Diante de um cenário de inflação persistentemente alta e de menor poder de consumo do brasileiro médio, até mesmo as empresas que operam com a venda de produtos essenciais – business com demanda resiliente – acabam sofrendo maiores pressões em suas margens.
A equipe de analistas da Genial Investimentos levantou números do trimestre e fez uma análise para as empresas do varejo farmacêutico para o período.
Cenário para as farmacêuticas
O Brasil é o sétimo país mais populoso do mundo com 214 milhões de brasileiros, segundo dados do IBGE, e vem observando sua pirâmide etária se inverter.
Em 2020, a maior concentração etária da população brasileira estava abaixo dos 30 anos. Dando um salto temporal, durante as próximas 3 décadas cerca de 20% da população terá 25 anos de idade. E isso pode ser o início de um grande “boom” na demanda por medicamentos e serviços de saúde.
No entanto, avalia a Genial, o grande percalço do curto prazo será a inflação, e ela não promete “perdoar” nem mesmo as vendas de bens essenciais, como produtos alimentícios e medicamentos.
"Com a inflação abocanhando parte do poder aquisitivo do brasileiro médio, selecionar produtos mais baratos é quase que uma lei diária para o consumidor. Ao longo do primeiro trimestre, veremos que as linhas de genérico e similares novamente como destaque nas vendas", pontua a Genial.
Outro grande ponto da inflação, ressalta a casa, é que ela também ataca as margens da companhia, principalmente, ao olharmos maiores despesas operacionais (gastos com energia elétrica, gastos com aluguel e gastos com pessoas).
Para aliviar as pontas para o setor, todo mês de março, a CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos) divulga o reajuste de medicamentos. Para calcular esse número do reajuste, a CMED considera a variação do IPCA, os ganhos de produtividade dos fabricantes e a variação de custos dos insumos no mercado.
Em 1º de abril de 2022, a Câmara autorizou o reajuste anual de 10,89%, um número acima da inflação para o acumulado de 12 meses até fev/22, que ficou na casa de 10,54%. Este foi um dos maiores reajustes da década, e pode aliviar um pouco as margens do setor de varejo farmacêutico. No entanto, a Genial lembra que, devido o delay existente entre a inflação praticada e a autorização de repasse pela CMED, o 1º trimestre de 2022 ainda não será beneficiado por esse aumento.
"Ou seja, por ora, em uma análise geral, o 1º trimestre de 2022 deverá trazer pressões às margens das farmacêuticas. A questão é: qual player tem a estrutura de despesas mais enxuta e maior poder de negociação para resistir a um cenário macro mais desafiador?", provoca a Genial
O que os analistas esperam para o trimestre?
PanVel (PNVL3)
A PanVel, rede farmacêutica “top of mind” do Rio Grande do Sul, tem um plano ousado: atingir 800 lojas de funcionamento até 2025. A meta de abertura para 2022 é de 65 unidades. Apesar do guidance de abertura, segundo a Genial, a companhia foca muito mais na qualidade do que quantidade. Atingir o faturamento por loja é muito mais importante do que abrir unidade de qualquer maneira.
"Olhando para a primeira linha da Panvel, estimamos que o faturamento do varejo deve crescer acima de 17,5% ano contra ano. Ao somarmos as atividades do varejo com o atacado e indústria (Lifar), a rede farmacêutica deve apresentar um crescimento de 16% a/a, atingindo R$ 940 m no 1T22".
"Abrindo a receita bruta pela mix de vendas, devemos ver os segmentos “Higiene e Beleza” e “OTC” (sigla para medicamentos que não precisam de prescrição médica) contribuindo com maior faturamento para o período. Para os próximos trimestres, poderemos ver uma normalização, com o “Genérico” voltando a ganhar mais relevância", diz a Genial.
Conforme a análise, a margem bruta da Panvel deve sentir uma pressão consolidada de 250 pontos-base, atingindo 28,5% no trimestre. Agora, olhando para a dinâmica da margem EBITDA, a Genial estima algo parecido em relação ao do 1ª trimestre de 2021, em 4,5%.
