Projeções

Recessão e juros altos: a economia global passará por uma "ressaca", avalia Caio Megale, da XP

Economista-chefe da corretora estima que o prazo para que isso aconteça deve ser o segundo semestre

- Marcello Casal Jr./Agência Brasil
- Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Por Jessica Bahia Melo, da Investing.com –  Enquanto eleições trazem volatilidade e incerteza, o Brasil também não deve escapar da “ressaca global” na economia, segundo Caio Megale, economista-chefe da XP (SA:XPBR31).

Em palestra na manhã desta segunda-feira (23), durante o Congresso Catarinense de Rádio e TV, promovido pela Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão (ACAERT),

Megale disse que, provavelmente, o mundo vai entrar em recessão no segundo semestre.

“Ressaca vem depois de um exagero. A quantidade de volume [de dinheiro] que foi transferido do setor público para o privado gerou muita demanda. A ressaca é muito incômoda, mas não é grave”, compara o economista.

De acordo com Megale, a economia global vai passar por recessão e enfrentará juros mais altos, mas após uma “pisada no freio mais forte”.

Para ele, o momento é desafiador, mas já passamos por situações piores, como a Crise de 2008, quando o problema era no “coração da economia mundial”, como se “o motor do carro estivesse fundindo”. Dessa vez, as dívidas dos governos subiram moderadamente e  as taxas de juros ainda estão baixas.

Disparada nas commodities 

O economista detalha que, aos primeiros olhares, a pandemia teria como primeiros impactos a recessão e deflação. Preços de commodities chegaram a despencar cerca de 20%, mas o cenário foi revertido pelo volume forte de recursos transferidos por meio de pacotes de apoio, tecnologias que possibilitaram o funcionamento de diversas atividades, e a chegada da vacina.

Com esses estímulos, as commodities, que haviam caído, voltaram a subir. Para completar, problemas de logística fizeram com que faltasse aço, chips, entre outros insumos. O processo inflacionário continuou em 2021, quando as políticas de apoio foram redobradas.

Megale explica que, depois disso, os países decidiram que era a hora de pisar no freio. Mas, após um período de acomodação das commodities, veio a guerra na Ucrânia. Como Rússia e Ucrânia são grandes produtores de diversas commodities, entre elas petróleo e trigo, houve uma disparada nos preços. Os preços de trigo, por exemplo, subiram 50% desde início do ano.  

Com Rússia em guerra e sanções comerciais, os preços do petróleo foram às alturas. O choque de commodities intensificou problema da inflação e novos lockdowns na China fazem com que a economia desacelere, intensificando problema de falta de insumos – o que gera mais impacto na inflação.

O FMI e o PIB brasileiro

Com a continuidade da guerra na Ucrânia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou para baixo as previsões de crescimento dos países, mas elevou a do Brasil de 0,3% para 0,8% em 2022. Para 2023, a instituição estima alta do Produto Interno Bruto (PIB) em 1,4%.

Megale afirma que isso ocorreu por três fatores. O primeiro é a forma de lidar com a pandemia, com vacinação ampla, o que possibilitou uma reativação da economia.

Além disso, o impulso das commodities beneficia o país. Grãos, minério e petróleo em alta trazem renda para o Brasil. As regiões mais ligadas ao agronegócio e extração mineral voltam a gerar renda e atividade econômica, devido à estreita correlação do PIB brasileiro com preços de commodities.

Ainda, o Brasil esteve na frente quanto a movimentos de alta nas taxas de juros. Como o Banco Central iniciou o aperto monetário (Selic) com antecedência em relação a outros países, é provável que a inflação caia gradativamente no segundo semestre, conforme disse o economista, que também destaca os efeitos de uma possível estabilização do dólar entre R$ 4,5 e R$ 5 para amenizar a alta inflacionária.

“[Nesse patamar] estaria mais perto de seus pares e tende a ter perspectivas mais estáveis”, completa.

Mercado e eleições

Para Megale, o mercado financeiro vai preferir a plataforma de governo que apresentar melhores perspectivas de equilíbrio de curto prazo em inflação e dívida pública, além de perspectivas de crescimento de longo prazo por meio de reformas econômicas.

Para crescer, seria preciso focar nas reformas tributária, administrativa e em marcos legais, como foi o caso no saneamento, na opinião do especialista.

A XP estima crescimento do PIB de 1,6% em 2022, inflação de 9,2%, Selic de 13,75% ao final do ano e dólar em R$5.