Voto impresso no Brasil

Para presidente do TSE, "defunto" do voto impresso foi enterrado

Após meses atacando as urnas eletrônicas, presidente Jair Bolsonaro disse em entrevista recente que não tinha por que duvidar do atual sistema de votação

Luís Roberto Barroso, ministro do STF e presidente do TSE - José Cruz/Agência Brasil
Luís Roberto Barroso, ministro do STF e presidente do TSE - José Cruz/Agência Brasil

Por Ricardo Brito, da Reuters – O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, afirmou nesta segunda-feira (4) que finalmente o defunto foi enterrado após se referir a uma série de eventos que levaram ao arrefecimento das discussões sobre a adoção do voto impresso para as urnas eletrônicas.

"Tenho a impressão que, depois que a Câmara dos Deputados votou, o presidente do Senado disse que não reabriria a matéria e que agora o próprio presidente da República disse que confia no voto eletrônico, acho que finalmente esse defunto foi enterrado", disse ele, em entrevista a jornalistas no TSE.

Após meses atacando as urnas eletrônicas, inclusive ameaçando não ter eleições no próximo ano, o presidente Jair Bolsonaro disse em entrevista recente à revista VEJA que não tinha por que duvidar do atual sistema de votação após a participação das Forças Armadas em todo o processo de auditagem das urnas.

Um representante dos militares fará parte de uma comissão do TSE para acompanhar a auditagem do sistema.

Na coletiva, Barroso disse ter ficado "extremamente feliz" com o fato de Bolsonaro ter sido convencido de que não há problemas no voto eletrônico. O presidente atacou duramente Barroso nos últimos meses por se opor ao voto impresso nas urnas eletrônicas –proposta que foi rejeitada pelo plenário da Câmara.

O presidente do TSE minimizou a ausência de representantes políticos críticos ao voto eletrônico no evento de mais cedo para aumentar a transparência em todas as etapas do processo eleitoral.

"A gente não seduz quem não quer ser seduzido", disse.

Transparência

A um ano das eleições gerais, o presidente do TSE abriu o "Ciclo de Transparência Democrática – Eleições 2022" evento com a participação de representantes de vários partidos políticos e outras autoridades em que se demonstrou todos os passos para o uso das urnas eletrônicas.

O TSE decidiu ampliar e antecipar a exposição e a participação dos envolvidos no processo eleitoral após constantes ataques feitos pelo presidente contra o atual sistema eletrônico de votação.

Nesta segunda, na inauguração do ciclo de transparência, representantes dos partidos puderam acompanhar no TSE a etapa de código-fonte, conjunto de linhas de programação do software da urna eletrônica para que ela funcione.

O presidente do tribunal disse que a corte está muito empenhada em prover para a sociedade brasileira "eleições limpas, seguras e auditáveis", destacando que o país está no maior período de estabilidade democrática, 33 anos desde a promulgação da Constituição de 1988.

"Nós nos empenhamos em que as urnas expressem fidedignamente a vontade popular e que o jogo transcorra da forma mais limpa possível", afirmou.

O secretário de Tecnologia da Informação do TSE, Júlio Valente, fez uma explicação de todas os 12 pontos de auditoria do sistema, desde o ato desta segunda-feira até a lacração do programa das urnas para ser usado na votação propriamente dita.

Valente destacou que as urnas funcionam fora de redes de internet e que o processo, adotado desde 1996, retirou a intervenção humana que poderia levar a fraudes, numa referência à época em que a votação era em cédulas de papel e a contagem manual.

"É um processo auditável, inovador e em 25 anos passa por melhorias contínuas", reforçou.

Mais cedo, sem citar Bolsonaro, Barroso afirmou que o Brasil terá sim eleições livres e instituições funcionando em 2022, apesar dos ataques que foram feitos à democracia no país.

"Estou seguro que chegaremos às eleições de 2 de outubro de 2022, daqui um ano, com instituições funcionando, eleições livres, instituições funcionando, uma campanha aberta, robusta, mas digna, para escolha do novo presidente do Brasil e para as representações no Congresso e nas assembleias legislativas", afirmou na abertura de um seminário sobre integridade eleitoral na América Latina, organizado pelo TSE para marcar um ano até as próximas eleições.