Na terça-feira (13), o BTG Pactual (BPAC11) publicou um relatório em que discutia possíveis implicações de uma reforma tributária no País.
Entre as várias propostas possíveis, uma das saídas pode ser o fim da desoneração gerada pelo pagamento de juros sobre capital próprio (JCP).
Na cobertura do banco de investimentos, a Ambev (ABEV3) se destaca como a companhia que poderia sofrer um dos maiores impactos nos resultados e no retorno aos acionistas caso a medida seja aprovada.
Desde 2014, a Ambev economizou, em média, R$ 2 bilhões por ano em impostos de renda (IR) devido à maior distribuição de JCP – patamar superior aos R$ 486 milhões por ano dos cinco anos anteriores e possibilitada pela unificação das classes de ações e o correspondente aumento da base de capital, pontuaram os analistas Thiago Duarte, Henrique Brustolin e Bruno Lima.
Nos últimos três anos, o benefício fiscal aumentou para uma média de R$ 2,4 bilhões por ano, e os analistas projetam uma economia de R$ 3,4 bilhões neste ano (25% do lucro de 2022E).
Caso a estrutura atual permaneça, Duarte, Brustolin e Lima calculam que a Ambev poderia continuar com a economia de R$ 3 bilhões por ano em imposto de renda (IR), desde que continue a pagar aproximadamente 100% dos lucros e fluxos de caixa daqui para frente.
Nas contas do BTG Pactual, isso representa um fluxo de pagamentos com VPL de R$ 41,7 bilhões, ou cerca de 17,0% do valor de mercado da companhia.
Analistas pontuam que se uma reforma tributária for efetivamente votada no próximo ano (com vigência em 2024), veem como improvável que o texto não inclua tais termos.
Outros itens, como tributação de dividendos, também podem ser considerados e também seriam negativos para os acionistas da Ambev, muitos dos quais acreditam ver ação como um investimento bond-proxy .
De pronto, notam que nenhuma proposta oficial foi feita ainda pelo governo eleito e que outros fatores, como a redução do imposto de renda corporativo, podem ajudar a mitigar o impacto no valor do acionista da Ambev.
Negociadas a 19x P/L 2023E, as ações da Ambev já negociam com prêmio vs. seus pares globais e esse múltiplo relativo pode ficar ainda mais caro, a depender do impacto final de uma possível reforma tributária.
Embora o melhor momento de resultados da Ambev este ano, juntamente com as perspectivas promissoras de expansão da margem em 2023-2024 tenham sustentado o preço das ações em tempos voláteis, o valuation tem sido um empecilho para um desempenho mais forte das ações da Ambev, destacam os analistas do BTG Pactual.
Eles reiteraram recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 16,00.