A Eletrobrás está reelaborando o projeto de capitalização e reestruturação da empresa com o governo Bolsonaro e deverá concluir a operação em 12 meses, espera o presidente da estatal, Wilson Ferreira Júnior. Segundo ele, o valor que a empresa deverá captar no mercado deve superar os R$ 12 bilhões estimados inicialmente pela empresa. “Quando fizemos a primeira estimativa, a empresa valia R$ 25 bilhões e o valor captado ficaria em R$ 7 bilhões, mas a empresa se valorizou e o valor subiu para R$ 12 bilhões”, explicou, durante apresentação em evento do banco Credit Suisse. “Mas agora, a empresa já vale R$ 42 bilhões e com os R$ 12 bilhões passaria a valor R$ 54 bilhões, e a fatia do governo cairia de 63% para exatamente 49%, como queremos”, explicou. “Então, neste momento, idealmente, a captação tem de ser maior que esses R$ 12 bilhões”. O objetivo, diz o executivo, não é só mudar a estrutura da empresa com a entrada de um novo sócio, mas garantir investimentos e reduzir a participação do governo para menos de 50%.
A capitalização depende, porém, de um acordo entre os participantes do mercado para dividir as perdas iniciais que a reestruturação do setor trará. Hoje, o projeto de lei proposto pelo governo estabelece que os ganhos sejam divididos entre os investidores, o governo e os consumidores, via redução de tarifas. “Mas todos terão de ceder alguma coisa, geradores, distribuidores, governo, para chegarmos a uma solução”, explicou. A proposta é que a Eletrobrás se concentre em geração, transmissão e comercialização de energia. Mas isso só será possível com a revisão da atual forma como os preços são calculados, em especial o risco hidrológico, ou GSF, que é o risco de chuvas afetar as represas e reduzir o fornecimento de energia das geradoras. Hoje, esse risco entra no cálculo e encarece as tarifas, criando as bandeiras verde, amarela e vermelha paga nas contas de luz. “Minha prioridade hoje é o GSF, pois ele impede o desenvolvimento do mercado livre de energia e desencoraja o investimento e cria problema para o consumidor”, disse. “A tarifa de energia subiu 70% acima da inflação nos últimos 10 anos e isso foi por causa do risco hidrológico”, acrescentou. Para ele, será preciso que cada participante do setor assuma parte dessa perda para que ela não fique apenas com o consumidor.
Outro fator importante será a conclusão da usina nuclear de Angra 3. Segundo Ferreira Júnior, a empresa está em contato com grandes empresas internacionais do setor para encontrar um parceiro para concluir o projeto. “Não queremos apenas um investidor, precisamos de tecnologia, como foi com Angra I e II que tiveram a Siemens como parceira”, disse. Segundo o presidente da Eletrobrás, se estivesse em funcionamento, Angra 3 permitira uma redução nas contas de luz de cerca de 1,5%. “É uma usina importante, pois está próxima de São Paulo, Rio e Belo Horizonte”, disse.
A Eletrobras deve ainda retomar o programa de venda de ativos. “Não vendemos tudo que queríamos no ano passado”, disse. Segundo ele, das 178 Sociedades de Propósito Específico (SPE) que a Eletrobrás tinha, a meta era ficar com 53. “Vendemos 77 e faltam ainda vender cerca de 50”, disse.
Ele disse ainda que a empresa está estudando trocar emissões no exterior por papéis no mercado local. “Hoje temos ofertas de bancos locais com taxas menores e prazos maiores que os do mercado externo”, afirmou. Segundo ele, a empresa tem dois papéis vencendo este ano no exterior e vai anunciar hoje ou amanhã uma proposta para captação via bancos locais.
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