O governo tentou como pôde ontem explicar a intervenção direta do presidente da República, Jair Bolsonaro, na Petrobras, ao mandar a empresa suspender um reajuste do diesel na quinta-feira. Apesar das justificativas, os investidores consideraram a intervenção um péssimo sinal para um governo que se diz liberal e defensor do livre mercado, e derrubou as ações da estatal. O valor de mercado, soma total de suas ações, caiu de R$ 393,897 bilhões na quinta-feira para R$ 361,5 bilhões ontem no fechamento, segundo cálculos da corretora Mirae Asset. A ação preferencial da empresa, PN, sem direito a voto, caiu 7,75% e a ordinária, ON, com voto, 8,89%.
A empresa levou junto o mercado, e o Índice Bovespa fechou em queda de 1,98%, de volta aos 92,875 pontos, afastando-se ainda mais do recorde de 100 mil pontos de três semanas e duas crises atrás. O índice ainda sobe 5,68% no ano, mas perdeu 4,36% na semana e 2,66% neste mês.
O receio do mercado é de que a empresa volte a ser usada para fins políticos ou populistas, como nos governos passados, para segurar a inflação ou agradar setores à custa de sua saúde financeira. Foi isso que levou a companhia a ser uma das mais endividadas do mundo, problema que ela está ainda resolvendo ao vender subsidiárias e ativos não ligados à exploração.
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Reação à ameaça de caminhoneiros
A ação de Bolsonaro está ligada diretamente às novas ameaças dos caminhoneiros de paralisar o país novamente em protesto pelo aumento do diesel, que apesar dos reajustes espaçados, tem de subir para acompanhar a alta do petróleo no exterior. A Petrobras tem limites para adiar o reajuste, sob pena de comprometer sua saúde financeira. Movimentos semelhantes de protesto ocorrer no mundo inteiro, devido ao aumento do custo do petróleo. E a ação do governo Bolsonaro de sugerir mudar a embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém, desagradando os países árabes, maiores produtores de petróleo do mundo, complica a situação, avaliam analistas.
Abstrai e finge demência…
Em Washington, onde participa da reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI), o ministro da Economia, Paulo Guedes, reagiu ao estilo “abstrai e finge demência” ao ser questionado sobre a interferência do presidente. “Eu não sei do que vocês estão falando”, respondeu, ficando em silêncio diversas vezes quando perguntado sobre o caso. Depois, indicou que não foi comunicado pelo chefe Bolsonaro da decisão de suspender o reajuste, segundo reportagem da Folha de S.Paulo.
Só queria entender
Na sexta (12), o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, afirmou que o presidente recomendou o adiamento do reajuste no preço do óleo diesel para entender aspectos técnicos da decisão da Petrobras, mas negou que haja interferência do governo na política de preços da estatal.
“Por princípio, o senhor presidente entende que a Petrobras, uma empresa de capital aberto, sujeita as regras de mercado, não deve sofrer interferência política em sua gestão. No entanto, em face do impacto sobre a população do ajuste anunciado, cerca de 5,7%, ele recomendou a aguardar a implantação, e convidou ministros ligados a área, e uma equipe técnica da Petrobras, para comparecerem ao Palácio do Planalto, na próxima terça-feira, com o intuito de discutir os aspectos técnicos da decisão”, informou.
Na quinta-feira, a petroleira havia anunciado um reajuste de 5,7% do diesel nas refinarias, mas a medida foi suspensa hoje pela direção da empresa. O presidente Bolsonaro disse que há preocupação com o reajuste dos combustíveis pelo impacto no setor de transporte de cargas, afetando diretamente os caminhoneiros.
Ministério diz que busca saídas para o diesel
Em nota, o Ministério de Minas e Energia diz que vem trabalhando, em conjunto com outros órgãos, para buscar soluções estruturantes na questão dos preços de combustíveis, notadamente o diesel, sem qualquer incidência sobre a liberdade econômica da Petrobras.
“Como exemplo dessas soluções, cabe mencionar que no último dia 26 de março, a Diretoria Executiva da Petrobras alterou a periodicidade de reajuste nos preços do óleo diesel, que passaram a ser reajustados por períodos não inferiores a 15 dias. (…) Adicionalmente, foi anunciada a criação do Cartão Caminhoneiro, que tem como objetivo a compra por caminhoneiros de diesel a preço fixo nos postos com a bandeira BR. O Cartão Caminhoneiro servirá como uma opção de proteção da volatilidade de preços, garantindo assim a estabilidade durante a realização de viagens”, informou a pasta.
Presidente da estatal garante independência
Em nota, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, explicou como foi a abordagem de Bolsonaro e diz que a decisão de suspender o reajuste foi da estatal. Ele garantiu que a empresa segue independente. “Recebi ontem, no fim do dia, uma ligação telefônica do Presidente Bolsonaro me alertando sobre os riscos do aumento do preço do diesel divulgado pela Petrobras. Considerei legítima a preocupação do Presidente”, informa a nota.
” A Petrobras decidiu, então, suspender o reajuste do preço do diesel com base em cálculos técnicos e na posição de instrumentos de hedge para sua proteção contra prejuízos”, continua.
“Reitero que a Petrobras é uma empresa completamente autônoma para a tomada de decisões, coerente com seus fins institucionais e que sempre buscará a defesa do interesse dos seus acionistas e do Brasil”, conclui Castello Branco.
Com informações da Agência Brasil.
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