas, na verdade, eles podem ser grandes estratégias para o planejamento financeiro, como comprar uma casa a longo prazo e ir guardando mais dinheiro enquanto paga as parcelas”, opinou Abreu.
Além disso, a especialista observou que o histórico financeiro do brasileiro é marcado por falta de acesso, falta planejamento, falta de informação e concentração do mercado. “Esses fatores, unidos, não permitem que a pessoa encontre outras instituições que a ajudam a planejar e oferecem taxas menores. O acesso é a chave”, concluiu.