Criptomoedas

O que são stablecoins e como elas funcionam?

Entenda o que são stablecoins, tipos, modelos, exemplos, contexto histórico e o que esperar para o futuro

Entenda o que são stablecoins
Stablecoins são criptomoedas projetadas para reduzir a volatilidade do mercado e oferecer mais segurança aos investidores, mantendo a paridade com ativos estáveis | Crédito: SpaceMoney

Nos últimos anos, a crescente adoção das criptomoedas transformou o ambiente financeiro e abriu caminho para uma revolução no mercado. De maneira geral, as criptomoedas se dividem em três grupos principais: as nativas, que possuem sua própria blockchain e operam de forma autônoma, como o Bitcoin; as altcoins, alternativas ao Bitcoin que possuem alguma utilidade, como a Solana ou Cardano; e as stablecoins, criptomoedas projetadas para serem menos voláteis e têm seus valores atrelados a ativos estáveis.

Pensando nisso, confira agora um guia completo sobre as stablecoins e entenda de uma vez como esses criptoativos funcionam.

O que são stablecoins?

Stablecoins são ativos digitais criados com o propósito de reduzir a instabilidade dos preços comum em outras criptomoedas. Dessa forma, estes instrumentos asseguram um valor fixo ou com variações mínimas, permitindo a realização de transações seguras e ágeis. Em resumo, as stablecoins reúnem a capacidade de integrar a eficiência do sistema descentralizado com a segurança dos ativos tradicionais.

Elas operam por meio de mecanismos de estabilização que garantem a manutenção de seu valor. Inicialmente, destaca-se o uso de reservas em moeda fiduciária ou outros ativos reais, que atuam como lastro para sustentar a paridade. Também existem os sistemas algorítmicos que dependem de algoritmos para ajustar automaticamente a oferta conforme a demanda do mercado. Dessa maneira, o funcionamento das stablecoins envolve tanto a segurança de reservas físicas quanto a sofisticação de processos automatizados.

Como as stablecoins surgiram?

O surgimento das stablecoins está ligado ao crescimento e à volatilidade do mercado de criptomoedas. Em 2014, a primeira stablecoin a ser lançada foi a Tether (USDT), criada pela Tether Limited, empresa fundada por figuras como Brock Pierce, Reeve Collins e Craig Sellars.

O intuito da Tether era criar um ativo digital estável que unisse a inovação do blockchain à segurança de manter um valor estável, lastreado em reservas de dólares americanos. Com essa proposta, buscou-se oferecer uma alternativa para que investidores e instituições pudessem realizar transações sem os riscos associados às oscilações extremas dos preços dos ativos digitais.

Atualmente, a Tether consolidou sua posição como a stablecoin mais utilizada globalmente. Sua ampla adoção em diversas plataformas e a integração com múltiplas blockchains, como Ethereum e TRON, a tornam um elemento crucial para operações de negociação e transferências de valor no ecossistema cripto.

Apesar de enfrentar desafios de transparência relacionados à transparência de suas reservas, a Tether continua a desempenhar um papel fundamental na ponte entre o sistema financeiro tradicional e o digital, atendendo tanto investidores iniciantes quanto o público institucional.

Nos anos seguintes ao lançamento da Tether, o mercado de stablecoins expandiu-se significativamente, diversificando os ativos de lastro para atender a diferentes necessidades e perfis de investidores. Além das stablecoins lastreadas em moedas fiduciárias, como o dólar americano, surgiram aquelas vinculadas a outras moedas, como o euro, e a commodities, como o ouro.

Tipos de stablecoins

Com a criação de várias stablecoins, tornou-se evidente a necessidade de classificá-las conforme suas estruturas de lastro e mecanismos de manutenção de valor. Atualmente, elas se dividem em quatro tipos:

1. Stablecoins lastreadas em moedas fiduciárias (fiat-collateralized): essas são respaldadas por reservas de moedas fiduciárias, como o dólar americano ou o euro. Para cada unidade emitida, há uma quantia equivalente mantida em reserva por uma entidade centralizada, garantindo a paridade de 1:1. Dentre elas estão o Tether (USDT) e o USD Coin (USDC).