Pague Menos (PGMN3)
A rede de farmácia Pague Menos pretende abrir 120 lojas brutas até o final de 2022, um crescimento de 50% em relação à abertura de 2021.
Para o 1º trimestre, a Genial espera que a primeira linha do balanço da Pague Menos cresça a uma taxa de 9% a/a, atingindo R$ 2,08 b no período. "Nossa principal preocupação segue com o “meio termo” entre a primeira linha e a última: despesas".
Ao olhar a linha de despesas operacionais, a Genial utiliza o 4º trimestre de 2021 como proxy. Diante de um cenário macro mais deteriorado, entende que faz muito mais sentido projetar os números através de uma base sequencial de trimestre a trimestre.
"Esperamos que a dinâmica do para o 1º trimestre de 2022 ainda seja de pressão para a margem EBITDA da Pague Menos. Alguns pontos corroboram para a nossa análise: (i) maiores gastos com energia elétrica (ainda) em bandeira vermelha; (ii) grande parte das 80 lojas abertas em 2021 não atingiram o seu breakeven; e (iii) impacto do dissídio no período".
"Projetamos que as despesas operacionais terão acréscimo de 4 pontos base em uma base sequencial. Ao olharmos no anual, a variação é equivalente a +110 bps. Esse aumento de despesas impactará diretamente a margem EBITDA estimada para Pague Menos no 1º trimestre de 2022, retrair para 7,2%".
A última linha do balanço, referente ao lucro líquido, também deverá seguir a mesma dinâmica do 4º trimestre, com o resultado financeiro líquido pressionado por um cenário de juros mais altos, levando a margem líquida para 1,4% no trimestre.
Raia Drogasil
E aqui está a top pick do setor farmacêutico para a Genial: Raia Drogasil.
"Adicione um pouco de CVS Health e Walgreens, com uma picância de “clínica” ao lado, a um omnicanal da “Ping An Good Doctor”. Essa é a receita de sucesso que ajuda a inspirar o negócio da Raia Drogasil aqui no Brasil", considera a Genial.
Mais do que uma varejista farmacêutica, a Raia caminha para ser uma provedora de saúde integral. Para isso, a companhia está investindo bastante em seu marketplace, aumentando consideravelmente a quantidade de SKUs (sigla para produtos únicos).
De todas as varejistas farmacêutica sob cobertura d Genial, a Raia Drogasil tem a meta de abertura mais ousada para 2022: são esperadas a abertura de 260 lojas neste ano.
"Esperamos que a Raia Drogasil cresça a sua primeira linha do balanço, referente à receita líquida, em 16,3% ano contra ano, atingindo R$ 6,9 b no 1T22. A dinâmica deverá ser beneficiada por um janeiro mais forte, com a Ômicron e a Influenza impulsionando as vendas de testes e OTC. Vale lembrar, no entanto, que estamos diante de uma base de comparação muito forte para os testes de coronavírus. Ao estimarmos a margem bruta da Raia Drogasil, precisamos levar em consideração o aumento do AVP (ajuste a valor presente), que deverá beneficiar a margem da companhia em função do incremento nas taxas de juros na variação entre contas a pagar e contas a receber".
Espera-se, assim, um crescimento de 6 pontos-base na margem bruta, ante 1º trimestre de 2021, atingindo 28,1%.
Caminhando para as despesas operacionais, os números de SG&A devem pressionar fortemente a margem EBITDA, principalmente ao considerarmos o reajuste dos contratos de aluguel e as despesas com novas iniciativas do grupo.
"Em nossa estimativa, a margem EBITDA deve cair 150 pontos base a/a, para 8,6% neste trimestre. Se por um lado o aumento da AVP beneficiou a margem bruta, do outro lado ele vai pesar sobre a última linha do balanço: a margem líquida. Com uma Selic estruturalmente maior, esperamos uma margem líquida de 2% nesse 1º trimestre de 2022".