Com a sinalização de que pretende formar um núcleo duro no Congresso e com a Reforma da Previdência encaminhada, o governo Bolsonaro entra, agora, em um novo ciclo. O perfil dos grupos mais próximos ao presidente exemplifica a mudança de fase. Se antes os militares tinham grande influência, agora Bolsonaro aparenta ter dado tom mais personalista ao seu mandato, aproximando-se dos evangélicos e mantendo a influência de seus filhos.
O recente conflito do presidente com o PSL é outro exemplo desse movimento. Os rumores de que Bolsonaro pode trocar de partido se acentuaram durante a semana passada, depois que o presidente foi flagrado criticando o PSL e seus dirigentes. Filiado desde março de 2018, Bolsonaro nunca manteve vínculo próximo com a legenda. Esse distanciamento partidário também é característico da carreira política do presidente, que já passou por nove partidos diferentes.
Durante o período eleitoral, Bolsonaro procurou espaço em uma legenda onde pudesse levar adiante a retórica antipetista e conservadora. Assim, seu alinhamento com o PSL foi mais pragmático, em função do espaço disponibilizado por um partido de pequeno porte, que por uma convergência programática.
De outro lado, o bolsonarismo, movimento que surgiu no decorrer de 2018 em torno do então presidenciável, nunca esteve necessariamente atrelado ao PSL. Embora o desempenho do partido tenha sido um fenômeno eleitoral – passando de 1 cadeira eleita em 2014 para segunda maior bancada da Câmara em 2018 – deputados e senadores eleitos foram impulsionados principalmente pela figura de Bolsonaro. Isso também se verifica quando são observados cargos no Executivo. Governadores de outros partidos, como Wilson Witzel (PSC) do RJ e João Doria (PSDB) de SP, também tiveram suas candidaturas alavancadas pela associação à figura do então presidenciável.
Considerado esse retrospecto, na hipótese de Bolsonaro deixar o PSL, o ônus é maior para o partido do que para o presidente. No curto prazo, os recursos já garantidos à legenda para as eleições de 2020 devem evitar que parlamentares com ambições eleitorais deixem o partido. No entanto, com uma eventual criação de uma nova legenda, fusão de outras ou mesmo com a abertura da janela partidária, é esperado que os parlamentares migrem para o novo partido de Bolsonaro.