2. Stablecoins lastreadas em commodities (commodity-collateralized): nessa categoria, as stablecoins são garantidas por ativos físicos, como metais preciosos. Um exemplo é a PAX Gold (PAXG), que é lastreada em ouro, permitindo que os detentores possuam uma representação digital do metal precioso.

3. Stablecoins lastreadas em criptomoedas (crypto-collateralized): são moedas digitais que usam outras criptomoedas como garantia de valor. Como as criptomoedas costumam variar muito de preço, esse tipo de stablecoin mantém uma quantidade extra de garantia para se proteger dessas variações. Um bom exemplo é o DAI, criado pela organização MakerDAO, que usa diferentes criptomoedas como garantia para manter seu valor estável.

4. Stablecoins algorítmicas (non-collateralized): diferentemente das anteriores, as stablecoins algorítmicas não possuem colateral direto. Elas utilizam algoritmos e contratos inteligentes para controlar automaticamente a oferta e a demanda, visando manter a estabilidade de preço. Um exemplo é a extinta Basis, que implementava esse modelo.

Em 2018, a Basis arrecadou US$ 133 milhões para desenvolver uma stablecoin algorítmica que mantivesse paridade com o dólar por meio de tokens secundários. No entanto, preocupações regulatórias nos EUA levaram ao encerramento do projeto, pois os tokens secundários poderiam ser classificados como valores mobiliários, impondo restrições que inviabilizariam o modelo proposto.

Qual desses tipos é melhor?

Diante de todas essas opções, é comum surgirem dúvidas sobre qual dessas stablecoins é melhor e quais são os pontos fortes e fracos de cada uma.

Em primeiro lugar, as lastreadas em moedas fiduciárias oferecem alta estabilidade e simplicidade, facilitando a compreensão e o uso. No entanto, a centralização implica riscos de contraparte e possíveis desafios regulatórios. Elas são indicadas para investidores que buscam uma alternativa digital estável às moedas tradicionais, com baixa tolerância ao risco e preferência por ativos respaldados por instituições reconhecidas.

Em segundo lugar, as stablecoins lastreadas em criptomoedas promovem maior descentralização e transparência, alinhando-se aos princípios das finanças descentralizadas (DeFi). Contudo, a volatilidade dos ativos colateralizados pode exigir sobrecolateralização e apresenta riscos adicionais. Esse tipo é adequado para investidores familiarizados com o ecossistema cripto, que valorizam a descentralização e estão dispostos a gerenciar riscos associados à volatilidade.

Em terceiro lugar, as lastreadas em commodities dependem da confiança na entidade custodiante e podem enfrentar desafios relacionados à auditoria e transparência das reservas. São indicadas para investidores interessados em ativos tangíveis, buscando proteção contra a inflação e diversificação de portfólio.

Por fim, as stablecoins algorítmicas permitem uma maior escalabilidade e descentralização. No entanto, a eficácia desses mecanismos ainda é incerta, especialmente em períodos de alta volatilidade, podendo levar a falhas na manutenção da paridade. Investidores com perfil mais arrojado, interessados em inovação e dispostos a assumir riscos associados a modelos experimentais, podem se interessar por esse tipo de stablecoin.

Tendências para o futuro

O impacto das stablecoins no mercado financeiro já desperta grande interesse, uma vez que elas facilitam transações internacionais, aumentam a liquidez e promovem a inclusão digital. Espera-se que nos próximos anos, o setor das criptomoedas seja regulamentado mundialmente.

No Brasil, o Banco Central planeja implementar regulamentações específicas para stablecoins e para a tokenização de ativos ainda este ano, visando aumentar a segurança e transparência no setor.

Além disso, para os próximos anos, a adoção dessas regulamentações pode acelerar a digitalização dos sistemas de pagamento, facilitando a integração entre métodos tradicionais e inovações tecnológicas. Com regras claras, espera-se maior confiança de consumidores e instituições financeiras, promovendo a inclusão financeira e a eficiência nas transações, não só das stablecoins, como de todas as demais criptomoedas.