O que esperar?

Relatório XP: Brasil pode continuar descolado dos mercados globais?

Com a discussão de altas de juros e preços mais elevados de commodities, o índice Ibovespa deve continuar a ser favorecido, aponta relatório. Além disso, XP destaca o Valuation da Bolsa brasileira, que segue barata

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Fevereiro terminou como mais mais um mês volátil para os mercados globais, dessa vez, com a intensificação das tensões entre a Rússia e a Ucrânia tomando o centro das atenções. Porém, conforme relatório da XP, com a discussão de altas de juros e preços mais altos de commodities, o índice Ibovespa deve continuar a ser favorecido.

O relatório publicado por Fernando Ferreira, estrategista chefe e head do Research; Jennie Li, estrategista de Ações, e Rebecca Nossig, analista de Estratégia de Ações, aponta que os setores financeiro e commodities respondem por 80% dos lucros do Ibovespa em 2022, e, atualmente, têm um peso de 62% dentro do índice.

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"Mantemos nosso preço-alvo do Ibovespa em 123.000 para o final de 2022. Embora os lucros do consenso mostrem sinais claros de ganhos acima do esperado, notamos que as taxas de juros reais no Brasil continuaram a subir. Essa combinação de taxas mais altas e lucros mais altos estão se compensando neste momento. Para ver um potencial de alta no valor justo do Ibovespa, precisaríamos de: estimativas de lucros de consenso subindo, e/ou expansão de múltiplos, que pode vir de aumento de de fluxo de capital, bem como de juros reais mais baixos".

Análise

Segundo a XP, os mercados globais já estavam fragilizados em 2022 com uma inflação mais persistente e uma alta nos preços das commodities. E esse cenário já vinha forçando os bancos centrais de mercado desenvolvidos a mudar sua postura extremamente frouxa de política monetária.

"Agora, essa guerra se materializando na Europa tem levado a um aumento do sentimento de aversão ao risco, e mercados entraram num movimento de risk off", avaliam os especialistas da XP.

Esse clássico movimento de redução de risco significa que ativos de risco sofrem mais, como ações e criptos, enquanto investidores buscam por porto-seguros e ativos que podem proteger suas carteiras, como as commodities e títulos de dívida soberanos.

Em fevereiro, as ações globais, medido pelo MSCI ACWI, caíram 4,9%, enquanto o Nasdaq recuou 5,4% entrando oficialmente no chamado bear market – quando há uma queda de mais de 20% desde a última alta. O S&P 500, por sua vez, caiu 15% desde a última alta e entrou em território de correção.

No Brasil, o índice Ibovespa caiu -0,7% em reais, mas teve um desempenho acima dos mercados globais por conta de ainda um fluxo forte de investidores estrangeiros. O Real continuou a se fortalecer frente ao Dólar, levando o índice brasileiro a ter um retorno de 2,6% em dólares, e sendo a melhor moeda dentre as moedas emergentes até agora em 2022.

"Em um cenário de tensões geopolíticas elevadas, os preços das commodities tendem a subir ainda mais, o que tem favorecido os países exportadores de commodities e suas Bolsas de Valores. Como já falamos antes, a Bolsa brasileira está fortemente exposta a esses setores, que atualmente são favorecidos por investidores globais", afirma o relatório.

No entanto, os especialistas ressaltam que é importante frisar que em um momento de maior estresse, pode ocorrer a migração de investidores estrangeiros para ativos mais seguros, como dólar, ouro e títulos do Tesouro.

"Mas, esse movimento não significa necessariamente a saída de recursos do Brasil, pois, como as commodities continuam fortes, os investidores podem preferir deixar os Mercados Emergentes que não são tão atrelados às commodities, por exemplo".

Valuation

A XP continua vendo as ações brasileiras sendo negociadas em níveis atrativos de valuation, em Preço/Lucro (P/L) projetado de 8,0x, um desconto de 30% em relação à média dos últimos 15 anos em 11,3x.

"Além disso, vemos riscos de alta para o lucros do Brasil, o que pode fazer as ações brasileiras parecerem ainda mais baratas. Se as expectativas de lucros para 2022 aumentarem em 10%, o P/L estaria mais próximo de 7x. Olhando para os diferentes setores, vemos que alguns negociam a múltiplos mais baratos ou caros em relação às suas próprias médias históricas. Vemos que os setores de Tecnologia, Saúde, Consumo Discricionário e Indústria negociam com o Preço/Lucro acima dos últimos anos, enquanto Materiais e Energia – as commodities – estão abaixo, ou seja, negociam em patamares bastante atrativos".